segunda-feira, 4 de março de 2019

Literatura - 3o ano com exercício


O Pré-Modernismo
A literatura brasileira atravessa um período de transição nas primeiras décadas do século XX. De um lado, ainda há a influência das tendências artísticas da segunda metade do século XIX; de outro, já começa a ser preparada a grande renovação modernista, que se inicia em 1922, com a Semana de Arte Moderna. A este período de transição, que não chegou a constituir um movimento literário, chamou-se Pré-Modernismo.
Uma vez não se tratando de um estilo de época, com características definidas, o pré-modernismo apresenta individualidades bastante acentuadas, com estilos, às vezes, antagônicos, não havendo, portanto, um padrão, mas sim alguns pontos comuns, como por exemplo, a ruptura com o passado e a denúncia da realidade brasileira(o Brasil não oficial do sertão nordestino e dos subúrbios).

CANUDOS: miséria, fanatismo e violência

A guerra de canudos(1896 - 1897) foi um dos conflitos mais violentos da história brasileira, ocasionando a morte de 15 mil pessoas, entre sertanejos e militares.
O Nordeste brasileiro vivia, nas últimas décadas do século XIX, uma de suas piores crises econômicas e sociais, o que provocou a morte de milhares de pessoas, vitimadas, principalmente, pela seca.
Canudos era, inicialmente, uma fazenda abandonada, no sertão da Bahia, na qual se instalou o fanático religioso Antônio Maciel, conhecido como Conselheiro. Em pouco tempo, em torno do líder religioso, formou-se uma cidade de pessoas miseráveis e abandonadas à própria sorte. A cidade, que passou a chamar-se Belo Monte, chegou a contar com cerca de 15 a 25 mil habitantes, sendo superada apenas por Salvador.
Isolados, alheios a pagamentos de impostos e à oficialização da cidade junto ao Estado, logo o povoado passou a Ter problemas com a igreja e com as leis locais, o que gerou o conflito.
Além disso, os sermões de Conselheiro não tratavam apenas da salvação das almas, mas também de problemas concretos, como a miséria e a opressão política. Talvez sem ter completa clareza do que falava, Conselheiro fazia críticas à República nascente, acusando-a de responsável pela condição do povo nordestino. Em todo o país, o movimento foi identificado como monarquista e considerado uma ameaça à soberania nacional, sem que suas verdadeiras causas fossem discutidas.

Adotando o modelo determinista, segundo o qual o meio determina o homem, a obra organiza-se em três partes:


A terra: condições geográficas do sertão.
O homem: descrição dos costumes do sertanejo.
A luta: descrição dos ataques a Canudos até a sua extinção.


Enviado, em 1897, como correspondente , pelo jornal O Estado de São Paulo, ao sertão da Bahia para cobrir a guerra de Canudos, Euclides da Cunha(1866-1909), ex-militar, coloca-se, nitidamente, a favor do sertanejo, situando o fenômeno de Canudos como um problema social, decorrente do isolamento político e econômico do Nordeste em relação ao resto do país. Assim, desmistificou a versão oficial do Exército, segundo a qual o movimento pretendia atacar a República.

FRAGMENTOS DE OS SERTÕES

TEXTO 1: descrição da caatinga.


"Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.
Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante..."

TEXTO 2: descrição do sertanejo.


"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. [...] Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores da vida sertaneja - caracterizado sempre pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas."

TEXTO 3: a guerra e seu significado.


"Decididamente era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e
digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda tenaz, contínua e persistente, visando trazer para o nosso tempo e incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários."

Exercícios

1. Com base no texto 1, como se caracteriza a natureza onde vive o sertanejo?

2. De acordo com o texto 2, o sertanejo mostra-se contraditório. Por quê?

3. No texto 3, o autor critica a guerra em si. Afirma que "outra guerra mais demorada e digna" deveria ser travada. Qual é essa guerra?

4. O relato de Euclides da Cunha revela influências da ciência da época e, ao mesmo tempo, o desejo de chegar à verdade dos fatos.

a) Destaque do texto 2 um trecho que comprove as influências de teorias raciais existentes no começo do século XX.

b) Por que se pode afirmar que a estrutura da obra, dividida em três partes, prende-se aos pressupostos naturalistas de análise do comportamento humano?

c) Euclides não aceita a versão oficial do Exército, segundo a qual Canudos era um foco monarquista. Concluindo: na visão do autor, quais são as causas desse fenômeno social?

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA: entre o ideal e o real.

Esse é o principal romance de Lima Barreto(1881 - 1922). Contextualizada no final do século XIX, no Rio de Janeiro, a obra narra os ideais e a frustração do funcionário público Policarpo Quaresma, homem metódico e nacionalista fanático.
Sonhador e ingênuo, Policarpo dedica a vida a estudar as riquezas do país: a cultura popular, a fauna, a flora, os rios, etc.. Sua primeira decepção se dá quando sugere a substituição do português, como língua oficial, pelo tupi. O resultado é sua internação em um hospício.
Aposentado, dedica-se à agricultura no sítio Sossego, acreditando na fertilidade do solo brasileiro. Contudo, depara-se com uma dura realidade até então desconhecida: a esterilidade do solo, o ataque das saúvas, a falta de apoio ao pequeno agricultor.
Por fim, com a eclosão da Revolta da Armada, no rio de Janeiro, Quaresma apóia o então presidente, Marechal Floriano Peixoto, e como voluntário, participa do conflito. Assumindo o cargo de carcereiro, critica as injustiças que vê serem praticadas contra os prisioneiros. Como consequência, é preso e condenado ao fuzilamento por ordem do próprio Floriano, seu ídolo.

Além da descrição política do país nesse início de República, a obra traça um rico painel social e humano dos subúrbios cariocas na virada do século. Aposentados, profissionais liberais, moças casadoiras, carreiristas, músicos, donas de casa, o mulato - esse é o universo retratado por Lima Barreto. Destacam-se, nesse conjunto, as personagens Ismênia, moça formada para o casamento, que enlouquece quando abandonada pelo noivo; Olga, sobrinha de Policarpo, que difere da maioria das mulheres por ser mais independente; e o violonista e cantor de modinhas, amigo de Policarpo, Ricardo Coração-dos-Outros.
Nesta obra, Lima Barreto critica a mania de salvação nacional dos militares, sempre ansiosos para intervir na política, impondo soluções milagrosas; a educação recebida pelas mulheres, voltada exclusivamente para o casamento e a proibição do voto feminino.


MONTEIRO LOBATO(1882 - 1948): o moderno antimodernista.

Foi um dos escritores brasileiros de maior prestígio, graças a sua atuação como intelectual polêmico e autor de histórias infantis.
Sua ação, além do círculo literário, estende-se também ao plano da luta política e social. Moralista e doutrinador, aspirava ao progresso material e mental do povo brasileiro. Com sua personagem Jeca Tatu, por exemplo - um típico caipira acomodado e miserável do interior paulista - Lobato critica a face de um Brasil agrário, atrasado e ignorante, cheio de vícios e vermes. Seu ideal de país era um Brasil moderno, estimulado pela ciência e pelo progresso.
Com a publicação de O Escândalo do Petróleo(1936) denuncia o jogo de interesses que envolve a extração do petróleo e o envolvimento das autoridades brasileiras com os interesses internacionais. Em 1941, já durante a ditadura de Vargas, foi preso por ataques ao governo, provocando uma grande comoção no país inteiro.
Escritor sem qualquer pretensão de promover renovação psicológica ou estética, Lobato foi, antes de tudo, um contador de histórias, de casos interessantes, preso, ainda, a certos modelos realistas. Dono de um estilo cuidadoso, não perdeu a oportunidade de criticar certos hábitos brasileiros, como a cópia de modelos estrangeiros, nossa subserviência ao capitalismo internacional, o carneirismo das massas eleitorais, o nacionalismo ufanista e cego, etc...
Apesar de sua abertura ideológica, do ponto de vista artístico mostrou-se conservador quando começaram a surgir as primeiras manifestações modernistas em São Paulo.
Além de ter escrito literatura "adulta", Lobato foi também um dos primeiros autores de literatura infantil em nosso país e em toda a América Latina.
Especialistas em educação infantil, todavia, vêem, hoje, com reservas, alguns dos valores transmitidos pela literatura infantil de Lobato, como é o caso do enfoque dado às personagens negras.

AUGUSTO DOS ANJOS: o átomo e o cosmos.

Como poeta, sua obra é de grande originalidade. Considerado por alguns como poeta simbolista, Augusto dos Anjos (1884 - 1914) apresenta, na verdade, uma experiência única na literatura universal: a união do Simbolismo com o cientificismo naturalista. Por isso, dado o caráter sincrético de sua poesia, convém situá-lo entre o grupo pré-modernista.
Os poemas de sua única obra, EU(1912), chocam pela agressividade do vocabulário e pela visão dramaticamente angustiante da matéria, da vida e do cosmos. Integram a linguagem termos até então considerados antipoéticos, como escarro, verme, germe. Os temas são, igualmente, inquietantes: a prostituta, as substâncias químicas que compõem o corpo humano, a decrepitude dos cadáveres, os vermes, o sêmen.
Além dessa "camada científica"de sua poesia, verifica-se, por outro lado, a dor de ser dos simbolistas, a poesia de anseios e angústias existenciais.
Para o poeta não há Deus nem esperança; há apenas a supremacia da ciência. Quanto ao homem, as substâncias e energias do universo que o geraram e a matéria de que ele é feito (carne, sangue, instinto, células), tudo, fatalmente, se arrasta para a podridão e para a decomposição, para o mal e para o nada.


TEXTO 01: Versos Íntimos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão – esta pantera
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedrej

Se a alguém causa inda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


TEXTO 02: Psicologia de um Vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde o epigênesis da infância,
A influência má dos signos do Zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!


TEXTO 03: Pátria que me Pariu - Gabriel O Pensador


Uma prostituta chamada Brasil se esqueceu de tomar a pílula e a barriga cresceu
Um bebê não estava nos planos dessa pobre meretriz de dezessete anos
Um aborto era uma fortuna e ela sem dinheiro
Teve que tentar fazer um aborto caseiro
Tomou remédio, tomou cachaça, tomou purgante
Mas a gravidez era cada vez mais flagrante / Aquele filho era pior que uma lumbriga
E ela pediu prum mendigo esmurrar sua barriga
E a cada chute que levava o moleque revidava lá de dentro
Aprendeu a ser um feto violento / Um feto forte, escapou da morte
Não se sabe se foi muito azar ou muita sorte
Mas nove meses depois foi encontrado, com fome e com frio,
Abandonado num terreno baldio
Pátria que me pariu!
Quem foi a pátria que me pariu?!
A criança é a cara dos pais mas não tem pai nem mãe
Então qual é a cara da criança? / A cara do perdão ou da vingança?
Será a cara do desespero ou da esperança?
Num futuro melhor, um emprego, um lar...
Sinal vermelho, não dá tempo pra sonhar vendendo bala, chiclete...
"Num fecha o vidro que eu num sou pivete
Eu num vou virar ladrão se você me der um leite, um pão, um vídeo-game e uma televisão / Uma chuteira e uma camisa do Mengão
Pra eu jogar na seleção, que nem o Ronaldinho / Vou pra Copa, vou pra Europa..."
Coitadinho! Acorda, moleque! Cê num tem futuro! Seu time não tem nada a perder
E o jogo é duro! Você num tem defesa, então ataca!
Pra num sair de maca / Chega de bancar o babaca!
"Eu num aguento mais dar murro em ponta de faca
E tudo que eu tenho é uma faca na mão / Agora eu quero o queijo. / Cadê?
Tô cansado de apanhar, / Tá na hora de bater!"
Pátria que me pariu!
Quem foi a pátria que me pariu?!
Mostra a tua cara, moleque!
Devia tá na escola / Mas tá cheirando cola, fumando um beck,
Vendendo brizola e crack
Nunca joga bola mas tá sempre no ataque / Pistola na mão, moleque sangue-bom
É melhor correr porque lá vem o camburão
É matar ou morrer! / São quatro contra um! ( - Eu me rendo!!)
Bum! Clá-clá! Bum! Bum! Bum!
Boi, boi, boi da cara preta / Pega essa criança com um tiro de escopeta
Calibre doze, na cara do Brasil
Idade: catorze; estado civil: morto;
Demorou, mas a sua pátria mãe gentil conseguiu realizar o aborto.

Exercícios


Responda as questões de 1 a 3 , considerando o texto 2.


1. A linguagem do poema surpreende e modifica uma tradição poética brasileira, constituída em grande parte com base em sentimentalismos, delicadezas, sonhos e fantasias.

a) Destaque do texto vocábulos empregados poeticamente por Augusto dos anjos que tradicionalmente seriam considerados antipoéticos.

b) Indique de que área do conhecimento humano provêm esses vocábulos.

2. O poema pode ser dividido em duas partes: a primeira, que trata do próprio eu lírico, e a segunda, que trata da morte.

a) Como o eu lírico encara a vida e a si mesmo, nas duas primeiras estrofes?

b) Com que enfoque a morte é tratada, nas duas últimas estrofes?

3. O título é uma espécie de síntese das idéias do poema. Justifique-o.

4. Vamos fazer uma análise crítica levando em consideração a história de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto e o enredo de Pátria Que Me Pariu, de Gabriel O Pensador.

5. Identifique o poeta de preocupação filosófica e científica em cuja obra aparecem expressões do tipo: herança miserável de micróbios, cuspo afrodisíaco, fotosferas mórbidas, anatômica desordem, intracefálica tortura, microorganismos fúnebres..: ______________________.

6. Leia atentamente o texto abaixo, de Euclides da Cunha:
“Isoladas a princípio, estas turmas adunavam-se pelos caminhos, aliando-se a outras, chegando, afinal, conjuntas a Canudos. O arraial crescia vertiginosamente, coalhando as colinas.
A edificação rudimentar permitia à multidão sem lares fazer até doze casas por dia; - e, à medida que se formava, a tapera colossal parecia estereografar a feição moral da sociedade ali acoutada. Era a objetivação daquela insânia imensa. Documento iniludível permitindo o corpo de delito direto sobre os desmandos de um povo.
Aquilo se fazia a esmo, adoudadamente.
A urbs monstruosa, de barro, definia bem a civitas sinistra do erro. O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelos cômoros, atulhando as canhadas, cobrindo área enorme, truncado nas quebradas, revolto nos pendores – tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto.”

a) Por uma questão de estilo, o autor refere-se a Canudos empregando diversos termos sinonímicos. Cite quatro desses termos.

b) O texto de Euclides da Cunha foi extraído de sua obra-prima. Cite o título dessa obra.

c) Diga o gênero em que ela se enquadra(romance, ensaio, conto ou poema épico).

d) O núcleo da referida obra são os acontecimentos de Canudos. Diga, em síntese, o que ocorreu ali.

e) Quem era o chefe místico de Canudos?

7. Na figura de _____, Monteiro Lobato criou o símbolo do brasileiro abandonado ao seu atraso e à sua miséria pelos poderes públicos.


a) O Cabeleira b) Jeca Tatu c) João Miramar d) Augusto Matraga

8. A obra pré-modernista de Euclides da Cunha situa-se entre a __ e a ___
a) História – Psicologia
b) Geografia – Economia
c) Arte - Filosofia
d) Literatura – Sociologia
e) Teologia – Geologia

9. Criador da literatura infantil brasileira e criticado por seu agnosticismo, pois era influenciado pelo evolucionismo, positivismo e materialismo de fins do século XIX.
a) Monteiro Lobato
b) Jorge de Lima
c) Rui Barbosa
d) José Lins do Rego

10. “Triste a escutar, pancada por pancada.
A sucessividade dos segundos,
Ouço em sons subterrâneos, do orbe oriundos,
O choro da energia abandonada.”

A crítica reconhece na poesia de Augusto dos Anjos, como exemplifica a estrofe acima, a forte presença de uma dimensão:
a) niilista
b) patológica
c) cósmica
d) estética
e) metafísica


11. “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto é:
a) um livro de memórias em que a personagem-título, através de um artifício narrativo, conta as atribulações de sua vida até a hora da morte.
b) a história de um visionário e nacionalista fanático que busca, ingenuamente, resolver sozinho os males sociais de seu tempo.
c) uma autobiografia, em que o autor, sob a capa da personagem-título, expõe sua insatisfação em relação à burocracia carioca.
d) o relato das aventuras de um nacionalista ingênuo e fanático que lidera um grupo de oposição no início dos tempos republicanos.
e) o retrato da vida e morte de um humilde burocrata, conformado, a contragosto, com a realidade social de seu tempo.

12. Uma atitude comum caracteriza a postura literária de autores pré-modernistas, a exemplo de Lima Barreto, Graça aranha, Monteiro Lobato e Euclides da cunha. Pode ela ser definida como:
a) A necessidade de superar, em termos de um programa definido, as estéticas românticas e realistas.
b) A pretensão de dar um caráter definitivamente brasileiro à nossa literatura, que julgavam por demais europeizada.
c) Uma preocupação com o estudo e com a observação da realidade brasileira.
d) A necessidade de fazer crítica social, já que o Realismo havia sido ineficaz nessa matéria.
e) O aproveitamento estético do que havia de melhor na herança literária brasileira, desde suas primeiras manifestações.


Os Movimentos Europeus de Vanguarda

A ruptura com o passado e a pesquisa de novos meios de expressão são marcas registradas da arte no início do século XX. A ânsia de buscar novos caminhos explica o aparecimento de vários movimentos, principalmente nas artes plásticas e na literatura.

Cubismo
Teve início na França, em 1907( foi cultivado até 1918), com o pintor espanhol Pablo Picasso e com o poeta Apollinaire, havendo, no grupo, um intenso convívio entre escritores e artistas plásticos, o que estimulou uma intensa troca de idéias e técnicas.
Na Pintura: oposição à objetividade e à linearidade da arte realista e da renascentista e decomposição dos objetos representados em diferentes planos geométricos e ângulos retos.
Principal pintor brasileiro: Ismael Neri.
Na Literatura: fragmetação da realidade; superposição e simultaneidade de planos(mistura de assuntos, espaços e tempos diferentes); ilogismo; humor; antiintelectualismo; linguagem mais ou menos caótica, com poucos verbos; invenção de palavras; destruição da sintaxe já condenada pelo uso; substantivos soltos; menosprezo dos verbos, adjetivos e da pontuação; negação da estrofe, da rima e da harmonia; valorização da impressão tipográfica, o que influenciou a nossa poesia concreta dos anos 60.

Certos traços do movimento cubista são observados no texto a seguir, de Oswald de Andrade(modernista da década de 20):


HÍPICA

Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails

Futurismo


Muito mais do que por obras, o movimento difunde-se (a partir de 1909, na França)
por meio de manifestos(mais de trinta) e conferências, tendo sempre à frente a figura de seu líder, Filippo Tommasio Marinetti.


Principais propostas do manifesto de 1909:


· Os elementos essenciais da nossa poesia serão a coragem, a audácia e a revolta;
· Tendo a literatura até aqui enaltecido a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono, nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo ginástico, o salto mortal, a bofetada e o soco;
· Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destrutor dos anarquistas, as belas idéias que matam e o menosprezo à mulher;
· Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas; combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias.

Principais propostas do manifesto técnico de 1912: Destruição da sintaxe; disposição das palavras em liberdade; emprego de verbos no infinitivo; abolição dos adjetivos e dos advérbios; substantivo duplo em lugar de substantivo acompanhado por adjetivo(praça-funil, mulher-golfo, etc...); abolição da pontuação, substituída por sinais matemáticos e musicais.

Na pintura, as telas futuristas apresentam elementos que sugerem a velocidade e o mecanicismo da vida moderna.
Na literatura, as propostas técnicas do Futurismo são encontradas na maior parte da produção dos escritores dos anos 20, como é o caso do texto abaixo, de Mário de Andrade.

O Futurismo italiano e os fascistasAlgumas idéias do futurismo italiano, como o menosprezo à mulher e a exaltação da guerra(considerada um meio para "limpar" o planeta, livrando-o dos mais fracos) anteciparam, ideologicamente, aquilo que seria o fascismo italiano, nas décadas de 30 e 40, quando Marinetti se aproxima de Mussolini e o futurismo passa a ser uma espécie de expressão artística do fascismo.

ODE AO BURGUÊS

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
É sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
.............................................................
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!

Ódio e insulto! Ódio e raiva!
Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
Cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo!
Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês.


Expressionismo
Surgiu em 1910, na Alemanha, a partir de um trabalho iniciado por Van Gogh(caricatura). Valoriza a materialização, numa tela ou numa folha de papel, de imagens nascidas no mundo interior do artista, ou seja, suas sensações no momento da criação, pouco importando os conceitos de belo e feio, mas sim a liberdade expressiva. Apresenta um enfoque contrário ao Impressionismo, que valoriza a impressão, ou seja, um movimento de fora para dentro, uma forma subjetiva de perceber a realidade
Durante e depois da Primeira Guerra, o expressionismo assumiu um caráter mais social e combativo, interessando-se pelos horrores da guerra e pelas condições de vida desumanas das populações carentes.
Na pintura expressionista brasileira, o principal nome é Anita Malfatti.

Principais propostas do expressionismo: A ate não é imitação, mas criação subjetiva, livre, é a expressão dos sentimentos; a realidade que circunda o artista é horrível, por isso ele a deforma ou a elimina, criando a arte abstrata; a razão se torna objeto de descrédito; a arte é criada sem obstáculos convencionais, o que representa um repúdio à repressão social.

Características do expressionismo na literatura:Linguagem fragmentada, elíptica, constituída por frases nominais (basicamente, aglomerados de substantivos e adjetivos), sem verbos e sem sujeito; despreocupação formal: sem rimas, sem estrofes, sem musicalidade; ideologicamente, os poetas expressionistas visam combater a fome, a inércia e os valores do mundo burguês.

DadaísmoCriado em 1916 por um grupo de refugiados de guerra, em Zurique, na Suíça, é o mais radical dos movimentos de vanguarda. A palavra dadá, escolhida ao acaso para batizar o movimento, nada significa. Os dadás entendem que, enquanto a Europa se banha de sangue, o cultivo da arte não passa de hipocrisia e presunção; por isso é preciso ridicularizá-la, agredi-la e destruí-la.

Muitas são as atitudes demolidoras dos artistas dadaístas: Noitadas em que predominavam palhaçadas, declamações absurdas, exposições inusitadas e a realização de espetáculos-relâmpagos que faziam de improviso nas ruas, em mio a urros, vaias, gritos, palavrões e à total incompreensão da platéia.
"Dadá permanece no quadro europeu das fraquezas; no fundo, é tudo merda, mas nós queremos doravante cagar em cores diferentes para ornar o jardim zoológico da arte de todas as bandeiras dos consulados."

"Que cada homem grite. Há um grande trabalho destrutivo, negativo , a executar. Varrer, limpar..."

Características dadaístas na literatura: Agressividade; improviso; desordem; rejeição a qualquer tipo de racionalização e equilíbrio; livre associação de palavras(escrita automática, técnica utilizada, mais tarde, pelo surrealismo); invenção de palavras com base na exploração apenas do seu significante; negação do passado, do presente e do futuro; falta de perspectiva diante da guerra; contra as teorias e as ordenanças lógicas; pouca importância ao leitor; contra os manifestos; valorização do grito e do urro contra o capitalismo burguês e a guerra.
Principais nomes: Tristan Tzara e André Breton. O desentendimento de ambos, após a guerra, quanto aos destinos do movimento, levou este último a criar o Surrealismo, uma das mais importantes correntes artísticas do século XX.



TEXTO 01:Poema Fonético:"Die Schlacht"- A Batalha - Ludwig Kassak


Berr... bum, bumbum, bum...
Ssi... bum, papapa bum, bumm
Zazzau... Dum, bum, bumbumbum
Prá, prá, prá...ra, hã-hã, aa...
Hahol...

TEXTO 02: Receita de Poema Dadaísta - Tristan Tzara

Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção
Algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que as palavras são tiradas do saco
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa,
Ainda que incompreendido do público.

Surrealismo
Teve início na França a partir da publicação do Manifesto do Surrealismo(1924), de André Breton. Diversos pintores aderem ao movimento, interessados nas propostas artísticas de Breton, ligadas ao subconsciente e à psicanálise (André Breton era psicanalista). Dois são os aspectos que marcam o Surrealismo em seu início: as experiências criadoras automáticas e o imaginário extraído do sonho.

O automatismo artístico consiste em extravasar diretamente os impulsos criadores do subconsciente, sem qualquer controle da razão ou do pensamento. Significa pôr na tela ou no papel os desejos interiores profundos, sem se importar com coerência, significados, adequação.
Principais características surrealistas: Ilogismo; devaneio; sonho; loucura; hipnose; humor negro; imagens violentas; impacto do inusitado.
No Brasil, vários escritores foram influenciados pelas idéias surrealistas: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Murilo Mendes e Jorge de Lima.


TEXTO 01: As Realidades (fábula), de Louis Aragon.

Era uma vez uma realidade
com suas ovelhas de lã real
a filha do rei passou por ali
E as ovelhas baliam que linda que está
A re a re a realidade.
Na noite era uma vez
uma realidade que sofria de insônia
Então chegava a madrinha fada
E realmente levava-a pela mão
a re a re a realidade.

No trono havia uma vez
um velho rei que se aborrecia
e pela noite perdia o seu manto
e por rainha puseram-lhe ao lado
a re a re a realidade

CAUDA: dade dade a reali
dade dade a realidade
A real a real
idade idade dá a reali
ali
a re a realidade
era uma vez a REALIDADE.


TEXTO 02: Pré-História - Murilo Mendes
Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,

Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.


O Modernismo

Pela diversidade e amplitude dos aspectos que compõem a arte moderna, torna-se muito difícil caracterizá-la com a mesma objetividade adotada para caracterizar movimentos(estilos de época) anteriores.

Na verdade, tanto na Europa quanto no Brasil, em vez de um movimento uniforme, o que houve no início do século foram correntes artísticas que se caracterizaram pela quebra dos valores artísticos tradicionais e pela busca de técnicas e meios de expressão capazes de traduzir a nova realidade do século XX.

No Brasil, a todas essas tendências chamou-se Modernismo, movimento equivalente ao Futurismo, para os italianos e ao Expressionismo, para os alemães.


A Semana de Arte Moderna: 1922.
Quando a Europa vivia seu último movimento de vanguarda, o Surrealismo, abriu-se ao público brasileiro o saguão do Teatro Municipal de São Paulo, nas noites de 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, para uma série de apresentações, onde vários artistas mostravam obras com uma nova linguagem afinada com as correntes estéticas do começo do século.

A Semana não foi apenas um movimento artístico, mas também político e social(pregava a tomada de consciência da realidade brasileira). Constituiu-se no “brado coletivo” do movimento modernista, já enraizado em várias obras, artigos e manifestos desde 1917.

O evento tornou-se possível graças ao apoio financeiro dos fazendeiros de café, uma contradição, já que um dos objetivos era “assustar a burguesia que cochila na glória de seus lucros.”


Texto 01: OS SAPOS – Manuel Bandeira
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
-“Meu pai foi à guerra”
- “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”

O meu verso é bom.
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
As formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...”

Urra o sapo-boi:
-“Meu pai foi rei!” – “Foi!”
-“Não foi! “ – “Foi!” – “Não foi!”
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- “A grande arte é como
Lavor de joalheiro. ..

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: -“Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

Ou bem de estatutário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
-“Sei!”- “Não sabe!”- “Sabe!”

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...

Texto 02: A Emoção Estética na Arte Moderna
Graça Aranha, na abertura da Semana


“Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje é uma aglomeração de ‘horrores’. Aquele Gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem invertida, se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros ‘horrores’ vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagante, mas transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do passado.”

Texto 03: Menotti del Picchia – na 2a noite do evento

“Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações obreiras, idealismos, motores, chaminé de fábricas, sangue, velocidade, sonho, na nossa Arte!”



REPERCUSSÃO DO EVENTO NA IMPRENSA DA ÉPOCA
“Foi como se esperava, um notável fracasso a récita de ontem na pomposa Semana de Arte Moderna, que melhor e mais acertadamente deveria chamar-se Semana de Mal – às Artes.” (Folha da Noite – 16.02.22)

“A Semana de Arte Moderna está para acabar. É pena, porque, com franqueza, se do ponto de vista artístico aquilo representa o definitivo fracasso da escola futurista, como divertimento foi insuportável.” (Jornal do Commercio – 18.02.22)

“As colunas da seção livre deste jornal estão à disposição de todos aqueles que, atacando a Semana de arte Moderna, defendam nosso patrimônio artístico.” (O Estado de São Paulo)


DIVULGAÇÃO DAS IDÉIAS DA SEMANA

A partir dos acontecimentos no Teatro Municipal, divulgados pela imprensa da época, as novas idéias encontraram adeptos por todo o país. Assim, no período de 1922 a 1930 (primeira fase do Modernismo no Brasil) difundiram-se, por nosso cenário cultural, diversos manifestos e grupos, além de diversas revistas:

· Manifesto da Poesia Pau-Brasil : “A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. - A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. – A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.”

· Manifesto Antropófago: “Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. – Tupy or nor tupy, that is the question. – Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto felicidade.”

· Manifesto Nhenguaçu Verde-Amarelo: “Aceitamos todas as instituições conservadoras, pois é dentro delas mesmas que faremos a inevitável renovação do Brasil, como o fez, através de quatro séculos, a alma da nossa gente, através de todas as expressões históricas. Nosso nacionalismo é verdamarelo e tupi.”

· Manifesto Regionalista de 1926: “Trabalhar em prol dos interesses da região (Nordeste) nos seus aspectos diversos: sociais, econômicos e culturais. – Desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste dentro dos novos valores modernistas.”

Primeira Fase do Modernismo Brasileiro(Poesia) : 1922 – 1930


Principais Características(forma e conteúdo):
1. Utilização do verso livre, desprezando-se, inclusive, a contagem silábica;
2. Livre associação de idéias, numa aparente falta de lógica;
3. Atitude combativa de oposição aos falsos valores: “Eu achava abomináveis as famílias das nossas relações.” (Oswald de Andrade)
4. Valorização de fatos e coisas do cotidiano: “Na feira livre do arrabaldezinho / Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor...” (Manuel Bandeira)
5. Humor, do qual resulta o chamado poema-piada: “Se Pedro Segundo / Vier aqui / Com história / Eu boto ele na cadeia.” (Oswald de Andrade)
6. Aproximação com a linguagem da prosa (coloquial): incorporação da fala brasileira à linguagem literária: “Vi a saída da lua / Tive um gesto singulá / Em frente da casa tua / São vortas que o mundo dá.” (Oswald de Andrade)
7. Incorporação do presente, do progresso, da máquina: “Os jornais / As grandes casas comerciais / Bondes / Tintinabulação de campainhas / Automóveis / Buzinas.” (Manuel Bandeira)

Principais Autores e Obras
1. Mário de Andrade(1893 – 1945);
2. Manuel Bandeira(1886 – 1968);
3. Cassiano Ricardo(1895 – 1975);
4. Oswald de Andrade: 1890 – 1954;
5. Alcântara Machado(1901 – 1935).

TEXTO 01: Descobrimento – Mário de Andrade

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da Rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.



TEXTO 02: Sampa – Caetano Veloso


Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas
ainda não havia para mim Rita Lee
a tua mais completa tradução
alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruza a Ipiranga e avenida São João
quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi de mau gosto o mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes quando não somos mutantes
e foste um difícil começo afasto o que não conheço
e quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende depressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso
do povo oprimido nas filas nas vilas favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas teus deuses da chuva
panaméricas de áfricas utópicas túmulo do samba
(mais possível novo quilombo de Zumbi)
e os novos baianos passeiam na tua garoa
e os novos baianos te podem curtir numa boa.


TEXTO 03: Vou-me Embora pra Pasárgada – Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do Rei
Lá tenho a mulher que quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
-Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.



TEXTO 04: flexas contra o muro – Cassiano Ricardo

Pra se poder viver
compra-se o mundo em que se vive.
Como quem compra um objeto secreto, mas visível.
Compram-se os seus problemas sem solução.
Quem nasce no mundo, hoje,
compra, sem o querer, uma pomba.
Com um alfinete feérico na cabeça
Uma pomba extremamente vizinha de bomba.
Uma e outra têm asas.
Uma e outra são limpas.
Ambas são irmãs pelo som.
Um simples equívoco
de fonemas ou de telefonemas
entre os dois hemisférios
uma troca de b por p
e o mundo explodirá em nossa mão.


TEXTO 05: Diversos, de Oswald de Andrade

PRONOMINAIS

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da nação brasileira .
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.


VÍCIO NA FALA

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.


AMOR
Humor


TEXTO 06: Brás, Bexiga e Barra Funda – Alcântara Machado

Do consórcio da gente imigrante com o ambiente,
do consórcio da gente imigrante com a indígena
nasceram os novos mamelucos.
Nasceram os italianinhos.
O Gaetaninho.
A Camela.
Brasileiros e paulistas. Até bandeirantes.
E o colosso continuou rolando.
No começo a arrogância indígena perguntou meio zangada:

Carcamano pé-de-chumbo
Calcanhar de frigideira
Quem te deu a confiança
De casar com brasileira?

O pé-de-chumbo poderia responder tirando o cachimbo
da boca e cuspindo de lado: A brasileira, per Bacco!

Mas não disse nada. Adaptou-se. Trabalhou. Integrou-se.
Prosperou.
E o negro violeiro cantou assim:

Italiano grita
Brasileiro fala
Viva o Brasil!
E a bandeira da Itália!


A Prosa da 1a Geração Modernista
Apresenta menos inovações que a poesia.

Principais autores: Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Alcântara Machado.

Principais características: emprego de períodos curtos; utilização da fala coloquial e aproximação com a linguagem da poesia.

AMAR, VERBO INTRANSITIVO – Mário de Andrade

É um romance que se aprofunda na estrutura familiar da burguesia paulistana. Segundo o próprio autor, “é um livro gordo de freudismo. Carlos não passa de um burguês chatíssimo do século passado.” O pai de Carlos, fazendeiro rico, no auge de suas excentricidades, resolve contratar uma governanta alemã, Fraulein, com a incubência de dar as primeiras lições de amor ao filho.

MACUNAÍMA, “o herói sem nenhum caráter” - Mário de Andrade

É uma obra voltada para o folclore brasileiro, uma tentativa de traçar um panorama do Brasil e do homem brasileiro. Acumula inúmeras lendas, provérbios, superstições, ditos populares, etc., montando um enorme mosaico da cultura brasileira.
A narrativa é iniciada com o nascimento de Macunaíma, na tribo dos Tapanhumas. Feio, pequeno, negro, preguiçoso, Macunaíma nada tem em comum com os heróis das histórias tradicionais. Sem caráter, mente para os irmãos, mata a mãe e parte pelo mundo afora, abandonando sua tribo. Conhece Ci, a mãe do mato, com quem se casa. Ci morre e Macunaíma recomeça sua viagem, levando consigo um amuleto que ela lhe dera: o Muiraquitã. Perde o amuleto, que é encontrado pelo gigante Piaimã, transformado no respeitável Venceslau Pietro Pietra, habitante de São Paulo. Macunaíma vai a São Paulo tentar recuperar o amuleto, devendo para isso derrotar o gigante – misto de canibal, colonizador e imigrante. Influenciado pela metrópole, Macunaíma descaracteriza-se, perdendo a ligação com suas raízes. Derrota Piaimã, recupera o amuleto, mas logo o perde novamente. Ao retornar à selva, sua tribo não existe mais e Macunaíma, solitário, sobe aos céus, transformando-se na Constelação da Ursa Maior



Exercícios (questões de vestibulares)

1. Antônio de Alcântara Machado é um autor singular no contexto modernista da primeira geração. Assinale a alternativa falsa em relação a ele.
a) Foi o maior “retratista” dos bairros italianos da cidade de São Paulo, no início do século.
b) Sua prosa, como a de Oswald de Andrade, possui um caráter experimental com os flashes cinematográficos, as elipses, etc., porém é uma obra bastante comunicativa e espontânea.
c) Seu tema de interesse são os imigrantes italianos, particularmente os mais abastados, que se dedicaram ao comércio e à indústria.
d) Seu livro mais conhecido é Brás, Bexiga e Barra Funda.
e) Foi participante da Revista de antropofagia.

2. O título da obra Macunaíma é especificado com “Herói sem nenhum caráter”. A alternativa que não é verdadeira em relação à especificação é:
a) O caráter do herói é ele não ter caráter definido.
b) O protagonista assume várias esferas de ação, daí ser simultaneamente herói e anti-herói.
c) A fragilidade de caráter do protagonista faz com que este perca, no decorrer da obra, sua característica de herói.
d) O herói se configura com suas qualidades paradoxais: ele é ao mesmo tempo preguiçoso e esperto, irreverente e simpático, valente e covarde.
e) O caráter do herói é contraditório, pois ele se caracteriza como um “sonso-sabido”.
3. Assinale o que for errado quanto ao Modernismo.
a) Nele tudo cabe, até o poema-piada.
b) A brasilidade foi um traço marcante.
c) Apesar de Manuel Bandeira defender o verso livre, muitos modernistas poetaram em versos rigorosamente metrificados.
d) Foi um movimento exclusivamente literário e exclusivamente de poetas, por isso Monteiro Lobato o repudiou.
e) A narrativa procura ser documental.

4. Assinale a alternativa correta. Esta questão tem, como base, a seguinte afirmação: “Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.”
a) São Palavras de Gonçalves Dias, em defesa do índio brasileiro.
b) Foi escrita por José de Alencar, no prefácio de Iracema.
c) São Palavras de Mário de Andrade, que mostram a necessidade de incorporar valores estrangeiros à cultura brasileira.
d) Foi escrita por Oswald de Andrade no Manifesto Antropófago.
e) Refere-se à deglutição do bispo Sardinha.

A Segunda Geração Modernista : 1930 – 1945

A segunda geração modernista brasileira recebeu como herança todas as conquistas da primeira. Foi um período bastante fértil quanto a produção literária (poesia e prosa).
A par das pesquisas estéticas, a segunda geração amplia seu universo temático, incorporando preocupações relativas ao destino do homem, bem como ao “estar-no-mundo”.
Observamos um forte desejo de pesquisar nossa realidade social, espiritual e cultural. A arte mergulha fundo no tenso panorama ideológico da época.
Surge um dos mais importante pintores brasileiros, Cândido Portinari, que a exemplo dos demais artistas da época, denuncia as desigualdades da sociedade brasileira, bem como as conseqüências desse desequilíbrio.
O ensino da arquitetura foi renovado no país, graças a nomeação de Lúcio Costa para a direção da Escola Nacional de Belas Artes. Em 1934, formou-se Oscar Niemeyer, hoje, um dos maiores arquitetos do mundo.
A música erudita empenhava-se em alcançar uma linguagem nacional, principalmente através de Camargo Guarniere, Guerra Peixe e Radmés Gnatalli. Em 1930, Villa-Lobos começa a compor as Bachianas Brasileiras, fundindo Bach ao nosso folclore. A música popular apresenta um grande avanço qualitativo: Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso e Lamartine Barbo.
Em 1933, acontece a primeira encenação do teatro brasileiro moderno com a peça O bailado do deus morto, de Flávio de Carvalho. Peça sem enredo tradicional, com elementos expressionistas e surrealistas, é proibida pela polícia, que alega atentado ao pudor.
Data de 1929, o primeiro filme brasileiro totalmente sonorizado – Acabaram-se os Otários, de Luís de Barros. Na década de 40, várias obras da literatura brasileira, consideradas clássicas, como O Cortiço e Inocência foram filmadas pela primeira vez.

A Poesia da 2a Geração
Quando a poesia dessa 2a fase, dois fatos devem ser considerados:

a) O amadurecimento da obra de autores da 1a fase que continuam produzindo: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Cassiano Ricardo.

b) O amadurecimento de novos poetas: Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Vinícius de Morais e Mário Quintana.
Surge, nesse período, uma poesia ausente da 1a fase, de caráter espiritualista.

CARACTERÍSTICAS DA 2A GERAÇÃO

· O humor do poema-piada cede lugar a uma ironia mais refinada e sutil, adequada ao grave momento humano.
· Universalização dos temas: preocupação quanto ao destino do ser humano;
· Incorporação definitiva do verso livre à nossa poesia, todavia, sem a obsessão da 1a fase;
· Ressurgimento do soneto(forma fixa), porém com liberdade de expressão;
· Regionalismo(mais acentuado na prosa);
· Poesia lírico-amorosa.


Autores e Textos da 2a Geração Modernista
Carlos Drummond de Andrade: 1902 – 1987

Sua poesia reflete os problemas do mundo, do ser humano brasileiro e universal diante dos regimes totalitários, da segunda guerra e da guerra fria. Assim, Drummond é possuído de alguns momentos de esperança e em seguida torna-se descrente e desesperançado. Em várias passagens, insiste em mostrar a impossibilidade de o homem, sozinho, realizar alguma coisa.

Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas.
Cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Murilo Mendes: 1901 – 1975

Sua poesia apresenta: humor e ironia como instrumento crítico, concepção surrealista e barroca do mundo, elementos do Cristianismo, e experimentação linguística. Ele revela o homem em conflito com a realidade, procurando criar uma arte engajada nas questões sociais mais prementes de seu tempo.

Poliedro

O menino experimental come as nádegas da avó
e atira os ossos ao cachorro.
O menino experimental ateia fogo ao santuário
para testar a competência dos bombeiros.
O menino experimental benze o relâmpago.
O menino experimental repele as propostas da prima de dezoito anos,
Chamando-a de bisavó.


Jorge de Lima: 1895 – 1953

Sua temática é bastante diversa: textos parnasianos, recordações da infância, regionalismo, o negro, o folclore e a religião como solução para uma realidade injusta.

Essa Negra Fulô(incompleta)

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no banguê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala de Sinhá
chamando a negra Fulô.)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?

Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!
O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)

O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dela pulou
nuinha a negra Fulô.

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
Ah! foi você que roubou.
Foi você, negra Fulô?


Vinícius de Moraes: 1913 – 1980

“Sua vida não foi mais que a busca da mulher amada, a cuja beleza física e perfeição interior dedicaria praticamente toda sua obra”, declarou uma irmã do poeta.
A trajetória poética de Vinícius apresenta, entre outros, os seguintes aspectos: religiosidade, amor, desejo, sensualismo, erotismo, cotidiano e engajamento político.



Soneto da Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe, a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


A Rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Cecília Meireles: 1901 – 1964Fez parte da corrente espiritualista da 2a geração.

SUGESTÃO

Sede assim
qualquer coisa
-Serena, isenta, fiel,
Flor que se cumpre
Sem pergunta.

Onda que se esforça
por exercício desinteressado.
Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.
Igual à pedra detida
Sustentando seu demorado destino
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser

À cigarra queimando-se em música
Ao camelo que mastiga sua longa solidão.
Ao pássaro que procura o fim do mundo.
Ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim
Qualquer coisa
-Serena, isenta, fiel.
Não como o resto dos homens.

Questões de Vestibulares e Concursos
1. Na década de 30, o Brasil assiste a um movimento de renovação católica, daí resultando uma corrente espiritualista que contou com pensadores importantes como Alceu de Amoroso Lima(Tristão de Ataíde) e Jackson de Figueiredo. Na poesia, essa corrente foi representada por quais autores?

2. A poesia modernista revela:
a) ritmo psicológico
b) cotidianismo
c) sintaxe e pontuação revolucionárias.
d) Estão corretas as afirmações a e c.
e) Estão corretas as afirmações a, b e c.

3. Leia os versos abaixo: eles abordam dois aspectos comuns na poética de Drummond. Comente-os.
“Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.”

4. Excelente sonetista, é um dos poucos representantes da poesia sensual, erótica, com fortes imagens. “Essa mulher é um mundo! – uma cadela,
Talvez... – mas na moldura de uma cama,
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!”
Trata-se de:
a) Oswald de Andrade
b) Carlos Drummond de Andrade
c) Jorge de Lima
d) Murilo Mendes
e) Vinícius de Moraes

5. Poeta que fala clm humor e ironia da mediocridade da “vida besta” que preside o cotidiano e cuja obra(A rosa do povo, Claro enigma) é marcada por vigoroso espírito de síntese e pelo sentido trágico da existência. Trata-se de:
a) Vinícius de Moraes
b) Mário de Andrade
c) Carlos Drummond de Andrade
d) Cecília Meireles
e) Olavo bilac

6. Leia atentamente o texto:

Dados Biográficos

“Mas que dizer do poeta
numa prova escolar?
Que ele é meio pateta
E não sabe rimar?

Que veio de Itabira,
terra longe e ferrosa?
E que seu verso vira,
de vez em quando, prosa?

Que encontrou no caminho
uma pedra e, estacando,
muito riso escarninho
o foi logo cercando?”


Esses “dados biográficos” são do poeta:
a) Jorge de Lima
b) Carlos Drummond de Andrade
c) Manuel Bandeira
d) Guilherme de Almeida
e) João Cabral de Melo Neto

7. O livro de Cecília Meireles que evoca os “tempos do ouro” denomina-se:
a) Romanceiro da Inconfidência
b) Retrato natural
c) Balada para el-Rei
d) Romance de Santa Clara
e) Vaga Música

8. Sobre a obra de Carlos Drummond de Andrade é incorreto afirmar que:
a) seu posicionamento individualista o afasta da problemática do homem comum, do dia-a-dia.
b) uma de suas temáticas é a reflexão em torno da própria poesia.
c) a lembrança de Itabira, sua terra natal, aparece em parte de sua obra.
d) ocorre-lhe, muitas vezes, a mostragem de uma angústia proveniente de acreditar que não há saída para a problemática existencial.
e) a ironia madura é uma das características mais marcantes de sua poesia.

9. Associe os traços da poesia de Manuel Bandeira, relacionados a seguir, aos versos em que estão presentes: A – reminiscências da infância; B – ironia na auto-apresentação; C – solidão; D – doença e morte.
a) ( ) “A vida inteira que podia ter sido e que não foi.”
b) ( ) “Então me levantei, bebi o café que eu mesmo preparei.”
c) ( ) “Provinciano que nunca soube escolher uma gravata.”
d) ( ) “A casa de meu avô... / Nunca pensei que ela acabasse / Tudo lá parecia impregnado de eternidade.”



A Prosa da Segunda Fase
As transformações vividas pelo país com a Revolução de 1930 e o consequente questionamento das tradicionais oligarquias, os efeitos da crise econômica mundial, os choques ideológicos levando a posições mais definidas e engajadas, formam um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira.
“Nós, no Brasil, queremos, acima de tudo, nos encontrar com o povo que andava perdido. E podemos dizer que encontramos este povo fabuloso espalhado nos mais distantes recantos de nossa terra. O romance de nossos dias está todo batido nesta massa, está todo composto com a carne e o sangue de nossa gente... O nosso romance tem um século. Justamente em 1843, publicava-se, no Brasil, o primeiro romance. Levamos uns anos para chegar ao povo. Hoje, podemos dizer, já podemos afirmar: o povo é, em nossos dias, heróis de nossos livros. Isto equivale a dizer que temos uma literatura.”(José Lins do Rego – 1943)
Na busca do homem brasileiro, o regionalismo ganha uma importância inédita na literatura brasileira, levando ao extremo as relações do personagem com o meio natural e social: “A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste que me deu uma alma agreste.”


Principais temas abordados
· Os banguês e os engenhos, nas regiões de cana, sendo devorados pelas modernas usinas;
· O poder político na mão de interventores;
· As constantes secas agravando as desigualdades sociais e gerando mão-de-obra baratíssima;
· O intenso movimento migratório;
· A miséria, a fome.

O primeiro romance represe3ntativo do regionalismo nordestino, que teve seu ponto de partida no Manifesto Regionalista de 1926, foi A Bagaceira, de José Américo de Almeida, publicado em 1928, marcando a história literária do Brasil, tendo como temática a seca, os retirantes e o engenho.



PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS

Graciliano Ramos: 1892 – 1953

Romances: Caetés(1933); São Bernardo(1934); Angústia(1936); Vidas Secas(1938); Brandão entre o mar e o amor(em parceria com Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e Aníbal Machado).

Memórias: Infância(1945); Memórias do Cárcere(1953); Viagem(1954); Linhas Tortas(1962).

Conto: Insônia(1947); Crônica: Viventes das Alagoas(1962).

Literatura infanto-juvenil: A terra dos meninos pelados(1937); Histórias de Alexandre(1944); Histórias incompletas(1946).


José Lins do Rego: 1901 – 1957
Na época da Semana de Arte Moderna, participou do grupo regionalista do Recife. Sua linguagem é marcada pelo aproveitamento do tom oral da língua, mostrando uma preocupação maior em “ser verídico” do que em “fazer estilo”.
Seus temas são voltados para o Nordeste, onde viveu: a arbitrariedade dos coronéis; a decadência dos patriarcas rurais; a luta do progresso contra o atraso; o cangaço; as intrigas da política local – tudo temperado pela decadência do engenho, engolido pela usina moderna.

Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de Engenho(1932); Doidinho(1933); Banguê (1934); Usina(1936); Fogo Morto(1943).

Ciclo do cangaço(misticismo e seca): Pedra Bonita(1938); Cangaceiros(1953).

Obras independentes: O Moleque Ricardo(1934); Pureza(1937); Riacho Doce (1939); Água Mãe(1941); Eurídice(1947).

Jorge Amado: 1912....
Romances da Bahia: Denúncia das injustiças sociais e da opressão, tendo Salvador como cenário. O autor constrói um mundo dividido entre bons e maus, negros e
brancos. O amadurecimento político das personagens que simbolizam os oprimidos, quando ocorre, é pouco convincente: O País do Carnaval, Suor e Capitães de Areia.

Romances ligados ao ciclo do cacau: Ainda existe a preocupação de denunciar a exploração sofrida pelas classes trabalhadoras, porém num novo cenário: as fazendas de cacau do sul da Bahia, palco de conflitos sociais decorrentes da oposição entre o trabalhador rural e o exportador de cacau: Cacau (“Esgotou em quarenta dias a edição de 2 mil exemplares; a proibição de venda por subversivo, decretada pela polícia carioca, ajudou o sucesso de público.”) , São Jorge dos Ilhéus e Terras do Sem-Fim.

Crônicas de costumes: O autor enfatiza os diversos aspectos do comportamento social das personagens, geralmente vistas em grupo ou como símbolos de um grupo. Utilizando o cenário baiano, o autor narra histórias em que malandros e vagabundos são elevados à categoria de heróis românticos e folhetinescos: Mar Morto; Gabriela, Cravo e Canela; A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água; Teresa Batista Cansada de Guerra; Tieta do Agreste; Dona Flor e Seus Dois Maridos.


Érico Veríssimo: 1905 – 1975

Romance urbano: A temática dessas obras é o cotidiano da cidade grande, com seus conflitos de valores morais, sociais, espirituais. Flagrando, no ambiente urbano, uma sociedade em crise, o autor analisa-a e insinua uma solução: a solidariedade: Clarissa; Olhai os Lírios do Campo; O Resto é Silêncio; Caminhos Cruzados.

Romance histórico: O painel histórico montado pelo escritor abrange a formação social, econômica e política do Rio Grande do Sul, no período compreendido entre 1745 e 1945. Fatos importantes de nossa história aparecem incorporados na obra: a Coluna Prestes, a Revolução de 32, o levante comunista de 1935... Tudo isso tendo como eixo narrativo a disputa pelo poder envolvendo as famílias Amaral e Terra Cambará, na trilogia O Tempo e o Vento, que saiu entre 1949 e 1961, em três romances: O Continente(1949); O Retrato(1951); O Arquipélago(1961).

Romance político:São obras que se atêm à política nacional: O Senhor Embaixador(1965) – trata de uma revolução numa república fictícia da América Central; O Prisioneiro(1967) – tem com cenário o sudeste asiático; Incidente em Antares(1971) – o escritor explora o absurdo e o fantástico, tendo como pano de fundo a história mais recente do país. Após descrever a origem de Antares (o próprio Brasil?), ocorre o incidente: na imaginária cidade, em dezembro de 1963, faz-se uma greve de coveiros; em represália, os cadáveres insepultos resolvem ressuscitar e denunciar a corrupção que se alastrava entre os moradores da cidade.


Rachel de Queiroz: 1910...
Sua obra é marcada pelo caráter fortemente regionalista dos romances modernistas: o Ceará, sua gente, sua terra, as secas, são notas constantes em seus romances, escritos numa linguagem fluente e de diálogos fáceis, resultando numa narrativa dinâmica.
Os primeiros romances – O Quinze e João Miguel – apresentam a coexistência do social e do psicológico, predominando o social. Já em Caminhos de Pedras atinge o máximo da literatura engajada e esquerdizante: é seu romance mais social, mais político, publicado em 1937, início do Estado Novo, quando é presa.
A partir de então, em virtude do contexto adverso, abandona pouco a pouco o aspecto social de sua obra, passando a valorizar a análise psicológica, o que é percebido no romance As Três Marias.


Exercícios

1. Fogo Morto e Pedra Bonita são romances de José Lins do Rego que pertencem:
a) o primeiro, ao ciclo ____________________________________;
b) o segundo, ao ciclo____________________________________.

2. [Fabiano] “Com uma raiva excessiva, a que se misturava alguma esperança, deu uma patada no chão.”
[Cachorra Baleia] “Defronte do carro de boi faltou-lhe a perna traseira.”

a) O que significam, comparativamente, os termos destacados, dentro do contexto do livro Vidas Secas?
b) Quem é o autor desta obra?

3. Em uma parte da obra de Érico Veríssimo (por exemplo: .... e ....), predomina a temática urbana. Nesses romances, o autor desenha as personagens como representantes medianos da pequena burguesia gaúcha. Quais os romances que preenchem corretamente as lacunas?

4. O romance de estréia de José Lins do Rego, intitulado________, é uma das mais altas expressões literárias do ciclo__________________________.

5. Cite um romance de José Lins do Rego, cujo tema fundamental é o da decadência dos senhores de engenho no Nordeste do Brasil. A que movimento literário pertence a obra?

6. Assinale a alternativa em que ambos os romances citados evocam o mundo do internato e seus problemas:
a) O Ateneu – Doidinho
b) Casa de Pensão – Memórias Sentimentais de João Miramar
c) Memórias Póstumas de Brás Cubas – Infância
d) Menino de Engenho – O Ateneu


7. Graciliano Ramos escreveu um romance cuja personagem principal, lutando por riqueza e posição social, deixa-se contaminar pela agressividade que caracteriza o meio social em que vive. Aprofundando-se, portanto, na sondagem da personalidade do protagonista, o autor logrou, também, uma visão crítica da sociedade que determinou a maneira de ser da personagem. A obra em questão:
a) Insônia
b) Angústia
c) São Bernardo
d) Infância
e) Vidas Secas


8. Em 1928, a publicação de uma obra de José Américo de Almeida abre caminhos para o romance regionalista que o Modernismo iria desenvolver largamente. Trata-se de:
a) A Bagaceira
b) Porto Calendário
c) Caetés
d) Luzia-Homem
e) Cangaceiros


9. A obra de Jorge Amado, em sua fase inicial, aborda o problema da:
a) seca periódica que devasta a região da pecuária do Piauí.
b) decadência da aristocracia da cana-de-açúcar diante do aparecimento das usinas.
c) luta pela posse de terras na região cacaueira de Ilhéus.
d) Aristocracia cafeeira, que se vê à beira da falência com a crise de 29.


10. São obras do mesmo autor de Vidas Secas:
a) Jubiabá, Mar Morto
b) Angústia, São Bernardo
c) Usina, Fogo Morto
d) A Bagaceira, Coiteiros
e) O Quinze, Caminhos de Pedras

A Terceira Geração Modernista : 1945 - ....

Alguns historiadores chamam de Modernismo as duas primeiras fases do movimento e de Pós-Modernismo o período seguinte a 1945. Outros preferem chamar de terceira fase o período compreendido entre 1945 e 1960 e de Tendências Contemporâneas o período de 60/70 aos nossos dias. Verdade é que a partir de 1945 a literatura passa por profundas alterações, algumas representando um enorme avanço; outras, um retrocesso.

A PROSA , tanto nos romances como nos contos, aprofunda a tendência já trilhada por alguns autores da década de 30, em direção a uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque especial para Clarice Lispector. O regionalismo adquire uma nova dimensão com a produção fantástica de João Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil central.

Na POESIA, a partir de 1945, ganha corpo uma geração de poetas que se opõe às conquistas e inovações dos modernistas de 22. Assim, negando a liberdade formal, as ironias e as sátiras e “outras brincadeiras” modernistas, os poetas de 45 se dedicam a uma poesia mais “equilibrada e séria”, distante do que eles chamavam de “primarismo desabonador” de Mário e Oswald de Andrade. A preocupação básica era o “restabelecimento da forma artística e bela”, os modelos voltando a ser parnasianos e simbolistas. Esse grupo, chamado de Geração de 45, era formado por: Ledo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir Campos, Darcy Damasceno e outros.
O final dos anos 40 revela um dos mais importantes poetas da nossa literatura, não filiado esteticamente a qualquer grupo e continuador das experiências modernistas anteriores: João Cabral de Melo Neto.

O TEATRO foi a arte que apresentou maiores inovações no período, o que já se pressentia, no plano cênico, em 1943, quando o diretor e ator Ziembinsky(judeu refugiado no Brasil) dirigiu uma montagem radicalmente ousada da peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues. A partir de 1950, montaram-se dois grupos: o TBC – Teatro Brasileiro de Comédia e o Teatro de Arena, responsáveis por transformações muito significativas em nosso panorama teatral.



A Prosa da Terceira Geração
URBANA: trata do conflito entre o indivíduo e o meio social: Dalton Trevisan(contos), Rubem Braga(crônicas), Lygia Fagundes Telles(romances e contos).

INTIMISTA: sondagem psicológica; concentra-se na análise psicológica do mundo interior das personagens: Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Antonio Olavo Pereira.

REGIONALISTA: surgiu no século XIX com Bernardo Guimarães, sendo agora retratada com grandes inovações temáticas e linguísticas: Herberto Sales, Mário Palmério, Bernardo Ellis, Guimarães Rosa, o grande renovador de nosso regionalismo.

Clarice Lispector: 1925 – 1977
Tem por objetivo atingir as regiões mais profundas da mente das personagens para aí sondar complexos mecanismos psicológicos, o que determina as características específicas de seu estilo:
· O enredo tem importância secundária. As ações, quando ocorrem, destinam-se a ilustrar características psicológicas das personagens. São comuns histórias sem começo, meio ou fim;
· Predominância do tempo psicológico. O narrador segue o fluxo do pensamento das personagens, logo, o enredo pode fragmentar-se;
· O espaço exterior também tem importância secundária, uma vez que a narrativa concentra-se no espaço mental das personagens;
· Características físicas das personagens ficam em segundo plano; muitas personagens sequer apresentam um nome;
· As personagens descobrem-se num mundo absurdo diante de um fato inusitado. Esse fato provoca um desequilíbrio interior que mudará, para sempre, sua vida.

ROMANCES: Perto do Coração Selvagem(1944); O Lustre(1946); A Cidade Sitiada (1949); A Maçã no Escuro(1961); A Paixão Segundo G.H.(1964); Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres(1969); A hora da estrela(1977).

CONTOS E CRÔNICAS: Laços de Família(1960); A legião estrangeira(1964); Felicidade Clandestina(1971); A imitação da rosa(1973); A via crucis do corpo (1974); A bela e a fera(1979).


Guimarães Rosa: 1908 – 1967
O sertão criado por Guimarães Rosa é uma realidade geográfica, social, política, mas também é uma realidade psicológica e metafísica. Nesse espaço (sertão/mundo), o sertanejo não é apenas o homem de uma região e de uma época específicas, mas o homem universal, defrontando-se com problemas eternos: o bem e o mal; o amor, a violência, a existência ou não de Deus e do Diabo, etc., fazendo com que o seu regionalismo seja classificado como universalista.
Ele recria a linguagem regional de forma bastante elaborada. Baseando-se na linguagem da região em que “ocorrem” as histórias narradas, o autor cria palavras novas, recupera o significado de outras e emprega termos de línguas estrangeiras.
“A gente morre é para provar que viveu... As pessoas não morrem, ficam encantadas.”(Guimarães Rosa)

ROMANCE: Grande Sertão: Veredas(1956);

CONTOS: Sagarana(1946); Corpo de baile(1956); Primeiras estórias (1962); Tutaméia: terceiras estórias(1967); Estas estórias(1969); Ave, palavra(1970).


POESIA: João Cabral de Melo Neto: 1920 - ....

Sempre guiado pela lógica e pelo raciocínio, seus poemas evitam análise e exposição do eu, voltando-se para o universo dos objetos, das paisagens, dos fatos sociais, jamais apelando para o sentimentalismo. Por isso, o prazer estético que sua poesia pode provocar deriva, sobretudo, de uma leitura racional, analítica, não do envolvimento emocional com o texto. Assim, sua poesia caracteriza-se pela objetividade na constatação da realidade, do cotidiano, desenvolvendo-se, em alguns casos, em direção ao Surrealismo.
Três grandes preocupações são observadas em sua obra:

O NORDESTE com sua gente: os retirantes, suas tradições, seu folclore, a herança medieval e os engenhos; de modo particular, seu estado natal e sua cidade. São objetos de verificação e análise, os mocambos, os cemitérios e o rio Capibaribe, que aparece, por mais de uma vez, personificado.
A ESPANHA e suas paisagens em que se destacam os pontos em comum com o Nordeste brasileiro.
A PRÓPRIA ARTE e suas várias manifestações.
MORTE E VIDA SEVERINA, sua obra-prima, apresenta várias passagens ou cenas... etapas na longa caminhada do retirante Severino, que sai em busca da vida, caminhando em direção ao mar e atravessando as regiões típicas dos estados nordestinos: o sertão, o agreste, a zona da mata, a cidade litorânea.

PRODUÇÃO LITERÁRIA: Pedra do sono(1942); O engenheiro(1945); Psicologia da composição(1947); O cão sem plumas(1950); O rio(1954); Morte e vida severina(1956); Paisagem com figuras(1956); Uma faca só lâmina(1956); A educação pela pedra(1966); Museu de tudo(1975); Auto do frade(1984); Agrestes (1985); Crime na Calle Relator(1987).

TEXTO 01: O Sertanejo Falando

A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.

Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedras ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar;
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-las na língua, rebuçá-las:
pois toma tempo todo esse trabalho.


TEXTO 02: O Cão sem Plumas

Aquele rio
era como um rio sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.

Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
como de uma mucosa.
Devia saber dos polvos.
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-las na língua, rebuçá-las:

Questões de vestibulares e concursos
1. Sobre o adjetivo severina, da expressão Morte e vida severina que intitula a peça de João Cabral de Melo Neto, todas as afirmativas estão corretas, exceto:
a) Refere-se aos migrantes nordestinos que, revoltados, lutam contra o sistema latifundiário que oprime o camponês.
b) Pode ser sinônimo de vida árida, estéril, carente de bens materiais e de afetividade.
c) Designa a vida e a morte dos retirantes que a seca escorraça do sertão e o latifúndio escorraça da terra.
d) Dá nome à vida de homens anônimos, que se repetem física e espiritualmente , sem condições concretas de mudança.
e) Qualifica a existência negada, a vida daqueles seres marginalizados determinada pela morte.

2. O romance de Clarice Lispector:
a) filia-se à ficção romântica do século XIX, ao criar heroínas idealizadas e mitificar a figura da mulher.
b) define-se como literatura feminista por excelência, ao propor uma visão da mulher oprimida num universo masculino.
c) prende-se à crítica de costumes, ao analisar com grande senso de humor uma sociedade urbana em transformação.
d) explora até as últimas consequências, utilizando, embora, a temática urbana, a linha do romance neonaturalista da geração de 30.
e) renova, define e intensifica a tendência introspectiva de determinada corrente de ficção da segunda geração moderna.

3. A partir de 1945, segundo um critério histórico, as tendências da literatura brasileira estruturam-se, configurando um quadro diferente daquele advindo de 1922 (Semana de Arte Moderna). Dentre as opções apresentadas, quais as que definem a nova tendência?
Anarquismo estético, justificado pela Segunda Guerra Mundial.
Preocupação existencial e metafísica que se aliava ao protesto às circunstâncias históricas.
Volta ao metro e à rima tradicionais, ao lado de novas invenções do verso.
Busca de originalidade a qualquer preço.

a) 1,2 b) 2,3 c) 3,4 d) 4,1 e) 4,2

4. “O romance é narrado na primeira pessoa, em monólogo ininterrupto, por Riobaldo, velho fazendeiro do norte de Minas, antigo jagunço, que conta a sua vida e a sua angústia.”
O autor do romance a que se refere o texto acima é também o de:
a) Chapadão do Bugre
b) Sagarana
c) O Garimpeiro
d) O Coronel e o Lobisomem
e) Vila dos Confins

5. Sobre o aspecto das obras literárias:

COLUNA A
1. Grande Sertão:Veredas
2. Vidas Secas
3. Fogo Morto
4. Senhora
5. O Ateneu

COLUNA B
( ) Romance de cunho psicológico, que narra a vida da personagem principal dentro de um internato.
( ) Obra de cunho social, escrita em linguagem cuidada que reflete a influência de Machado de Assis.
( ) Romance de caráter urbano, que retrata aspectos da sociedade da época, tendo como exemplo, o casamento convencional.
( ) Obra-prima de seu autor, que focaliza a vida do engenho e sua decadência.
( ) Romance de tensão transfigurada, que o autor procura constituir uma outra realidade, de caráter universal, sem esquecer, porém, os problemas do homem da região. Sua linguagem é original.

a) 5,4,1,3,2 c) 3,1,4,2,5 e) 1,3,2,5,4
b) 4,3,2,5,1 d) 2,3,4,5,1

6. Este “auto de Natal pernambucano”, longo poema equilibrado entre rigor formal e temática, conta o roteiro de um homem do agreste que vai em demanda do litoral e topa em cada parada com a morte, presença anônima e coletiva, até que no último pouso lhe chega a nova do nascimento de um menino, signo de que algo resiste à constante negação da existência.”(Alfredo Bosi)
a) Pai João
b) Brasil-menino
c) Evocação do Recife
d) Morte e vida severina

7. “Diadorim me chamou, fomos caminhando, no meio da queleléia do povo. Mesmo eu vi o Hermógenes: ele se amargou engulindo de boca fechada – ‘Diadorim’- eu disse – ‘esse Hermógenes está em verde, nas portas da inveja...’ Mas Diadorim por certo não me ouviu bem, pelo que começou dizendo: - ‘Deus é servido...’
No texto acima há elementos que permitem identificar o romance do qual foi extraído. O romance é:
a) Os Sertões
b) O Quinze
c) Grande Sertão:Veredas
d) Vidas Secas
e) O Coronel e o Lobisomem

8. As ações do romance acima referido se passam:
a) nos sertões do Ceará.
b) nos sertões de Minas Gerais.
c) no sertão da Bahia.
d) no interior do Rio de Janeiro.
e) no interior de Pernambuco.

9. O Conjunto de Novelas de João Guimarães Rosa, publicado em 1956 aparece sob o título:
a) Corpo de baile.
b) Primeiras estórias.
c) Grande sertão: veredas.
d) Sagarana.
e) Estas estórias.

Tendências da Poesia Brasileira Contemporânea:
1960 – atualidade


É difícil esquematizar a variedade de tendências da arte, nesse período, por duas razões: historicamente, são fatos recentes demais e há uma grande mistura de estilos que convivem pacificamente.
A atitude pós-moderna configura-se, na arte, pela ironia, pelo pastiche e pela pouca esperança diante da realidade, tendo como principais características:
· Eliminação de fronteiras entre a arte erudita e a arte popular;
· Intertextualidade(diálogo ou cruzamento entre obras);
· Mistura de estilos(ecletismo);
· Preocupação com o presente, sem projeção no futuro.

A arte pop é outra tendência pós-moderna das artes plásticas. Utiliza-se, frequentemente, da intertextualidade, com uma característica particular: não são tomadas como referência apenas obras de arte do passado, mas também as imagens banalizadas dos meios de comunicação de massa. Também é comum o pastiche, obra literária (ou artística em geral) imitada servilmente de outra ou montagem feita de trechos de obras, não, necessariamente, do mesmo autor.
No TEATRO, não se deseja mais um expectador passivo, mas sim participante: o público é convidado a participar da ação, que muitas vezes sai dos limites do palco e envolve a platéia.
A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, após a experiência da bossa-nova, sofreu a concorrência maciça da música estrangeira, perdendo espaço nas emissoras de rádio e nas listagens de vendas de disco, recuperando-se, todavia, nestes últimos anos graças ao fenômeno pop: sertanejo, pagode, axé music e outras tendências.
O CINEMA, depois de uma fase riquíssima, o cinema novo, da década de 60, foi vítima do mesmo processo de estrangulamento, na concorrência com filmes estrangeiros.
Durante algum tempo, anos 80 e início dos anos 90, o cinema brasileiro só produziu “bombas”, filmes de tendência pornográfica sem um enredo lógico. Nestes últimos anos, porém(e já era tarde), tem empreendido excelentes produções, algumas, inclusive, indicadas para o Oscar, como é o caso de O Quatrilho e O que é isso, companheiro?.
Analisando esse período, não podemos ignorar a rapidez com que os modismos se sucedem. Graças ao avanço tecnológico, instalado, principalmente, a partir da década de 80, quase tudo se torna, rapidamente, obsoleto e descartável, gerando um consumismo cada vez mais acentuado. As artes não ficam imunes a essa característica do nosso tempo.


O ConcretismoSurge em 1952, tendo como proposta modificar os hábitos do receptor, que ao invés de ler, passa a ver a poesia.
O Concretismo privilegia os recursos gráficos(já que a comunicação entre o texto e o leitor passa a ser visual) das palavras e o abandono do discurso tradicional, tendo como características principais:
· abolição do verso;
· aproveitamento do espaço do papel como fator de significado;
· aproveitamento do significante: seus conteúdos sonoros e visuais;
· rejeição do lirismo;
· o poema não vale pelo que significa, mas pelo que é(poema-objeto);
· possibilidade de leituras múltiplas.

O concretismo fez mais sucesso fora do país. No Brasil, três intelectuais representam o movimento, com destaque: Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari.

TEXTO 01 - Décio Pignatari

beba coca cola
babe cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
c l o a c a


TEXTO 02 – José Lino
vai e vem
e e
vem e vai


Poesia-Práxis
Também conhecida como Instauração Práxis, iniciou-se em 1962, com o poeta Mário Chamie, que em vez de levar em conta a palavra-coisa do concretismo, considera a palavra-energia, ou seja, aquela que gera outras palavras no contexto do poema: as palavras são organismos vivos.
A poesia-práxis representa uma ruptura do grupo concretista, em fins do anos 50.
Principais poetas filiados ao grupo: Mário Chamie, Mauro Gama, Yone Gianetti Fonseca, Armando Freitas Filho, Antonio Carlos Cabral.


AGIOTAGEM – Mário Chamie

um
dois
três
o juro: o prazo
o por / o cento / o mês / o ágio.
P o r c e n t á g i o
dez
cem
mil
o lucro: o dízimo
o ágio / a moral / a monta em péssimo
e m p r é s t i m o
muito
nada
tudo
a quebra: a sobra
a monta / o pé / o cento / a quota,
h a j a n o t a
agiota.

Poesia Social
Resultou da reação de alguns poetas a duas características que, segundo eles, dominavam as tendências da época: excesso de formalismo, com o consequente distanciamento do público e alienação dos movimentos de vanguarda.
Buscando maior comunicação com o leitor, a poesia social propõe o retorno ao verso, uma linguagem mais simples e uma temática voltada para a realidade social da época. A poesia é veículo de participação política.

João Boa-Morte, cabra marcado para morrer.
(parte final)
..........
E assim se acabou uma parte
da história de João.
A outra parte da história
vai tendo continuação
não neste palco de rua
mas no palco do sertão.
Os personagens são muitos
e muita a sua aflição.

Já vão todos compreendendo,
como compreendeu João,
que o camponês vencerá
pela força da união.
Que é entrando para as Ligas
que ele derrota o patrão,
que o caminho da vitória
está na revolução.


Poema-processo
Lançado em exposições realizadas no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte, em 1967, este movimento radicalizou o Concretismo, utilizando, sobretudo, signos visuais. A palavra pode ou não ser usada, todavia já não é indispensável. Mais tarde, o grupo radicalizou ainda mais, afirmando que “a palavra escrita já não é uma realidade na civilização técnica”e, em lugar da palavra, propõe adotar “novas disposições tipográficas...”
Em 1973, publicou-se um Manifesto de Encerramento do Poema-Processo. O líder do grupo foi o poeta Wladimir Dias-Pino.

Tropicalismo
Dominando o cenário musical, principalmente nos anos 67 e 68, o Tropicalismo apresenta algumas contribuições para a literatura. Retomando, basicamente, a proposta do Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, os tropicalistas sugeriam a “deglutição” de qualquer cultura, fosse ela qual fosse, sem preconceito estético e sem xenofobia. Resultaram daí o humor e o anarquismo(se considerarmos os valores da burguesia como padrão), a ironia e a paródia. Na década de 70, o movimento declina, sobretudo por força da rigorosa censura imposta pelo regime militar.

TEXTO 01: Let’s play that – Torquato Neto
quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando a minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let’s play that.


Poesia Marginal dos Anos 70 (“geração mimeógrafo”)

A poesia marginal é assim chamada porque sua impressão e distribuição não eram feitas por editoras, desvinculando-se, portanto, do sistema. A linguagem é muito diversificada, tendo como característica comum a aproximação, quase fusão, de poesia e vida.
Muitas vezes, ocorrem influências do Concretismo e do Poema-Processo. A linguagem é, quase sempre, coloquial. É frequente o uso da paródia, bem como da metalinguagem.
Enquanto os concretistas atribuem grande importância à construção do poema, os marginais preocupam-se com a expressão, ora de fatos triviais, ora de seus sentimentos, além de denunciar o clima de medo que o país enfrentava.
Alguns poetas que começaram como “marginais” têm, hoje, sua obra impressa e distribuída por grandes editores. É o caso de: Chacal, Paulo Leminski, Cacaso, Chico Alvim.

TEXTO 01: Papo de Índio – Chacau

Veio os ômi de saia preta
cheiu di caixinha e pó branco
qui eles disseram que chamava açucri
Aí eles falarum e nós fechamu a cara
depois eles arrepitirum e nós fechamu o corpo
Aí eles insistiram e nós comemu eles.


TEXTO 02:Visita -Chico Alvim

Não bateram na porta
Arrombaram


TEXTO 03 – Nicolas Behr

quem tem a mão decepada
levante o dedo.

Poesia Moderna e Música Popular
Segundo o crítico Afonso Romano de Sant’Anna, “à altura de 1968, depois do Tropicalismo, as vanguardas pareciam já ter exaurido suas propostas fundamentais. A música popular brasileira, que desde 1965 vinha interessando mais amplamente à juventude, mostra uma força insólita através de dezenas de festivais de canções e de programas especiais de TV. A música capitaliza a perplexidade do povo brasileiro ante o momento político(pós 64) e passa a cumprir um papel que a poesia literária jamais poderia realizar. Os poetas passam a investir na música popular através de ensaios, poemas, participação em júris de festivais e por meio de catequeses teóricas. As escolas e universidades descobrem o texto da música popular como um produto a ser esteticamente analisado.”


Tendências da Prosa Contemporânea
No romance, o regionalismo continua muito rico e produtivo na pena consagrada de: Mário Palmério, Bernardo Élis, Antônio Callado, Josué Montello, José Cândido de Carvalho, João Ubaldo Ribeiro, Márcio de Souza, Roberto Drumnmond, Ana Miranda....
Nos últimos anos destacou-se bastante o escritor Rubem Fonseca, utilizando uma estrutura de romance policial e/ou histórico.
Ainda na prosa, as últimas décadas assistiram à consagração das narrativas curtas – crônica e conto. O desenvolvimento da crônica está, intimamente, ligado ao espaço aberto a esse gênero na grande imprensa. Atualmente, jornais e revistas de circulação nacional incluem em suas páginas crônicas de: Fernando Sabino, Lourenço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Sérgio Porto, Stanislaw Ponte Preta.

O conto, analisado no conjunto das produções contemporâneas, situa-se em posição privilegiada tanto em qualidade como em quantidade: Dalton Trevisan, Moacyr Scliar, Samuel Rawet, Rubem Fonseca, Luís Fernando Veríssimo, Domingos Pellegrini Jr., João Antônio, Ligia Fagundes Telles, Luís Vilela, Nélida


Metamorfose Ambulante
Raul Seixas

Prefiro ser essa metamorfose ambulante

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

É chato chegar a um objetivo num instante
Eu quero viver essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Eu vou lhes dizer aquilo tudo que eu lhes disse antes
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre

Crédito: http://isacliteratura.blogspot.com/2009/03/literatura-3o-ano.html

Literatura - 2o ano com exercício


O Arcadismo (Neoclassicismo)
Engajado no processo de luta ideológica e política que levaria a burguesia ao poder em 1789(Revolução Francesa), o arcadismo pode ser visto , sob o ponto de vista ideológico, como uma arte revolucionária. Porém, do ponto de vista estético, é uma arte conservadora, pois ainda se liga à tradição clássica.
O Arcadismo volta-se para um novo público consumidor, formado pela burguesia e pela classe média. Como expressão artística dessas camadas sociais, identifica-se com as idéias da Ilustração e veicula-se sob a forma de valores que se opõem ao tipo de vida levado pelas cortes aristocráticas e à arte que consumiam, o Barroco.
Daí a idealização da vida natural em oposição à vida urbana; a humildade em oposição aos gastos exorbitantes da nobreza; o racionalismo em oposição à fé; a linguagem simples e direta em oposição à linguagem prolixa do barroco. Esses novos valores artísticos e culturais propunham uma sociedade mais justa, racional e livre.

Características da Linguagem Árcade

FUGERE URBEM (fuga da cidade): “a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce bom”(Rousseau)
“Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.”
(Cláudio Manuel da Costa)

AUREA MEDIOCRITAS (vida medíocre materialmente, mas rica em realizações espirituais).
“Se não tivermos lãs e peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
e os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mãos cosido.”
(Tomás Antônio Gonzaga)

CARPE DIEM (aproveitar o dia). Curtir o momento, aproveitar a vida enquanto é possível.
“Ah! não, minha Marília, / aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças, / e ao semblante a graça.”
(T.A.G.)

IDÉIAS ILUMINISTAS: liberdade, justiça e igualdade social.
“O ser herói, Marília, não consiste
Em queimar os impérios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,
E despovoa a terra
Também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
E tanto pode ser herói o pobre,
Como o maior augusto.”
(Tomás Antônio Gonzaga)

CONVENCIONALISMO AMOROSO: na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta que fala de si e de seus reais sentimentos. Quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Não há variações emocionais, graças ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos, levando o poeta a racionalizá-los, mantendo-se o distanciamento amoroso entre os amantes, o que já se observava na poesia clássica. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial.

“Ah! queira Deus que minta sorte irada:
Mas de tão agouro cuidadoso
Só me lembro de Nise, e de mais nada.”
(Cláudio Manuel da Costa)

Esse convencionalismo amoroso não é seguido por alguns poetas árcades; é o caso do português Bocage e do brasileiro Tomás Antônio Gonzaga, que expõem diretamente suas emoções e suas experiências vividas, sendo por isso considerados pré-românticos ou de transição.

“Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões que me arrastava.”
(Bocage)


O Arcadismo no Brasil: 1768 – 1836

1768 – Publicação das Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa;

1836 – Publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães – obra que marca o início do nosso Romantismo.

O Arcadismo brasileiro originou-se e concentrou-se, principalmente, em vila Rica, atual Ouro Preto – MG, e seu aparecimento teve relação direta com o grande crescimento urbano verificado nas cidades mineiras do século XVIII, cuja base econômica era a extração do ouro.
As idéias iluministas, em Vila Rica, levaram vários intelectuais e escritores a sonharem com a independência do Brasil, principalmente após a repercussão da independência dos Estados Unidos da América(1776). Tais sonhos culminaram na frustrada Inconfidência Mineira(1789).
Cecília Meireles, poetisa modernista, em seu Romanceiro da Inconfidência, registra o espírito febril provocado pelo ouro:

“Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranquilo,
que a noite é um mundo de sustos.”


Por um lado, nossos escritores procuraram obedecer aos princípios estabelecidos pelas academias literárias ou se inspiravam em certos escritores clássicos consagrados, como Camões, Petrarca e Horácio; mas por outro lado, acrescentaram elementos nacionais, dando a nossa literatura uma certa independência.

Texto contemporâneo com características árcades: CASA NO CAMPO(Zé Rodrix e Tavito)

Eu quero uma casa no campo
onde eu possa compor muitos rocks rurais
e tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
onde eu possa ficar do tamanho da paz
e tenha somente a certeza
dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
e um filho de cuca legal
Eu quero plantar com a mão
a pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
do tamanho ideal
pau-a-pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos / Meus livros / e nada mais
.


Principais Autores e Obras do Arcadismo Brasileiro

Cláudio Manuel da Costa: 1729 – 1789

Pseudônimo: Glauceste Satúrnio
Musa-pastora: Nise
Poesia lírica: influência camoniana; o amor e a natureza se destacam.
Poesia épica: Vila Rica, que narra a fundação e a história da cidade, exaltando as aventuras dos bandeirantes.

Em 1789, foi acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira. Encontrado morto na prisão, a alegação oficial para sua morte foi de suicídio, versão contestada, inclusive, por Cecília Meireles:

“Dizem que não foi atilho
nem punhal atravessado,
mas veneno que lhe deram,
na comida misturado.

E que chegaram doutores,
e deixaram declarado
que o morto não se matara,
mas que fora assassinado.”


Tomás Antônio Gonzaga: 1744 - 1810

Pseudônimo: Dirceu
Musa-pastora: Marília
Poesia lírica: Marília de Dirceu
Poesia satírica: Cartas Chilenas – poema anônimo e incompleto, cuja autoria lhe fora atribuída.

O mais popular dos poetas árcades mineiros apaixona-se por Maria Dorotéia de Seixas, uma jovem de 16 anos que será cantada em seus versos sob o pseudônimo de Marília.
“Estou no inferno, estou Marília bela;
e uma coisa só é mais humana
a minha dura estrela;
uns não podem mover do inferno os passos;
eu pretendo voar e voar cedo
à glória dos teus braços.”

A omissão da autoria nas Cartas Chilenas decorre do risco resultante de seu conteúdo: satirizavam os desmandos administrativos e morais de Luís da Cunha Menezes, que governou a capitania de Minas gerais entre 1783 e 1788. Estudos recentes reconheceram a autoria de Tomás Antônio Gonzaga.
A obra é toda um jogo de disfarces: Fanfarrão Minésio é o pseudônimo do governador; Chilenas equivale a mineiras; Santiago, de onde são assinadas, equivale a Vila Rica. O autor das cartas é identificado como Critilo e seu destinatário, como Doroteu.

“Aquele, Doroteu, que não é santo,
mas quer fingir-se santo aos outros homens,
pratica muito mais do que pratica
quem segue os sãos caminhos da verdade.
Mal se põe nas igrejas, de joelhos,
abre os braços em cruz, a terra beija,
entorta o seu pescoço, fecha os olhos,
faz que chora, suspira, fere o peito
e executa outras muitas macaquices,
estando em parte onde o mundo as veja.
Assim o nosso chefe, que procura
mostrar-se compassivo, não descansa
com estas poucas obras: passa a dar-nos
da sua compaixão maiores provas.”


Silva Alvarenga: 1749 – 1814

Pseudônimo: Alcindo Palmirendo
Poesia lírica: Glaura.

Sua obra apresenta como principais características: nativismo(elementos da fauna e da flora nacionais) e sensualidade, sendo, considerado, inclusive, um poeta de transição para o Romantismo.

“Neste bosque alegre e rindo
Sou amante afortunado,
E desejo ser mudado
No mais lindo Beija-flor.
Todo o corpo num instante
Se atenua, exala e perde:
E já de oiro, prata e verde
A brilhante e nova cor.”


A Épica Árcade

A épica árcade brasileira é representada, principalmente, pelas obras O Uraguai, de Basílio da Gama, e Caramuru, de Santa Rita Durão. Além de conterem idéias iluministas, esses poemas apresentam também certos aspectos inexistentes na épica européia: o indianismo e o exotismo da paisagem colonial.

Basílio da Gama: 1741 – 1795
Pseudônimo: Termindo Sipílio;
Obra principal: O Uraguai, cujo tema é a luta dos portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas instalados nas missões jesuíticas do atual Rio Grande do Sul, que não queriam aceitar as decisões do Tratado de Madri.

“Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue tépidos e impuros
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
O rouco som da irada artilharia.”


Frei José de Santa Rita Durão: 1722 – 1784

Afirmando que a razão de seu poema Caramuru era o “amor à pátria”, embora tivesse vivido quase todo o tempo em Portugal, Santa Rita confirma a tendência nativista de seu poema, o qual narra as aventuras, em parte históricas, em parte lendárias, do náufrago português Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Em meio às aventuras do protagonista, o autor aproveita para fazer longa descrição das qualidades da terra:

“Não são menos que as outras saborosas
As várias frutas do Brasil campestres;
Com gala de ouro e púrpura vistosas
Brilha a mangaba e os mocujés silvestres.”



Questões de Vestibulares e Concursos

1. “E em arte aos de Minerva se não rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.”
Indique a característica presente nos versos acima, de autoria de Bocage:
a) uso de pseudônimos
b) subjetivismo
c) rompimento com os clássicos
d) tema pastoril
e) recurso à mitologia greco-romana

2. “Razão feroz, o coração me indagas,
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim) palpando, e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.”


O Pré-Romantismo é uma fase de transição do arcadismo para o Romantismo. Aponte no fragmento do soneto acima, de Bocage, uma característica árcade e outra romântica.

3. “As Cartas Chilenas são importante documento histórico sobre o século _____ ao fazer a sátira ao então governador de Minas Gerais, tratado nas cartas pelo pseudônimo de________________________. O remetente assinava com o nome de __________________________ e o destinatário era____________________.

4. Leia, atentamente, os versos a seguir e aponte as características árcades presentes neles:

a) “Façamos, sim, façamos doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos.”

b) “Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças,
E ao semblante a graça!”

5. “Por fim, acentua o polimorfismo cultural dessa época o fato de se desenrolarem acontecimentos historicamente relevantes, como a Inconfidência Mineira e a transladação da corte de D. João VI para o Rio de Janeiro.”
O crítico Massaud Moisés refere-se a que escola literária?
a) Quinhentismo
b) Romantismo
c) Humanismo
d) Barroco
e) Arcadismo

6. Sobre o Arcadismo brasileiro só não se pode afirmar que:

a) tem suas fontes nos antigos autores gregos e latinos, dos quais imita os motivos e as formas.
b) Teve em Cláudio Manuel da Costa o representante que, de forma original, recusou a motivação bucólica e os modelos camonianos da lírica amorosa.
c) Nos legou os poemas de feição épica Caramuru, de Frei José de Santa Rita Durão e O Uraguai, de Basílio da Gama, no qual se reconhece qualidade literária em relação ao primeiro.
d) Norteou, em termos de valores estéticos básicos, a produção dos versos de Marília de Dirceu, obra que celebrizou Tomás Antônio Gonzaga e que destaca a originalidade de estilo e de tratamento local dos temas pelo autor.
e) Apresentou uma corrente de conotação ideológica envolvida com as questões sociais do seu tempo e com a crítica aos abusos da Coroa.

7. Assinale a alternativa que apresenta dois poetas que participaram da Inconfidência Mineira.
a) Cláudio Manuel da Costa – Tomás Antônio Gonzaga
b) Castro Alves – Tomás Antônio Gonzaga
c) Gonçalves Dias – Cláudio Manuel da Costa
d) Gonçalves Dias – Gonçalves de Magalhães

8. Sobre o poema O Uraguai é correto afirmar que:
a) O herói do poema é Diogo Álvares, responsável pela primeira ação colonizadora da Bahia.
b) O índio Cacambo, ao saber da morte de sua amada, Lindóia, suicida-se.
c) Escrito em plena vigência do Barroco, filiou-se à corrente cultista.
d) Os jesuítas aparecem como vilões, enganadores dos índios.
e) Segue a estrutura épica camoniana.

9. “Apenas, Doroteu, o nosso chefe
As rédeas manejou do seu governo,
Fingir nos intentou que tinha uma alma
Amante da virtude. Assim foi Nero.”

O trecho acima pertence a:
a) Obras, de Cláudio Manuel da Costa.
b) Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga.
c) Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga.
d) Poesias Satíricas, de Gregório de Matos.
e) O Uraguai, de Basílio da Gama.

10. “Que diversas são, Marília, as horas
Que passo na masmorra imunda, e feia,
Dessas horas felizes já passadas
Na tua pátria aldeia!”

Esses versos de Marília de Dirceu caracterizam:
a) A primeira parte da obra, o namoro.
b) A felicidade da futura família.
c) A segunda parte da obra, a cadeia.
d) O sonho de realizar a Inconfidência.
e) O sonho de um futuro feliz ao lado da amada.


O Romantismo
Fala-se no fim do romantismo, todavia apesar dos jovens terem inventado o verbo “ficar”, que contraria todas as normas românticas tradicionais, o escritor moderno Marcos Rey expressa, de uma forma divertida, uma opinião diferente:

“...não é impossível o retorno do romantismo ainda neste século. Há algumas evidências assinalando mudanças. Aumentou, inexplicavelmente, em todo o globo, o número de casamentos. Um novo tipo de radar localizou algumas virgens maiores de 18 anos em diversos países. As doceiras andam felizes com os pedidos de bolos de noiva. O soneto está de volta. Quem diria! E também a coladinha... refiro-me à dança de rosto colado, pele sobre pele, respiração sincopada, quando as orquestras, mesmo com o salão lotado, tocavam só para dois.”

O tipo de romantismo a que se refere o escritor não é a mesma coisa que o Romantismo na arte. Este também está relacionado aos sentimentos, entretanto foi muito mais que isso. Foi um amplo movimento que surgiu no século XIX e representou, artisticamente, os anseios da burguesia, que havia acabado de chegar ao poder na França.

Características da linguagem romântica(conteúdo)

SUBJETIVISMO: o artista romântico trata dos assuntos de uma forma pessoal, de acordo com o que sente, fazendo um recorde subjetivo e idealizado da realidade que o cerca.

“Nosso Céu tem mais estrelas, / Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida mais amores.”


IDEALIZAÇÃO: O romântico trata os assuntos, em geral, não da maneira como são, mas como deveriam ser segundo sua ótica pessoal: a pátria é sempre perfeita; a mulher é sempre uma virgem delicada, frágil, submissa e inatingível; o amor é espiritual e inalcançável; o índio é um herói nacional, cheio de virtudes.

Ó minha amante, minha doce virgem, / Eu não te profanei, e dormes pura:
No sono do mistério, qual na vida, / Podes sonhar apenas na ventura.”


SENTIMENTALISMO: A relação entre o artista romântico e o mundo é sempre mediada pela emoção, seja diante de um tema amoroso, político, social ou indianista.

“Meu Deus! eu chorei tanto no exílio! / Tanta dor me cortou a voz sentida,
Que agora neste gozo de proscrito / Chora minh’alma e me sucumbe a vida!”

EGOCENTRISMO: A maioria dos poetas românticos volta-se, predominantemente, para o próprio eu, numa atitude narcisista.

“Era uma noite – eu dormia / E nos meus sonhos revia
As ilusões que sonhei! / e no meu lado senti...
Meu Deus, por que não morri? / Por que no sono acordei?”


MEDIEVALISMO: Interesse pelas origens de seu próprio país, de seu povo e de sua língua, daí, no Brasil, a idealização do nosso índio. Um exemplo de medievalismo é o filme Excalibur, da Warner Home Vídeo.

INDIANISMO: o nosso índio encarna o ideal do “bom selvagem”, de Rousseau, tornando-se um verdadeiro herói nacional. A idéia do “bom selvagem” é observada nos filmes A Lagoa Azul e O Guarani.

RELIGIOSIDADE: Representa uma nítida reação ao racionalismo materialista do século anterior. A vida espiritual é enfocada como ponto de apoio ou válvula de escape diante das frustrações do mundo real.

BYRONISMO: (Lord Byron – poeta inglês) Representa um estilo de vida boêmia, noturna, voltada para o vício, para os prazeres da bebida, do fumo e do sexo; a forma de ver o mundo é egocêntrica, narcisista, pessimista, angustiada e, às vezes, satânica.

“Oh! Não maldigam o mancebo exausto / Que no vício embalou, a rir, os sonhos,
Que lhe manchou as perfumadas tranças / Nos travesseiros da mulher sem brio!”


CONDOREIRISMO: Corrente poética político-social, que ganhou repercussão entre os poetas da terceira geração. Influenciados pelo escritor francês Victor Hugo, os poetas condoreiros defendem a justiça social e a liberdade.

“Oh! bendito o que semeia / Livros ... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar! / O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma, / É chuva – que faz o mar.”

Quanto a forma, a linguagem romântica apresenta: vocabulário e sintaxe mais simples; gosto por métricas populares; irregularidade estrófica; maior liberdade formal e descrições detalhadas, com emprego constante de comparações e metáforas, com a intenção de dar vazão à fantasia, à imaginação e a idealização.

Na MÚSICA ocorre o abandono das fórmulas clássicas, a expressão dos estados de alma, dos sentimentos e das paixões e o subjetivismo: Chopin, Schubert e Beethoven.


Exercícios
1. Nos fragmentos a seguir ocorrem as palavras romantismo e romântico. Identifique se elas se referem ao romantismo como comportamento ou ao Romantismo como estilo de época.

a) Maria romântica: Após dois anos sem se apresentar no Rio de Janeiro, Maria Bethânia volta aos palcos cariocas com um show que ela mesma classifica de rom6antico – e a cantora está romântica e discreta até no guarda-roupa e no próprio título do espetáculo, Maria.

b) Desfiles em Paris: Oriente e romantismo dominam coleções.

c) Em seu estudo sobre a moda do século XIX, Gilda Mello e Souza mostra que a moda era o único meio lícito de expressão da mulher romântica...

d) “Quatro Casamentos” resgata o romantismo.

2. Leia os trechos seguintes e indique a(s) característica(s) românticas que ocorre(m) em cada um, entre as indicadas a seguir:
subjetivismo – sentimentalismo – exaltação da natureza – natureza concebida como refúgio – incorporação de fatos misteriosos – religiosidade – valorização da infância – idealização da figura feminina – pessimismo – valorização do passado – nacionalismo – atração pela morte – valorização do homem em estado selvagem

a) “Feliz a inteligência vulgar e rude, que segue os caminhos da vida com os olhos fitos na luz e na esperança postas pela religião além da morte...” (Alexandre Herculano)

b) “Brilha a lua no céu, brilham estrelas, / Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se / Um quebranto de amor, melhor que a vida!
(Gonçalves Dias)

c) “Oh! dias da minha infância! / Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era / Nessa risonha manhã.” (Casimiro de Abreu)

d) “Creio em Deus, amo a pátria, e em noites lindas
Minh’alma – aberta em flor – sonha contigo.” (Casimiro de Abreu)

e) “Morena, minha sereia, / Tu és a rosa da aldeia, / Mulher mais linda não há...”
(Casimiro de Abreu)

f) “Por mim, não conheço objeto mais lindo em toda a natureza, mais feiticeiro, mais capaz de arrebatar o espírito e inflamar o coração do que é uma jovem donzela quando a modéstia lhe faz subir o rubor às faces e o pejo lhe carrega brandamente nas pálpebras...”(Almeida Garret)

3. O fragmento que apresenta características da estética romântica é:
a) “Aqueles cabelos castanhos encaracolados, aquele pescoço enrolado no pisca-pisca embriagante das contas vermelhas.”
b) “Viu ainda dois olhos enormes, redondos, saltados e interrogativos, distúrbio talvez de tiróide, olhos que perguntavam.”
c) “Bonita, não, eu sabia que não, com seu prognatismo e seu cabelo, a esposa bonita não era não.”
d) “Era mulher por dentro e por fora, mulher à direita e à esquerda, mulher por todos os lados, e desde os pés até a cabeça.”
e) “Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo.”

4. Assinale a alternativa falsa:
a) O Romantismo, como estilo, não é modelado pela individualidade do autor; a forma predomina sempre sobre o conteúdo.
b) O Romantismo é um movimento de expressão universal, inspirado nos modelos medievais e unificado pela prevalência de características comuns a todos os escritores da época.
c) O Romantismo como estilo de época, constituiu, basicamente, um fenômeno estético-literário desenvolvido em oposição ao intelectualismo e à tradição racionalista e clássica do século XVIII.
d) O Romantismo, ou melhor, o espírito romântico, pode ser sintetizado numa única qualidade: a imaginação. Pode-se creditar à imaginação a capacidade extraordinária dos românticos de criarem mundos imaginários.
e) O Romantismo caracterizou-se por um complexo de características, como o subjetivismo, o ilogismo, o senso de mistério, o exagero, o culto da natureza e o escapismo.

5. Assinale a(s) alternativa(s) que caracteriza(m) a produção romântica:
a) Atitude subjetiva marcada por intenso sentimentalismo.
b) Decadência do romance entre os gêneros narrativos.
c) Crença no papel do poeta como gênio portador de verdades, cumpridor de missões.
d) Presença da natureza com função expressiva, significando e revelando.
e) Culto do mito da na nação, num momento de grande afirmação cultural.
f) Idealização do herói, visto como ser extraordinário, poderoso, justiceiro e bom.
g) Conservação dos gêneros poéticos herdados da Renascença.

O Romantismo no Brasil: 1836 – 1881


1836 – Publicação de “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves Magalhães;

1881 – Publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis e “O Mulato”, de Aluísio de Azevedo.

O Romantismo nasce no Brasil poucos anos depois de nossa independência política. Por isso, as primeiras obras e os primeiros artistas românticos estão empenhados em definir um perfil da cultura brasileira em vários aspectos: a língua, a etnia, as tradições, o passado histórico, as diferenças regionais, a religião, etc.. Assim, podemos dizer que o nacionalismo é o traço essencial que caracteriza a produção dos nossos primeiros escritores românticos, como é o caso de Gonçalves Dias (1823 – 1864), cuja obra apresenta três aspectos marcantes: indianismo, lirismo amoroso e exaltação da pátria.

1a Geração Romântica na Poesia:Nacionalismo / Indianismo


· Criação do herói nacional: o índio;
· Exaltação da natureza;
· Sentimentalismo;
· Religiosidade;
· Volta ao passado medieval;
· Desejo de liberdade.

TEXTO 01: CANÇÃO DO EXÍLIO – Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Onde canta o sabiá.


TEXTO 02: Canção do Exílio – paródia de Murilo Mendes(modernista)

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturanos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!


TEXTO 03: AQUARELA BRASILEIRA – Ari Barroso

Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingá
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...

Ô abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do serrado
Bota o rei congo no gongado
Brasil! Brasil!
Deixa cantar de novo o trovador
À merencórea luz da lua
Toda canção do meu amor...
Quero ver a “sá dona” caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado.
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...

Ô esse coqueiro que dá coco
Oi onde amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil! Brasil!
Ô oi essas fontes murmurantes
Oi onde eu mato minha sede

E onde a lua vem brincá
Oi, esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...


TEXTO 04: BRASIL – cazuza
Não me convidaram
pra essa festa pobre
que os homens armaram
pra me convencer
a pagar sem ver
toda essa droga
que já vem malhada
antes d’eu nascer.
Não me ofereceram
nem um cigarro,
fiquei na porta
estacionando os carros.
Não me elegeram
chefe de nada:
o meu cartão de crédito
é uma navalha.
Brasil, mostra a tua cara.
Quero ver quem paga
pra gente ficar assim.
Brasil,
qual é o teu negócio,
o nome do teu sócio?
Confia em mim.
Não me sortearam
a garota do Fantástico,
não me subornaram.
Será que é o fim
ver TV a cores
na taba de um índio
programada pra só dizer sim?
Grande pátria desimportante,
em nenhum instante eu vou te trair.


2a Geração Romântica na Poesia:Ultra-Romantismo

· Mal do século
· Egocentrismo
· Pessimismo
· Desilusão adolescente, tédio
· Satanismo
· Atração pela morte
· Fuga da realidade
· Influência do poeta inglês Lord Byron.
· Principais autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire.

Alguns anos depois da introdução do Romantismo no Brasil, a poesia ganha novos rumos graças ao aparecimento dos ultra-românticos, poetas desinteressados pela vida político-social, voltados para si mesmos, com uma atitude profundamente pessimista diante da vida, entediados, sem perspectivas, sonhando com amores impossíveis e esperando a morte chegar.
“Morria-se jovem porque isso era triste e lamentável... Secreta ou confessadamente, o homem romântico se inclinava a morrer moço. E quantos, mas quantos não terão morrido apenas vítimas desse pressentimento, nem vale a pena imaginar!... “ (Mário de Andrade)
Os ultra-românticos apresentam uma visão dualista do amor, que envolve atração e medo, desejo e culpa, temendo, inclusive, a realização amorosa. O ideal feminino é, normalmente, associado a figuras incorpóreas ou assexuadas, como anjo, criança, virgem, etc., e as referências ao amor físico se dão apenas de modo indireto, sugestivo ou superficial.


TEXTO 01: AMOR E MEDO – Casimiro de Abreu

No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucava com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!

Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Anjo enlodado nos pauis da terra.

...............................................................
Se de ti fujo é que te adoro e muito,
És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!...



TEXTO 02: VAGABUNDO – Álvares de Azevedo

Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso;
Nas noites de verão namoro estrelas;
Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!

Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noites serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza.

........................................................
Tenho por palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores;
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.


TEXTO 03: NÉVOAS (parte) – Fagundes Varela

Nas horas tardias que a noite desmaia,
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a luz cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz.

Eu vi entre os flocos de névoas imensas,
Que em grutas extensas se elevam no ar,
Um corpo de fada, serena dormindo,
Tranquila sorrindo num brando sonhar.

Na forma de neve, puríssima e nua,
Um raio da lua de manso batia,
E assim reclinada no túrbito leito
Seu pálido peito de amores tremia.

Nas nuas espáduas, dos astros dormentes
Tão frio não sentes o pranto filtrar?
E as asas de prata do gênio das noites
Em tíbios açoites a trança agitar?

E as auras passavam, e as névoas tremia
E os gênios corriam no espaço a cantar,
Mas ela dormia tão pura e divina
Qual pálida ondina nas águas do mar!

E as brisas da aurora ligeiras corriam,
No leito batiam da fada divina...
Sumiram-se as brumas do vento
à bafagem
E a pálida imagem desfez-se em neblina


TEXTO 04: EMOÇÕES – Roberto Carlos
Quando eu estou aqui
Eu vivo este momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções sentindo
São tantas já vividas
São momentos que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Estórias que eu contei aqui
Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo
Sei tudo que o amor é capaz de me dar
Eu sei, já sofri, mas não deixo de amar
Se chorei ou se sofri
O importante é que emoções eu vivi
Mas eu estou aqui
Vivendo este momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo
Em paz com a vida e o que ela me traz
Na fé que me faz otimista de mais
Se chorei ou se sorri
O importante é que emoções eu vivi.

3a Geração Romântica na Poesia:Condoreirismo


As décadas de 60 e 70, do século XIX, representam para a poesia brasileira um período de transição. Ao mesmo tempo que muitos dos procedimentos das gerações anteriores são mantidos, novidades de forma e de conteúdo dão origem à terceira geração da poesia romântica, mais voltada para os problemas sociais e com uma nova forma de tratar o tema amoroso.
· poesia social libertária;
· protesto político;
· libertação dos escravos (liberdade = condor);
· tendência realista;
· influência do escritor francês Victor Hugo.

· Principais autores: Castro Alves e Joaquim de Souza Andrade (Sousândrade).

POESIA ENGAJADA – é aquela que se coloca a serviço de uma causa político-ideológica, procurando ser uma arte de contestação e conscientização.
No século XX, vários poetas deram continuidade a essa corrente poética, como: Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Thiago de Melo e outros.
A música popular também cumpriu esse papel nos anos 60 do século passado, durante o regime militar, principalmente pela voz de Geraldo Vandré, chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

TEXTO 01: NAVIO NEGREIRO – Castro Alves

Era um sonho dantesco!... o tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros ... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoas vãs!

No entanto o capitão manda a manobra.
E após fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...”

E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presas nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra.
E após fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...”

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras
voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...


TEXTO 02 – BOA NOITE – Castro Alves

Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde ... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite! ... E tu dizes – Boa noite,
Mas não mo digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
-Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti? Pois foi mentira
Quem cantou foi teu hálito, divina!

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
-Boa noite! – formosa Consuelo!...


TEXTO 03 – HAITI – Caetano Veloso e Gilberto Gil

Quando você for convidado para subir no adro
da fundação Casa de Jorge Amado
pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
dando porrada na nuca de malandros pretos
de ladrões mulatos e outros quase pretos
(e são quase todos pretos) / e os quase brancos pobres como pretos
como é que pretos, pobres e mulatos / e quase brancos quase pretos
de tão pobres são tratados......
e quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
e pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos....
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui, o Haiti é aqui.


Questões de Vestibulares e Concursos: O Romantismo

1. A época romântica caracteriza-se por:
a) lusófoba e nacionalista
b) de influência inglesa
c) atéia e influenciada pelo positivismo
d) carente de bons poetas

2. Assinale a alternativa em que se encontram três características do movimento literário ao qual se dá o nome de Romantismo.
a) predomínio da razão, perfeição da forma, imitação dos antigos gregos e romanos.
b) reação anticlássica, busca de temas nacionais, sentimentalismo e imaginação.
c) anseio de liberdade criadora, busca de verdades absolutas e universais, arte pela arte.
d) desejo de expressar a realidade objetiva, erotismo, visão materialista do universo.
e) Preferência por temas medievais, rebuscamento de conteúdo e de forma, tentativa de expressar a realidade inconsciente.

3. “lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá
sinhá,
cá?
bah!”

O poema acima, do poeta contemporâneo José Paulo Paes, alude parodisticamente ao poema:
a) Voz do Poeta, de Fagundes Varela.
b) As Pombas, de Raimundo Correia.
c) Meus Oito Anos, de Casimiro de abreu.
d) Canção do Exílio, de Gonçalves Dias.

4. “Suspiros Poéticos e Saudades”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “O Mulato” são, respectivamente, obras que marcam, no Brasil, a introdução dos seguintes movimentos literários:
a) Romantismo, Simbolismo, Modernismo
b) Romantismo, Realismo, Naturalismo
c) Realismo, Simbolismo, Naturalismo
d) Realismo, Modernismo, Parnasianismo


5. Leia atentamente o fragmento da poesia “Ainda uma vez – adeus!”, de Gonçalves Dias :
“Enfim te vejo! – enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito pensei, cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado,
A não lembrar-me de ti!

Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar nas crespas cerviz!
Baldão, ludibrio da sorte
Em terra estranha, entre gente
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!

Louco, aflito, a saciar-me
D’agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp’rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!”

a) Aponte três características românticas presentes no fragmento acima. Justifique sua resposta com palavras ou frases do texto.

b) Na terceira estrofe, temos as palavras tédio, morte, vida e viver. Qual a relação estabelecida entre elas pelo autor?

c) Como o eu-lírico se caracteriza diante do amor frustrado?

6. “Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem, Tu és apenas
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.”

a) O texto caracteriza qual geração romântica?

b) O que representa a morte para o poeta?

c) Quem é o autor do texto acima?


7. Marque a opção que traz a obra considerada marco inicial do Romantismo no Brasil:
a) Iracema
b) Marília de Dirceu
c) O Guarani
d) Suspiros Poéticos e Saudades

8. Assinale a opção que melhor preencha a lacuna existente no seguinte texto:
“Segundo a interpretação de Karl Manheim, o ______expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza, que já caiu, e a pequena burguesia que ainda não subiu: de onde vem as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que pontuam todo o movimento.”
a) Realismo
b) Romantismo
c) Impressionismo
d) Arcadismo

9. O desejo de morrer e a sentimentalidade doentia são características da poesia do autor de Lira dos vinte anos. Trata-se de:
a) Gonçalves Dias
b) Gonçalves de Magalhães
c) Álvares de Azevedo
d) Castro Alves
e) Casimiro de Abreu

10. “Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... e devo então dormir com ela?...
Se ela ao menos dormisse mascarada!”...
Entre as alternativas a seguir, marque a melhor define o tipo de humor explorado pelo poeta na estrofe aqui transcrita.
a) humor negro, em que zomba de sua própria dor.
b) sátira, com o propósito de reformar determinada situação.
c) humor colérico, aplicado com o intuito de ironizar, castigar.
d) espírito de troça: pilhéria para divertir e provocar risos nos leitores.
e) oposição entre o racional e o irracional a ponto de deturpar as formas naturais.

11. “Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embaladas!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!”
A estrofe demonstra que a mulher aparece, frequentemente, na poesia de Álvares de Azevedo, como figura:
a) sensual
b) próxima
c) inacessível
d) concreta
e) natural

12. Os poemas de Álvares de Azevedo desenvolvem atmosferas variadas que vão do lirismo mais ingênuo ao erotismo, com toques de ironia, tristeza, zombaria, sensualidade, tédio e humor. Estas características demonstram:
a) a carga de brasilidade do seu autor.
b) a preocupação do autor com os destinos de seu país.
c) os aspectos neoclássicos que ainda persistem nos versos desse autor.
d) o ultra-romantismo, marcante nesse autor.
e) o aspecto social de seus versos.

13. “Pátria de liberdade! Antros profundos;
Vastos palácios; eternais castelos,
Mandai-me os gênios das sombrias grutas
De meus grilhões espedaçar os elos!...”

a) O autor dos versos acima apresenta características da transição da Segunda para a terceira geração romântica. Quem é ele?

b) Percebe-se, nitidamente, uma postura política no texto. Qual?

14. “Deus! Ó Deus! onde estás que não me respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...”

a) De quem são esses versos?

b) que contexto social revelam?

15. Na poesia lírico-amorosa de Castro Alves observa-se:
a) uma posição platônica em relação ao amor, sobre o qual versifica em linguagem racional e contida.
b) a idealização da mulher, cantada constantemente como objeto inacessível ao poeta.
c) a preocupação de ocultar, por meio de excesso de figuras de linguagem, os mais recônditos desejos do poeta.
d) uma renovação em relação à de seus antecessores, pela expressão ousada dos impulsos eróticos.
e) a mesma timidez revelada nos devaneios líricos dos poetas da geração byroniana.

A Prosa Romântica

O Romantismo marca a afirmação do romance como gênero literário de grande aceitação popular. Trata-se de um texto em prosa, normalmente longo, que possui vários núcleos narrativos em torno de um núcleo central. Narra fatos criados ou relacionados a personagens, numa sequência de tempo relativamente ampla e em determinado lugar ou determinados lugares.
Por relatar acontecimentos da vida comum e cotidiana e por dar vazão ao gosto burguês pela fantasia e pela aventura, o romance vem a ser o mais legítimo veículo de expressão artística desta classe.
A palavra romance, popularmente, assume também o sentido de caso amoroso. Talvez por causa disso, algumas pessoas pensem que todo romance tenha, obrigatoriamente, um tema amoroso. Na verdade, como gênero literário, há vários tipos de romance: histórico, regional, urbano, psicológico, policial, etc. O amor pode ou não participar de qualquer um deles.
Outra confusão é pensar que todo romance seja romântico. Embora tenha se firmado no Romantismo, o romance tem vida própria, fez parte de movimentos literários posteriores e chegou até aos nossos dias.
Tanto na Europa quanto no Brasil, o romance surgiu sob a forma de folhetim, que era uma publicação diária, em jornais, de capítulos de determinada obra literária.
Para garantir que o leitor comprasse o jornal no dia seguinte e lesse mais um capítulo do romance, os autores folhetinescos valeram-se de certas técnicas, como cortar a narrativa no momento culminante de uma cena. Esta técnica, a mais explorada, pode ser observada até hoje nas telenovelas, herdeiras diretas do romance folhetinesco. Outros ingredientes comuns aos dois tipos de narrativa são o triângulo amoroso, a vitória do bem contra o mal e o final feliz.
O primeiro romance brasileiro de que se tem notícia foi O Filho do Pescador (1843), de Teixeira e Souza(1812-1881), uma obra sentimentalóide e de trama confusa, não se identificando com as linhas gerais do nosso romantismo.
Pela aceitação obtida junto ao público leitor, convencionou-se adotar o romance A Moreninha(1844), de Joaquim Manuel de Macedo, como o primeiro romance brasileiro.

Características da Prosa Romântica
O FLASH-BACK NARRATIVO: O narrador faz uma volta no tempo para explicar, por meio do passado, certas atitudes das personagens no presente. Às vezes, esse flash-back traz revelações surpreendentes.

O AMOR COMO REDENÇÃO: O conflito narrativo dos romances românticos é, normalmente, a oposição entre os valores da sociedade e o desejo da realização amorosa dos amantes: ou a família não deseja a união do casal, ou um dos dois está impossibilitado(social ou religiosamente) ou não merece, moralmente, o amor do outro. De qualquer forma, o amor é sempre visto como o único meio do herói ou vilão romântico se redimirem e se purificarem.

IDEALIZAÇÃO DO HERÓI: O herói romântico, em geral, é um ser dotado de idealismos, de honra e de coragem. Às vezes, põe a própria vida em risco para atender aos apelos do coração ou da justiça.

IDEALIZAÇÃO DA MULHER: Normalmente, as heroínas românticas são moças sem opinião própria, dominadas pela emoção, obedientes às determinações dos pais e educadas para o casamento. Frágeis, frequentemente sofrem de mal-estar ou desmaiam. Sua ocupação principal é sonhar com um “príncipe encantado” e tramar intrigas sentimentais.

PERSONAGENS PLANAS: Em geral, as personagens são trabalhadas emocionalmente, mas não como um todo; ou seja, não se mostra o lado racional delas, suas reflexões existenciais, seus conflitos interiores. Além disso, essas personagens, normalmente, são lineares, isto é, não sofrem mudança e mantêm esse perfil do começo ao fim da obra – por isso são chamadas de planas. As poucas personagens esféricas do Romantismo pertencem a obras de transição para o Realismo.

LINGUAGEM METAFÓRICA: A prosa romântica tende à fantasia e à imaginação, por isso são frequentes as descrições com adjetivação abundante, as comparações e as metáforas, com a finalidade de idealizar um ambiente ou uma personagem: “Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.”

Tendências do Romance Romântico
ROMANCE INDIANISTA: Celebra o estado de pureza e inocência do índio (“o bom selvagem”) , sua nobreza e sua valentia, bem como a formação mestiça da raça brasileira.
Principal escritor: José de Alencar
Obras: O Guarani(1857); Iracema(1865); Ubirajara(1874).

ROMANCE SERTANEJO ou REGIONALISTA: Diferentemente dos outros tipos de romances românticos, o romance regional não tinha modelos no romantismo europeu e, por isso, foi obrigado a construir seus próprios modelos.
Estendendo o olhar para os quatro cantos do Brasil, o romance regional buscou compreender e valorizar as diferenças étnicas, linguísticas, sociais e culturais que ainda hoje marcam essas regiões.

Principais autores e obras:

José de Alencar: O Gaúcho(1870); O Tronco do Ipê(1871); O Sertanejo(1875).
Visconde de Taunay: Inocência(1872);
Bernardo Guimarães: O Seminarista(1872); A Escrava Isaura(1875);
Franklin Távora: O Cabeleira.

ROMANCE HISTÓRICO: Reinterpretação nacionalista de fatos e personagens de nossa história, numa revalorização(idealização) de nosso passado.

Principais autores e obras:

José de Alencar: O Guarani(1857); As Minas de Prata(1871); A Guerra dos Mascates(1873);
Bernardo Guimarães: Lendas e Romances; Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais;
Franklin Távora: O Matuto(1878); Lourenço.

ROMANCE URBANO: Tratando das particularidades da vida cotidiana da burguesia, o romance urbano amadureceu o próprio romance como gênero, ao mesmo tempo que solidificou o Romantismo e preparou os caminhos do romance político-social, mais cultivado por outros movimentos literários.
· Temas ligados à vida social, principalmente do Rio de Janeiro;
· Tipos humanos, problemas sociais e morais relacionados às grandes cidades.
Para a burguesia de então, ver o seu mundo retratado nos livros era uma novidade maravilhosa, o que explica o sucesso absoluto desse tipo de romance.

Principais autores e obras:

Joaquim Manuel de Macedo: A Moreninha(1844); O Moço Loiro(1845);
Manuel Antônio de Almeida: Memórias de Um Sargento de Milícias(1853);
José de Alencar: Lucíola(1862); Senhora(1875).

O TEATRO ROMÂNTICO
· Martins Pena;
· Gonçalves Dias;
· José de Alencar.

A Literatura Gótica e o Rock

A designação gótico, na literatura, associa-se ao universo decadente, mórbido e satânico introduzido pelos ultra-românticos. No rock, no entanto, o termo não tem o mesmo significado, já que outras várias tendências, além da gótica, se interessam pelos mesmos temas. Nos anos 70, início do heavy-metal, o grupo Black Sabbath cantou o demônio e o sabá; na década seguinte, o grupo Iron Maiden deu continuidade à proposta, porém introduzindo o misticismo e o exótico. Ainda nos anos 80, o grupo Joy Division, cantando o pessimismo, o mal-estar, a depressão, tornou-se um dos principais representantes do dark rock.

Obras gótico-românticas de Álvares de Azevedo:

· Noite na Taverna(contos);
· Macário(teatro).

NOITE NA TAVERNA pode ser considerada uma obra de contos, apesar de haver um fio narrativo unindo todas as histórias.
No primeiro capítulo, um narrador em 3a pessoa apresenta o ambiente: uma taverna povoada de bêbados e loucos. A uma mesa, alguns homens conversam e bebem. Excitados pelo álcool, cada um deles conta uma história de sua vida.
Todas as histórias narradas são fantásticas, envolvendo trágicos acontecimentos de amor e morte, vícios e crimes, notando-se um forte pessimismo dos narradores em relação à vida.
Os temas mais excêntricos do gosto ultra-romântico são encontrados nessas narrativas: violência física e sexual, adultérios, assassinatos, incestos, necrofilia, antropofagia, corrupção, etc.


Alguns seguidores do estilo gótico:
· Cruz e Souza (simbolista);
· Alphonsus de Guimaraens (simbolista);
· Augusto dos Anjos (pré-modernista);
· Raul Seixas e Paulo Coelho (contemporâneos);
· Rita Lee (contemporânea).


TEXTO 01: de Rita Lee e Roberto de Carvalho
Venha me beijar, meu doce vampiro
Ô, uou, na luz do luar
Ah, ah, ah, ah, venha sugar o calor
De dentro do meu sangue, vermelho,
tão vivo, tão eterno, veneno
que mata a sua sede
que me bebe quente
como um licor
brindando à morte
e fazendo amor.


TEXTO 02: PSICOLOGIA DE UM VENCIDO – Augusto dos Anjos


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!


Realismo, Naturalismo, Parnasianismo

“Na segunda metade do século XIX, o contexto sócio-político europeu mudou profundamente: lutas sociais, tentativas de revolução, novas idéias políticas e científicas. O mundo agitava-se e a literatura não podia mais, como no tempo do romantismo, viver de idealizações, do culto do eu e da fuga da realidade. Era necessária uma arte mais objetiva, que atendesse ao desejo do momento: analisar, compreender, criticar e transformar a realidade. Como resposta a essa necessidade, nascem, quase ao mesmo tempo, três tendências anti-românticas na literatura, que se entrelaçam e se influenciam mutuamente: o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo.”
Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora e idealizada da vida, como fizeram os românticos; era preciso mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano; da impotência do homem diante dos poderosos.
Sociedade: decadência da aristocracia e do clero; ascensão da classe média (burguesia); lutas proletárias; Manifesto Comunista(1848): Marx e Engel.
Economia: o dinheiro domina a vida pública e a privada; a empresa é mais importante que o homem; segunda etapa da Revolução Industrial(aço, petróleo, eletricidade); péssimas condições de trabalho.

CIÊNCIA


· Evolucionismo (Charles Darwin): A Origem das Espécies(1859) – teoria da seleção natural, segundo a qual , a natureza ou o meio selecionam entre os seres vivos aquelas variações que se perpetuarão. Assim, os mais fortes sobrevivem e procriam, e os mais fracos são eliminados antes da procriação.

· Determinismo (H. Taine): o comportamento humano é determinado por três aspectos básicos: o meio, a raça e o momento histórico.

· Positivismo (August Comte): o único conhecimento válido é o positivo, oriundo das ciências. É uma filosofia empírica, baseada na observação do mundo físico. Acredita na capacidade do homem de amar e ser solidário socialmente.
Artes: A arte realista representa o mundo sem idealismos ou sentimentalismos; o artista tem uma posição política (arte engajada); personagens populares das classes menos favorecidas; o artista procura nivelar sua posição à do cientista; os personagens são condicionados ao meio físico e social.


Realismo


Defende uma maior aproximação com a realidade ao descrever os costumes, o relacionamento homem/mulher, as relações sociais, os conflitos interiores do ser humano, a crise das instituições(Estado, igreja, família, casamento).
Introspecção psicológica: o conhecimento sobre o personagem realista não provém apenas de suas atitudes e das descrições físicas. O narrador realista faz um relato de suas vivências interiores, revelando seus conflitos, sentimentos, suas aspirações e lembranças do passado.
Universalização: embora a prosa realista tome como ponto de partida o indivíduo comum e anônimo, tende à universalização, uma vez que todos os homens vivem mais ou menos os mesmos problemas e se sentem da mesma forma.
Obra inicial: Madame Bovary(1857) – Gustave Flaubert.

Naturalismo


Procura dar um novo tratamento ao Realismo, atribuindo-lhe um caráter mais científico a partir das teorias que circulavam na época. A exemplo da medicina experimental e das experiências de laboratório, os naturalistas criam o romance experimental ou o romance de tese, em que procuram provar certas teorias na laboratório humano de ficção, o romance.
Frequentemente, são realçados certos traços instintivos e patológicos do ser humano, identificado como um animal, especialmente nos aglomerados das camadas mais baixas da população.
Obra inicial: Thérèse Raquin – Émile Zola(1867).

Parnasianismo


Representa uma tentativa de recuperar os ideais clássicos varridos pelo Romantismo e restabelecer o equilíbrio, a razão e a objetividade. Imitando os modelos greco-latinos, os parnasianos contentam-se em cultivar temas convencionais e aspiram ao perfeccionismo formal e ao purismo linguístico.
Obras iniciais: Parnase Contemporain – antologias parnasianas publicadas a partir de 1866.


Exercícios

1. Uma literatura se preocupa com os aspectos sociológicos da obra e faz um romance de tese documental, e outra se preocupa com os aspectos patológicos da obra e faz um romance de tese experimental. Aponte, respectivamente, o nome dessas escolas literárias.


2. “Foi efetivamente como protesto contra o exagero do gosto ________________, tornado frio artifício, que o Realismo surgiu. Como é natural, os realistas atacavam o subjetivismo falso dos ___________________ e apelavam para uma objetividade sã, serena e mais sincera, desdenhavam a ingenuidade e o patriotismo, e decididamente optavam pela consciente imitação do gosto estrangeiro.”

3. Leia atentamente o texto de Alceu Valença:

Como Dois Animais


Uma moça bonita
de olhar agateado
deixou em pedaços
o meu coração

Uma onça pintada
e seu tiro certeiro
deixou os meus nervos
de aço no chão

Foi mistério e segredo
e muito mais
foi divino o brinquedo
e muito mais
se amar como dois animais


Meu olhar vagabundo
de cachorro vadio
olhava a pintada
e ela estava no cio.

Era um cão vagabundo
e uma onça pintada
se amando na praça
como os animais.

a) Você diria que o texto acima apresenta pontos comuns com o Naturalismo? Justifique sua resposta.

4. “O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma.”

No trecho acima, o narrador, que é o protagonista da história, questiona-se por que se sente dividido: ele percebe o mundo de um ponto de vista ___________ , mas aspiraria a que ele fosse organizado de acordo com os princípios _______ .


O Realismo no Brasil: 1881 – 1893

1881 – Publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.

1893 – Publicação de “Missal e Broquéis”, de Cruz e Souza, marco inicial do Simbolismo.
“Na segunda metade do século XIX, surgiu um dos melhores prosadores da literatura brasileira: Machado de Assis(1839-1908). Sua obra traz o ambiente do rio de Janeiro do Segundo Reinado e dos primeiros anos da República, um período de muitas mudanças no cenário e na vida brasileira, ultrapassando os limites locais com sua invulgar agudeza na penetração da alma humana e conferindo ao romance brasileiro uma profundidade e uma dimensão raramente atingidas por outros escritores brasileiros.”

Cultivado por Machado de Assis, o romance realista brasileiro é uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo críticas à sociedade a partir do comportamento dos personagens. Por outro lado, o romance realista analisa a sociedade “por cima”, ou seja, suas personagens são capitalistas, pertencem à classe dominante. O romance realista é documental, retrato de uma época.

A OBRA DE MACHADO DE ASSIS

1a fase(romântica ou de amadurecimento):
 ainda preso a alguns princípios da escola romântica: Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena, Iaiá Garcia.

2a fase(realista ou de maturidade): definido dentro das idéias realistas(romances e contos): análise psicológica dos personagens, egoísmo, pessimismo, negativismo, linguagem correta(clássica), frases curtas, capítulos curtos, conversa com o leitor, crítica aos valores românticos: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires.

Machado de Assis escreveu cerca de 200 contos, estreando ainda no Romantismo, com Contos Fluminenses(1869), registrando-se, posteriormente, uma significativa mudança de perspectiva e de linguagem: O Alienista, Missa do Galo, A Cartomante, Noite de Almirante, Teoria do Medalhão, O Epelho, Cantiga de Esponsais, Sereníssima República, Verba Testamentária.

Memórias Póstumas de Brás Cubas: editado em livro em 1881, foi publicado em folhetim no ano anterior, na Revista Brasileira.
O romance apresenta a autobiografia de Brás Cubas, que, depois de morto, resolve escrever suas memórias. Dentre os fatos ligados à sua vida, destacam-se: seus amores juvenis por Marcela, suas aspirações à vida política, sua amizade com o filósofo Quincas Borba e seu caso amoroso com Virgília, mulher de Lobo Neves.

O Naturalismo no Brasil

1881 – Publicação do romance O Mulato, de Aluísio de Azevedo(1857-1913).
É em 1890, com o lançamento de O Cortiço, do mesmo autor, que o Naturalismo atinge o seu apogeu. Nesse mesmo ano, embora despercebido, aparece também o livro de Rodolfo Teófilo, A Fome. No ano seguinte, surge O Missionário, de Inglês de Souza, seguido de A Normalista(1892) e O Bom Crioulo(1895), de Adolfo Caminha.
Nessas obras, o fatalismo das forças sociais e naturais atua pesadamente sobre o homem. Natureza, ambiente social, educação, taras e instintos geram conflitos dramáticos, situações anormais e finais catastróficos.
Para os naturalistas, o homem não passa de um animal cujo destino é determinado pelo meio social em que vive e pela hereditariedade. Nessa visão, roubam-lhe o livre arbítrio, deixando-o à mercê de forças que estão além de seu controle.
Quanto ao conteúdo, o romance naturalista apresenta: determinismo, objetivismo científico, temas de patologia social, observação e análise da realidade, o ser humano descrito sob a ótica do animalesco e do sensual, despreocupação com a moral e literatura engajada.

A OBRA DE ALUÍSIO DE AZEVEDO


Aluísio de Azevedo produziu, simultaneamente, romances românticos (comerciais, para o consumo fácil) e romances naturalistas.
Sua produção naturalista apresenta: preocupação com as classes marginalizadas da sociedade, crítica ao conservadorismo e ao clero, defesa do ideal republicano, valorização dos instintos naturais, comparação de personagens com animais: “ancas de vaca do campo”; um homem morreu “estrompiado como uma besta”; verdadeira satisfação de “animal no cio”; “exalação de animais cansados.”

Obras: Uma Lágrima de Mulher(1880); O Mulato(1881); Mistérios da Tijuca; Casa de Pensão; O Cortiço(1890).

O CORTIÇO – esta obra representa uma conquista definitiva do nosso romance, pois pela primeira vez na literatura brasileira, um escritor dá vida e corpo a um agrupamento humano, uma habitação coletiva.
Inúmeros tipos humanos, quase todos representantes de uma população marginal, desfilam pelas páginas do romance. O ambiente degradado e corrupto onde vivem é o cortiço, cujo dono é o português João Romão, também proprietário da pedreira, onde trabalham, e da venda, onde se endividam ao comprar fiado.

Outros autores e suas principais obras:

· Raul Pompéia(1863-1895): O Ateneu(1888);
· Domingos Olímpio(1850-1906): Luzia-Homem.

Exercícios

1. Em 1881, dois romances fixam o início do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira. Indique as duas obras e seus respectivos autores.

2. “... é uma grande mancha pardacenta que se alonga aos nossos olhos; cinza como o cotidiano do homem burguês, cinza como a eterna repetição dos mecanismos de seu comportamento; cinza como a vida das cidades que já então se unificava em todo o Ocidente. É a moral cinzenta do fatalismo que se destila...”

a) Identifique a estética literária a que se refere o texto anterior.

b) Exemplifique a referência de Alfredo bosi, comentando uma obra ilustrativa desse período.

3. Relacione:
A – valorizou o indianismo com intuito nativista.
B – idealizou a vida campestre como verdadeiro estado da poesia.
C – analisou o momento histórico, revelando-o em sua miséria moral e econômica.
( ) Realismo
( ) Romantismo
( ) Arcadismo

3. Coloque em ordem cronológica as escolas literárias a seguir: Barroco – Romantismo – Trovadorismo – Classicismo – Arcadismo – Humanismo – Quinhentismo – Realismo.


O Parnasianismo no Brasil


“Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se voltaram para o exame da realidade, o Parnasianismo representou, na poesia, o retorno à orientação clássica, ao princípio do belo na arte, à busca do equilíbrio e da perfeição formal. Os parnasianos acreditavam que o sentido maior da arte reside nela mesma, em sua perfeição, e não no mundo exterior”.
O Parnasianismo distancia-se da realidade, voltando-se para si mesmo. Assim, os parnasianos achavam que o objetivo maior da arte não é tratar dos problemas humanos e sociais, mas alcançar a perfeição em sua construção: rimas, métrica, imagens, vocabulário seleto, equilíbrio, etc.
A poesia parnasiana apresenta uma linguagem muito complicada, o soneto como forma fixa, o materialismo, sentimento contido e predomínio da 3a pessoa.
A primeira publicação considerada parnasiana propriamente dita é a obra Fanfarras(1882), de Teófilo Dias, mas coube a outros escritores o papel de solidificar o movimento entre nós.
O poeta modernista Oswald de Andrade criticou, severamente, os parnasianos: “Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano.”

Principais escritores e obras:
· Olavo Bilac(1865 – 1918): Hino à Bandeira, Via Láctea. Sarças de Fogo, O Caçador de Esmeraldas.
· Raimundo Correia(1860 – 1911): Primeiros Sonhos(1879 – fase romântica); Sinfonias(1883), Versos e Versões(1887) – fase parnasiana;
· Alberto de Oliveira(1859 – 1937): Vaso grego; Vaso Chinês; O Muro;
· Vicente de Carvalho(1866-1924): Ardentias e Relicários; Rosa, rosa de amor; Poemas e Canções;
· Luís Guimarães Júnior(1845 – 1898): Visita à Casa Paterna;
· Francisca Júlia(1871 – 1920): Os Argonautas.

TEXTO 01: VASO CHINÊS – Alberto de Oliveira

Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura-
Quem o sabe? – de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura:

Que arte, em pintá-la! A gente acaso
[vendo-a
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição amêndoa.

O Simbolismo

“Os simbolistas, insatisfeitos com a onda de cientificismo e materialismo a que esteve submetida a sociedade industrial européia na segunda metade do século XIX, representam a reação da intuição contra a lógica, do subjetivismo contra a objetividade científica, do misticismo contra o materialismo, da sugestão sensorial contra a explicação racional.”

Características da linguagem simbolista: linguagem vaga(cheia de sugestões); presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, sinestesias; antimaterialismo, anti-racionalismo; misticismo; religiosidade; pessimismo(a dor de existir); interesse pela noite, pelo mistério e pela morte; exploração do inconsciente , do subconsciente e da loucura; busca da essência do ser humano: a alma.

“Ao contrário do ocorreu na Europa, onde o Simbolismo se sobrepôs ao parnasianismo, no Brasil o Simbolismo foi quase inteiramente abafado pelo movimento parnasiano, que gozou de amplo prestígio entre as camadas cultas até as primeiras décadas do século XX. Apesar disso, a produção simbolista deixou contribuições significativas, preparando o terreno para as grandes inovações que iriam ocorrer no século XX, no domínio da poesia.”

Principais autores e obras:

· Cruz e Souza(1861 – 1898): Missal(prosa) e Broquéis(poesia): anulação da matéria para libertação da alma; obsessão pela cor branca; culto da noite, satanismo, pessimismo e morte; poesia meditativa e filosófica; poesia metafísica; a dor de existir;


· Alphonsus de Guimaraens(1870 – 1921): Setenário das Dores de Nossa Senhora; Câmara Ardente; Dona Mística; Pauvre Lyre(pobre lira): devoção pela virgem Maria; a morte como a única maneira de se aproximar de Constança(seu amor) e da Virgem; amor espiritualizado; linguagem de sugestão; uso de aliterações; desesperança: instabilidade da existência; sentimento resignado da passagem do tempo e dos seres.


TEXTO 01: ISMÁLIA - Alphonsus Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...


Exercícios

1. Todo o poema acima é construído com base em antíteses, as quais articulam-se em torno dos desejos contraditórios de Ismália.

a) Destaque dois pares de antíteses do texto.

b) O que deseja Ismália?


2. O Simbolismo, por ser um movimento antilógico e anti-racional, valoriza os aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. Retire do texto palavras ou expressões que comprovem essa característica simbolista.


3. Tal qual no Barroco e no Romantismo, o poema estabelece relações entre corpo e alma ou matéria e espírito. Com base no desfecho do poema:

a) Céu e mar relacionam-se ao universo material ou espiritual?

b) Ismália conseguiu realizar o desejo simbolista de transcendência espiritual? Justifique sua resposta.

Crédito: http://isacliteratura.blogspot.com/2009/03/literatura-3o-ano.html