O Arcadismo (Neoclassicismo)
Engajado no processo de luta ideológica e política que levaria a burguesia ao poder em 1789(Revolução Francesa), o arcadismo pode ser visto , sob o ponto de vista ideológico, como uma arte revolucionária. Porém, do ponto de vista estético, é uma arte conservadora, pois ainda se liga à tradição clássica.
O Arcadismo volta-se para um novo público consumidor, formado pela burguesia e pela classe média. Como expressão artística dessas camadas sociais, identifica-se com as idéias da Ilustração e veicula-se sob a forma de valores que se opõem ao tipo de vida levado pelas cortes aristocráticas e à arte que consumiam, o Barroco.
Daí a idealização da vida natural em oposição à vida urbana; a humildade em oposição aos gastos exorbitantes da nobreza; o racionalismo em oposição à fé; a linguagem simples e direta em oposição à linguagem prolixa do barroco. Esses novos valores artísticos e culturais propunham uma sociedade mais justa, racional e livre.
Características da Linguagem Árcade
FUGERE URBEM (fuga da cidade): “a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce bom”(Rousseau)
“Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.”
(Cláudio Manuel da Costa)
AUREA MEDIOCRITAS (vida medíocre materialmente, mas rica em realizações espirituais).
“Se não tivermos lãs e peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
e os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mãos cosido.”
AUREA MEDIOCRITAS (vida medíocre materialmente, mas rica em realizações espirituais).
“Se não tivermos lãs e peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
e os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mãos cosido.”
(Tomás Antônio Gonzaga)
CARPE DIEM (aproveitar o dia). Curtir o momento, aproveitar a vida enquanto é possível.
“Ah! não, minha Marília, / aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças, / e ao semblante a graça.”
CARPE DIEM (aproveitar o dia). Curtir o momento, aproveitar a vida enquanto é possível.
“Ah! não, minha Marília, / aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças, / e ao semblante a graça.”
(T.A.G.)
IDÉIAS ILUMINISTAS: liberdade, justiça e igualdade social.
“O ser herói, Marília, não consiste
Em queimar os impérios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,
E despovoa a terra
Também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
E tanto pode ser herói o pobre,
Como o maior augusto.”
IDÉIAS ILUMINISTAS: liberdade, justiça e igualdade social.
“O ser herói, Marília, não consiste
Em queimar os impérios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,
E despovoa a terra
Também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
E tanto pode ser herói o pobre,
Como o maior augusto.”
(Tomás Antônio Gonzaga)
CONVENCIONALISMO AMOROSO: na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta que fala de si e de seus reais sentimentos. Quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Não há variações emocionais, graças ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos, levando o poeta a racionalizá-los, mantendo-se o distanciamento amoroso entre os amantes, o que já se observava na poesia clássica. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial.
“Ah! queira Deus que minta sorte irada:
Mas de tão agouro cuidadoso
Só me lembro de Nise, e de mais nada.”
CONVENCIONALISMO AMOROSO: na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta que fala de si e de seus reais sentimentos. Quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Não há variações emocionais, graças ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos, levando o poeta a racionalizá-los, mantendo-se o distanciamento amoroso entre os amantes, o que já se observava na poesia clássica. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial.
“Ah! queira Deus que minta sorte irada:
Mas de tão agouro cuidadoso
Só me lembro de Nise, e de mais nada.”
(Cláudio Manuel da Costa)
Esse convencionalismo amoroso não é seguido por alguns poetas árcades; é o caso do português Bocage e do brasileiro Tomás Antônio Gonzaga, que expõem diretamente suas emoções e suas experiências vividas, sendo por isso considerados pré-românticos ou de transição.
“Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões que me arrastava.”
Esse convencionalismo amoroso não é seguido por alguns poetas árcades; é o caso do português Bocage e do brasileiro Tomás Antônio Gonzaga, que expõem diretamente suas emoções e suas experiências vividas, sendo por isso considerados pré-românticos ou de transição.
“Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões que me arrastava.”
(Bocage)
O Arcadismo no Brasil: 1768 – 1836
1768 – Publicação das Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa;
1836 – Publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães – obra que marca o início do nosso Romantismo.
O Arcadismo brasileiro originou-se e concentrou-se, principalmente, em vila Rica, atual Ouro Preto – MG, e seu aparecimento teve relação direta com o grande crescimento urbano verificado nas cidades mineiras do século XVIII, cuja base econômica era a extração do ouro.
As idéias iluministas, em Vila Rica, levaram vários intelectuais e escritores a sonharem com a independência do Brasil, principalmente após a repercussão da independência dos Estados Unidos da América(1776). Tais sonhos culminaram na frustrada Inconfidência Mineira(1789).
Cecília Meireles, poetisa modernista, em seu Romanceiro da Inconfidência, registra o espírito febril provocado pelo ouro:
O Arcadismo no Brasil: 1768 – 1836
1768 – Publicação das Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa;
1836 – Publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães – obra que marca o início do nosso Romantismo.
O Arcadismo brasileiro originou-se e concentrou-se, principalmente, em vila Rica, atual Ouro Preto – MG, e seu aparecimento teve relação direta com o grande crescimento urbano verificado nas cidades mineiras do século XVIII, cuja base econômica era a extração do ouro.
As idéias iluministas, em Vila Rica, levaram vários intelectuais e escritores a sonharem com a independência do Brasil, principalmente após a repercussão da independência dos Estados Unidos da América(1776). Tais sonhos culminaram na frustrada Inconfidência Mineira(1789).
Cecília Meireles, poetisa modernista, em seu Romanceiro da Inconfidência, registra o espírito febril provocado pelo ouro:
“Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranquilo,
que a noite é um mundo de sustos.”
Por um lado, nossos escritores procuraram obedecer aos princípios estabelecidos pelas academias literárias ou se inspiravam em certos escritores clássicos consagrados, como Camões, Petrarca e Horácio; mas por outro lado, acrescentaram elementos nacionais, dando a nossa literatura uma certa independência.
Texto contemporâneo com características árcades: CASA NO CAMPO(Zé Rodrix e Tavito)
Eu quero uma casa no campo
onde eu possa compor muitos rocks rurais
e tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
onde eu possa ficar do tamanho da paz
e tenha somente a certeza
dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
e um filho de cuca legal
Eu quero plantar com a mão
a pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
do tamanho ideal
pau-a-pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos / Meus livros / e nada mais.
Principais Autores e Obras do Arcadismo Brasileiro
Cláudio Manuel da Costa: 1729 – 1789
Pseudônimo: Glauceste Satúrnio
Musa-pastora: Nise
Poesia lírica: influência camoniana; o amor e a natureza se destacam.
Poesia épica: Vila Rica, que narra a fundação e a história da cidade, exaltando as aventuras dos bandeirantes.
Em 1789, foi acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira. Encontrado morto na prisão, a alegação oficial para sua morte foi de suicídio, versão contestada, inclusive, por Cecília Meireles:
“Dizem que não foi atilho
nem punhal atravessado,
mas veneno que lhe deram,
na comida misturado.
E que chegaram doutores,
e deixaram declarado
que o morto não se matara,
mas que fora assassinado.”
Tomás Antônio Gonzaga: 1744 - 1810
Pseudônimo: Dirceu
Musa-pastora: Marília
Poesia lírica: Marília de Dirceu
Poesia satírica: Cartas Chilenas – poema anônimo e incompleto, cuja autoria lhe fora atribuída.
O mais popular dos poetas árcades mineiros apaixona-se por Maria Dorotéia de Seixas, uma jovem de 16 anos que será cantada em seus versos sob o pseudônimo de Marília.
“Estou no inferno, estou Marília bela;
e uma coisa só é mais humana
a minha dura estrela;
uns não podem mover do inferno os passos;
eu pretendo voar e voar cedo
à glória dos teus braços.”
A omissão da autoria nas Cartas Chilenas decorre do risco resultante de seu conteúdo: satirizavam os desmandos administrativos e morais de Luís da Cunha Menezes, que governou a capitania de Minas gerais entre 1783 e 1788. Estudos recentes reconheceram a autoria de Tomás Antônio Gonzaga.
A obra é toda um jogo de disfarces: Fanfarrão Minésio é o pseudônimo do governador; Chilenas equivale a mineiras; Santiago, de onde são assinadas, equivale a Vila Rica. O autor das cartas é identificado como Critilo e seu destinatário, como Doroteu.
“Aquele, Doroteu, que não é santo,
mas quer fingir-se santo aos outros homens,
pratica muito mais do que pratica
quem segue os sãos caminhos da verdade.
Mal se põe nas igrejas, de joelhos,
abre os braços em cruz, a terra beija,
entorta o seu pescoço, fecha os olhos,
faz que chora, suspira, fere o peito
e executa outras muitas macaquices,
estando em parte onde o mundo as veja.
Assim o nosso chefe, que procura
mostrar-se compassivo, não descansa
com estas poucas obras: passa a dar-nos
da sua compaixão maiores provas.”
Silva Alvarenga: 1749 – 1814
Pseudônimo: Alcindo Palmirendo
Poesia lírica: Glaura.
Sua obra apresenta como principais características: nativismo(elementos da fauna e da flora nacionais) e sensualidade, sendo, considerado, inclusive, um poeta de transição para o Romantismo.
“Neste bosque alegre e rindo
Sou amante afortunado,
E desejo ser mudado
No mais lindo Beija-flor.
Todo o corpo num instante
Se atenua, exala e perde:
E já de oiro, prata e verde
A brilhante e nova cor.”
A Épica Árcade
A épica árcade brasileira é representada, principalmente, pelas obras O Uraguai, de Basílio da Gama, e Caramuru, de Santa Rita Durão. Além de conterem idéias iluministas, esses poemas apresentam também certos aspectos inexistentes na épica européia: o indianismo e o exotismo da paisagem colonial.
Basílio da Gama: 1741 – 1795
Pseudônimo: Termindo Sipílio;
Obra principal: O Uraguai, cujo tema é a luta dos portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas instalados nas missões jesuíticas do atual Rio Grande do Sul, que não queriam aceitar as decisões do Tratado de Madri.
“Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue tépidos e impuros
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
O rouco som da irada artilharia.”
Frei José de Santa Rita Durão: 1722 – 1784
Afirmando que a razão de seu poema Caramuru era o “amor à pátria”, embora tivesse vivido quase todo o tempo em Portugal, Santa Rita confirma a tendência nativista de seu poema, o qual narra as aventuras, em parte históricas, em parte lendárias, do náufrago português Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Em meio às aventuras do protagonista, o autor aproveita para fazer longa descrição das qualidades da terra:
“Não são menos que as outras saborosas
As várias frutas do Brasil campestres;
Com gala de ouro e púrpura vistosas
Brilha a mangaba e os mocujés silvestres.”
Questões de Vestibulares e Concursos
1. “E em arte aos de Minerva se não rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.”
Indique a característica presente nos versos acima, de autoria de Bocage:
a) uso de pseudônimos
b) subjetivismo
c) rompimento com os clássicos
c) rompimento com os clássicos
d) tema pastoril
e) recurso à mitologia greco-romana
2. “Razão feroz, o coração me indagas,
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim) palpando, e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.”
e) recurso à mitologia greco-romana
2. “Razão feroz, o coração me indagas,
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim) palpando, e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.”
O Pré-Romantismo é uma fase de transição do arcadismo para o Romantismo. Aponte no fragmento do soneto acima, de Bocage, uma característica árcade e outra romântica.
3. “As Cartas Chilenas são importante documento histórico sobre o século _____ ao fazer a sátira ao então governador de Minas Gerais, tratado nas cartas pelo pseudônimo de________________________. O remetente assinava com o nome de __________________________ e o destinatário era____________________.
4. Leia, atentamente, os versos a seguir e aponte as características árcades presentes neles:
a) “Façamos, sim, façamos doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos.”
b) “Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças,
E ao semblante a graça!”
5. “Por fim, acentua o polimorfismo cultural dessa época o fato de se desenrolarem acontecimentos historicamente relevantes, como a Inconfidência Mineira e a transladação da corte de D. João VI para o Rio de Janeiro.”
O crítico Massaud Moisés refere-se a que escola literária?
a) Quinhentismo
b) Romantismo
c) Humanismo
d) Barroco
d) Barroco
e) Arcadismo
6. Sobre o Arcadismo brasileiro só não se pode afirmar que:
6. Sobre o Arcadismo brasileiro só não se pode afirmar que:
a) tem suas fontes nos antigos autores gregos e latinos, dos quais imita os motivos e as formas.
b) Teve em Cláudio Manuel da Costa o representante que, de forma original, recusou a motivação bucólica e os modelos camonianos da lírica amorosa.
c) Nos legou os poemas de feição épica Caramuru, de Frei José de Santa Rita Durão e O Uraguai, de Basílio da Gama, no qual se reconhece qualidade literária em relação ao primeiro.
d) Norteou, em termos de valores estéticos básicos, a produção dos versos de Marília de Dirceu, obra que celebrizou Tomás Antônio Gonzaga e que destaca a originalidade de estilo e de tratamento local dos temas pelo autor.
e) Apresentou uma corrente de conotação ideológica envolvida com as questões sociais do seu tempo e com a crítica aos abusos da Coroa.
7. Assinale a alternativa que apresenta dois poetas que participaram da Inconfidência Mineira.
a) Cláudio Manuel da Costa – Tomás Antônio Gonzaga
b) Castro Alves – Tomás Antônio Gonzaga
c) Gonçalves Dias – Cláudio Manuel da Costa
d) Gonçalves Dias – Gonçalves de Magalhães
8. Sobre o poema O Uraguai é correto afirmar que:
a) O herói do poema é Diogo Álvares, responsável pela primeira ação colonizadora da Bahia.
b) O índio Cacambo, ao saber da morte de sua amada, Lindóia, suicida-se.
c) Escrito em plena vigência do Barroco, filiou-se à corrente cultista.
d) Os jesuítas aparecem como vilões, enganadores dos índios.
e) Segue a estrutura épica camoniana.
9. “Apenas, Doroteu, o nosso chefe
As rédeas manejou do seu governo,
Fingir nos intentou que tinha uma alma
Amante da virtude. Assim foi Nero.”
O trecho acima pertence a:
a) Obras, de Cláudio Manuel da Costa.
b) Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga.
c) Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga.
d) Poesias Satíricas, de Gregório de Matos.
e) O Uraguai, de Basílio da Gama.
10. “Que diversas são, Marília, as horas
Que passo na masmorra imunda, e feia,
Dessas horas felizes já passadas
Na tua pátria aldeia!”
Esses versos de Marília de Dirceu caracterizam:
a) A primeira parte da obra, o namoro.
b) A felicidade da futura família.
c) A segunda parte da obra, a cadeia.
d) O sonho de realizar a Inconfidência.
e) O sonho de um futuro feliz ao lado da amada.
O Romantismo
Fala-se no fim do romantismo, todavia apesar dos jovens terem inventado o verbo “ficar”, que contraria todas as normas românticas tradicionais, o escritor moderno Marcos Rey expressa, de uma forma divertida, uma opinião diferente:
“...não é impossível o retorno do romantismo ainda neste século. Há algumas evidências assinalando mudanças. Aumentou, inexplicavelmente, em todo o globo, o número de casamentos. Um novo tipo de radar localizou algumas virgens maiores de 18 anos em diversos países. As doceiras andam felizes com os pedidos de bolos de noiva. O soneto está de volta. Quem diria! E também a coladinha... refiro-me à dança de rosto colado, pele sobre pele, respiração sincopada, quando as orquestras, mesmo com o salão lotado, tocavam só para dois.”
O tipo de romantismo a que se refere o escritor não é a mesma coisa que o Romantismo na arte. Este também está relacionado aos sentimentos, entretanto foi muito mais que isso. Foi um amplo movimento que surgiu no século XIX e representou, artisticamente, os anseios da burguesia, que havia acabado de chegar ao poder na França.
Características da linguagem romântica(conteúdo)
SUBJETIVISMO: o artista romântico trata dos assuntos de uma forma pessoal, de acordo com o que sente, fazendo um recorde subjetivo e idealizado da realidade que o cerca.
“Nosso Céu tem mais estrelas, / Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida mais amores.”
IDEALIZAÇÃO: O romântico trata os assuntos, em geral, não da maneira como são, mas como deveriam ser segundo sua ótica pessoal: a pátria é sempre perfeita; a mulher é sempre uma virgem delicada, frágil, submissa e inatingível; o amor é espiritual e inalcançável; o índio é um herói nacional, cheio de virtudes.
“Ó minha amante, minha doce virgem, / Eu não te profanei, e dormes pura:
No sono do mistério, qual na vida, / Podes sonhar apenas na ventura.”
SENTIMENTALISMO: A relação entre o artista romântico e o mundo é sempre mediada pela emoção, seja diante de um tema amoroso, político, social ou indianista.
“Meu Deus! eu chorei tanto no exílio! / Tanta dor me cortou a voz sentida,
Que agora neste gozo de proscrito / Chora minh’alma e me sucumbe a vida!”
EGOCENTRISMO: A maioria dos poetas românticos volta-se, predominantemente, para o próprio eu, numa atitude narcisista.
“Era uma noite – eu dormia / E nos meus sonhos revia
As ilusões que sonhei! / e no meu lado senti...
Meu Deus, por que não morri? / Por que no sono acordei?”
MEDIEVALISMO: Interesse pelas origens de seu próprio país, de seu povo e de sua língua, daí, no Brasil, a idealização do nosso índio. Um exemplo de medievalismo é o filme Excalibur, da Warner Home Vídeo.
INDIANISMO: o nosso índio encarna o ideal do “bom selvagem”, de Rousseau, tornando-se um verdadeiro herói nacional. A idéia do “bom selvagem” é observada nos filmes A Lagoa Azul e O Guarani.
RELIGIOSIDADE: Representa uma nítida reação ao racionalismo materialista do século anterior. A vida espiritual é enfocada como ponto de apoio ou válvula de escape diante das frustrações do mundo real.
BYRONISMO: (Lord Byron – poeta inglês) Representa um estilo de vida boêmia, noturna, voltada para o vício, para os prazeres da bebida, do fumo e do sexo; a forma de ver o mundo é egocêntrica, narcisista, pessimista, angustiada e, às vezes, satânica.
“Oh! Não maldigam o mancebo exausto / Que no vício embalou, a rir, os sonhos,
Que lhe manchou as perfumadas tranças / Nos travesseiros da mulher sem brio!”
CONDOREIRISMO: Corrente poética político-social, que ganhou repercussão entre os poetas da terceira geração. Influenciados pelo escritor francês Victor Hugo, os poetas condoreiros defendem a justiça social e a liberdade.
“Oh! bendito o que semeia / Livros ... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar! / O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma, / É chuva – que faz o mar.”
Quanto a forma, a linguagem romântica apresenta: vocabulário e sintaxe mais simples; gosto por métricas populares; irregularidade estrófica; maior liberdade formal e descrições detalhadas, com emprego constante de comparações e metáforas, com a intenção de dar vazão à fantasia, à imaginação e a idealização.
Na MÚSICA ocorre o abandono das fórmulas clássicas, a expressão dos estados de alma, dos sentimentos e das paixões e o subjetivismo: Chopin, Schubert e Beethoven.
Exercícios
1. Nos fragmentos a seguir ocorrem as palavras romantismo e romântico. Identifique se elas se referem ao romantismo como comportamento ou ao Romantismo como estilo de época.
a) Maria romântica: Após dois anos sem se apresentar no Rio de Janeiro, Maria Bethânia volta aos palcos cariocas com um show que ela mesma classifica de rom6antico – e a cantora está romântica e discreta até no guarda-roupa e no próprio título do espetáculo, Maria.
b) Desfiles em Paris: Oriente e romantismo dominam coleções.
c) Em seu estudo sobre a moda do século XIX, Gilda Mello e Souza mostra que a moda era o único meio lícito de expressão da mulher romântica...
d) “Quatro Casamentos” resgata o romantismo.
2. Leia os trechos seguintes e indique a(s) característica(s) românticas que ocorre(m) em cada um, entre as indicadas a seguir:
subjetivismo – sentimentalismo – exaltação da natureza – natureza concebida como refúgio – incorporação de fatos misteriosos – religiosidade – valorização da infância – idealização da figura feminina – pessimismo – valorização do passado – nacionalismo – atração pela morte – valorização do homem em estado selvagem
a) “Feliz a inteligência vulgar e rude, que segue os caminhos da vida com os olhos fitos na luz e na esperança postas pela religião além da morte...” (Alexandre Herculano)
b) “Brilha a lua no céu, brilham estrelas, / Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se / Um quebranto de amor, melhor que a vida!
(Gonçalves Dias)
c) “Oh! dias da minha infância! / Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era / Nessa risonha manhã.” (Casimiro de Abreu)
d) “Creio em Deus, amo a pátria, e em noites lindas
Minh’alma – aberta em flor – sonha contigo.” (Casimiro de Abreu)
e) “Morena, minha sereia, / Tu és a rosa da aldeia, / Mulher mais linda não há...”
(Casimiro de Abreu)
f) “Por mim, não conheço objeto mais lindo em toda a natureza, mais feiticeiro, mais capaz de arrebatar o espírito e inflamar o coração do que é uma jovem donzela quando a modéstia lhe faz subir o rubor às faces e o pejo lhe carrega brandamente nas pálpebras...”(Almeida Garret)
3. O fragmento que apresenta características da estética romântica é:
a) “Aqueles cabelos castanhos encaracolados, aquele pescoço enrolado no pisca-pisca embriagante das contas vermelhas.”
b) “Viu ainda dois olhos enormes, redondos, saltados e interrogativos, distúrbio talvez de tiróide, olhos que perguntavam.”
c) “Bonita, não, eu sabia que não, com seu prognatismo e seu cabelo, a esposa bonita não era não.”
d) “Era mulher por dentro e por fora, mulher à direita e à esquerda, mulher por todos os lados, e desde os pés até a cabeça.”
e) “Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo.”
4. Assinale a alternativa falsa:
a) O Romantismo, como estilo, não é modelado pela individualidade do autor; a forma predomina sempre sobre o conteúdo.
b) O Romantismo é um movimento de expressão universal, inspirado nos modelos medievais e unificado pela prevalência de características comuns a todos os escritores da época.
c) O Romantismo como estilo de época, constituiu, basicamente, um fenômeno estético-literário desenvolvido em oposição ao intelectualismo e à tradição racionalista e clássica do século XVIII.
d) O Romantismo, ou melhor, o espírito romântico, pode ser sintetizado numa única qualidade: a imaginação. Pode-se creditar à imaginação a capacidade extraordinária dos românticos de criarem mundos imaginários.
e) O Romantismo caracterizou-se por um complexo de características, como o subjetivismo, o ilogismo, o senso de mistério, o exagero, o culto da natureza e o escapismo.
5. Assinale a(s) alternativa(s) que caracteriza(m) a produção romântica:
a) Atitude subjetiva marcada por intenso sentimentalismo.
b) Decadência do romance entre os gêneros narrativos.
c) Crença no papel do poeta como gênio portador de verdades, cumpridor de missões.
d) Presença da natureza com função expressiva, significando e revelando.
e) Culto do mito da na nação, num momento de grande afirmação cultural.
f) Idealização do herói, visto como ser extraordinário, poderoso, justiceiro e bom.
g) Conservação dos gêneros poéticos herdados da Renascença.
O Romantismo no Brasil: 1836 – 1881
1836 – Publicação de “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves Magalhães;
1881 – Publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis e “O Mulato”, de Aluísio de Azevedo.
O Romantismo nasce no Brasil poucos anos depois de nossa independência política. Por isso, as primeiras obras e os primeiros artistas românticos estão empenhados em definir um perfil da cultura brasileira em vários aspectos: a língua, a etnia, as tradições, o passado histórico, as diferenças regionais, a religião, etc.. Assim, podemos dizer que o nacionalismo é o traço essencial que caracteriza a produção dos nossos primeiros escritores românticos, como é o caso de Gonçalves Dias (1823 – 1864), cuja obra apresenta três aspectos marcantes: indianismo, lirismo amoroso e exaltação da pátria.
1a Geração Romântica na Poesia:Nacionalismo / Indianismo
· Criação do herói nacional: o índio;
· Exaltação da natureza;
· Sentimentalismo;
· Religiosidade;
· Volta ao passado medieval;
· Desejo de liberdade.
TEXTO 01: CANÇÃO DO EXÍLIO – Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Onde canta o sabiá.
TEXTO 02: Canção do Exílio – paródia de Murilo Mendes(modernista)
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturanos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
TEXTO 03: AQUARELA BRASILEIRA – Ari Barroso
Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingá
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...
Ô abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do serrado
Bota o rei congo no gongado
Brasil! Brasil!
Deixa cantar de novo o trovador
À merencórea luz da lua
Toda canção do meu amor...
Quero ver a “sá dona” caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado.
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...
Ô esse coqueiro que dá coco
Oi onde amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil! Brasil!
Ô oi essas fontes murmurantes
Oi onde eu mato minha sede
E onde a lua vem brincá
Oi, esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...
TEXTO 04: BRASIL – cazuza
Não me convidaram
pra essa festa pobre
que os homens armaram
pra me convencer
a pagar sem ver
toda essa droga
que já vem malhada
antes d’eu nascer.
Não me ofereceram
nem um cigarro,
fiquei na porta
estacionando os carros.
Não me elegeram
chefe de nada:
o meu cartão de crédito
é uma navalha.
Brasil, mostra a tua cara.
Quero ver quem paga
pra gente ficar assim.
Brasil,
qual é o teu negócio,
o nome do teu sócio?
Confia em mim.
Não me sortearam
a garota do Fantástico,
não me subornaram.
Será que é o fim
ver TV a cores
na taba de um índio
programada pra só dizer sim?
Grande pátria desimportante,
em nenhum instante eu vou te trair.
2a Geração Romântica na Poesia:Ultra-Romantismo
· Mal do século
· Egocentrismo
· Pessimismo
· Desilusão adolescente, tédio
· Satanismo
· Atração pela morte
· Fuga da realidade
· Influência do poeta inglês Lord Byron.
· Principais autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire.
Alguns anos depois da introdução do Romantismo no Brasil, a poesia ganha novos rumos graças ao aparecimento dos ultra-românticos, poetas desinteressados pela vida político-social, voltados para si mesmos, com uma atitude profundamente pessimista diante da vida, entediados, sem perspectivas, sonhando com amores impossíveis e esperando a morte chegar.
“Morria-se jovem porque isso era triste e lamentável... Secreta ou confessadamente, o homem romântico se inclinava a morrer moço. E quantos, mas quantos não terão morrido apenas vítimas desse pressentimento, nem vale a pena imaginar!... “ (Mário de Andrade)
Os ultra-românticos apresentam uma visão dualista do amor, que envolve atração e medo, desejo e culpa, temendo, inclusive, a realização amorosa. O ideal feminino é, normalmente, associado a figuras incorpóreas ou assexuadas, como anjo, criança, virgem, etc., e as referências ao amor físico se dão apenas de modo indireto, sugestivo ou superficial.
TEXTO 01: AMOR E MEDO – Casimiro de Abreu
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucava com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Anjo enlodado nos pauis da terra.
...............................................................
Se de ti fujo é que te adoro e muito,
És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!...
TEXTO 02: VAGABUNDO – Álvares de Azevedo
Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso;
Nas noites de verão namoro estrelas;
Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noites serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza.
........................................................
Tenho por palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores;
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.
TEXTO 03: NÉVOAS (parte) – Fagundes Varela
Nas horas tardias que a noite desmaia,
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a luz cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz.
Eu vi entre os flocos de névoas imensas,
Que em grutas extensas se elevam no ar,
Um corpo de fada, serena dormindo,
Tranquila sorrindo num brando sonhar.
Na forma de neve, puríssima e nua,
Um raio da lua de manso batia,
E assim reclinada no túrbito leito
Seu pálido peito de amores tremia.
Nas nuas espáduas, dos astros dormentes
Tão frio não sentes o pranto filtrar?
E as asas de prata do gênio das noites
Em tíbios açoites a trança agitar?
E as auras passavam, e as névoas tremia
E os gênios corriam no espaço a cantar,
Mas ela dormia tão pura e divina
Qual pálida ondina nas águas do mar!
E as brisas da aurora ligeiras corriam,
No leito batiam da fada divina...
Sumiram-se as brumas do vento
à bafagem
E a pálida imagem desfez-se em neblina
TEXTO 04: EMOÇÕES – Roberto Carlos
Quando eu estou aqui
Eu vivo este momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções sentindo
São tantas já vividas
São momentos que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Estórias que eu contei aqui
Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo
Sei tudo que o amor é capaz de me dar
Eu sei, já sofri, mas não deixo de amar
Se chorei ou se sofri
O importante é que emoções eu vivi
Mas eu estou aqui
Vivendo este momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo
Em paz com a vida e o que ela me traz
Na fé que me faz otimista de mais
Se chorei ou se sorri
O importante é que emoções eu vivi.
3a Geração Romântica na Poesia:Condoreirismo
As décadas de 60 e 70, do século XIX, representam para a poesia brasileira um período de transição. Ao mesmo tempo que muitos dos procedimentos das gerações anteriores são mantidos, novidades de forma e de conteúdo dão origem à terceira geração da poesia romântica, mais voltada para os problemas sociais e com uma nova forma de tratar o tema amoroso.
· poesia social libertária;
· protesto político;
· libertação dos escravos (liberdade = condor);
· tendência realista;
· influência do escritor francês Victor Hugo.
· Principais autores: Castro Alves e Joaquim de Souza Andrade (Sousândrade).
POESIA ENGAJADA – é aquela que se coloca a serviço de uma causa político-ideológica, procurando ser uma arte de contestação e conscientização.
No século XX, vários poetas deram continuidade a essa corrente poética, como: Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Thiago de Melo e outros.
A música popular também cumpriu esse papel nos anos 60 do século passado, durante o regime militar, principalmente pela voz de Geraldo Vandré, chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
TEXTO 01: NAVIO NEGREIRO – Castro Alves
Era um sonho dantesco!... o tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros ... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoas vãs!
No entanto o capitão manda a manobra.
E após fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...”
E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presas nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra.
E após fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...”
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras
voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
TEXTO 02 – BOA NOITE – Castro Alves
Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde ... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa noite! ... E tu dizes – Boa noite,
Mas não mo digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
-Mar de amor onde vagam meus desejos.
Julieta do céu! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti? Pois foi mentira
Quem cantou foi teu hálito, divina!
Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
-Boa noite! – formosa Consuelo!...
TEXTO 03 – HAITI – Caetano Veloso e Gilberto Gil
Quando você for convidado para subir no adro
da fundação Casa de Jorge Amado
pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
dando porrada na nuca de malandros pretos
de ladrões mulatos e outros quase pretos
(e são quase todos pretos) / e os quase brancos pobres como pretos
como é que pretos, pobres e mulatos / e quase brancos quase pretos
de tão pobres são tratados......
e quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
e pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos....
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui, o Haiti é aqui.
Questões de Vestibulares e Concursos: O Romantismo
1. A época romântica caracteriza-se por:
a) lusófoba e nacionalista
b) de influência inglesa
c) atéia e influenciada pelo positivismo
d) carente de bons poetas
2. Assinale a alternativa em que se encontram três características do movimento literário ao qual se dá o nome de Romantismo.
a) predomínio da razão, perfeição da forma, imitação dos antigos gregos e romanos.
b) reação anticlássica, busca de temas nacionais, sentimentalismo e imaginação.
c) anseio de liberdade criadora, busca de verdades absolutas e universais, arte pela arte.
d) desejo de expressar a realidade objetiva, erotismo, visão materialista do universo.
e) Preferência por temas medievais, rebuscamento de conteúdo e de forma, tentativa de expressar a realidade inconsciente.
3. “lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá
sinhá,
cá?
bah!”
O poema acima, do poeta contemporâneo José Paulo Paes, alude parodisticamente ao poema:
a) Voz do Poeta, de Fagundes Varela.
b) As Pombas, de Raimundo Correia.
c) Meus Oito Anos, de Casimiro de abreu.
d) Canção do Exílio, de Gonçalves Dias.
4. “Suspiros Poéticos e Saudades”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “O Mulato” são, respectivamente, obras que marcam, no Brasil, a introdução dos seguintes movimentos literários:
a) Romantismo, Simbolismo, Modernismo
b) Romantismo, Realismo, Naturalismo
c) Realismo, Simbolismo, Naturalismo
d) Realismo, Modernismo, Parnasianismo
5. Leia atentamente o fragmento da poesia “Ainda uma vez – adeus!”, de Gonçalves Dias :
“Enfim te vejo! – enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito pensei, cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado,
A não lembrar-me de ti!
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar nas crespas cerviz!
Baldão, ludibrio da sorte
Em terra estranha, entre gente
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!
Louco, aflito, a saciar-me
D’agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp’rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!”
a) Aponte três características românticas presentes no fragmento acima. Justifique sua resposta com palavras ou frases do texto.
b) Na terceira estrofe, temos as palavras tédio, morte, vida e viver. Qual a relação estabelecida entre elas pelo autor?
c) Como o eu-lírico se caracteriza diante do amor frustrado?
6. “Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem, Tu és apenas
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.”
a) O texto caracteriza qual geração romântica?
b) O que representa a morte para o poeta?
c) Quem é o autor do texto acima?
7. Marque a opção que traz a obra considerada marco inicial do Romantismo no Brasil:
a) Iracema
b) Marília de Dirceu
c) O Guarani
d) Suspiros Poéticos e Saudades
8. Assinale a opção que melhor preencha a lacuna existente no seguinte texto:
“Segundo a interpretação de Karl Manheim, o ______expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza, que já caiu, e a pequena burguesia que ainda não subiu: de onde vem as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que pontuam todo o movimento.”
a) Realismo
b) Romantismo
c) Impressionismo
d) Arcadismo
9. O desejo de morrer e a sentimentalidade doentia são características da poesia do autor de Lira dos vinte anos. Trata-se de:
a) Gonçalves Dias
b) Gonçalves de Magalhães
c) Álvares de Azevedo
d) Castro Alves
e) Casimiro de Abreu
10. “Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... e devo então dormir com ela?...
Se ela ao menos dormisse mascarada!”...
Entre as alternativas a seguir, marque a melhor define o tipo de humor explorado pelo poeta na estrofe aqui transcrita.
a) humor negro, em que zomba de sua própria dor.
b) sátira, com o propósito de reformar determinada situação.
c) humor colérico, aplicado com o intuito de ironizar, castigar.
d) espírito de troça: pilhéria para divertir e provocar risos nos leitores.
e) oposição entre o racional e o irracional a ponto de deturpar as formas naturais.
11. “Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embaladas!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!”
A estrofe demonstra que a mulher aparece, frequentemente, na poesia de Álvares de Azevedo, como figura:
a) sensual
b) próxima
c) inacessível
d) concreta
e) natural
12. Os poemas de Álvares de Azevedo desenvolvem atmosferas variadas que vão do lirismo mais ingênuo ao erotismo, com toques de ironia, tristeza, zombaria, sensualidade, tédio e humor. Estas características demonstram:
a) a carga de brasilidade do seu autor.
b) a preocupação do autor com os destinos de seu país.
c) os aspectos neoclássicos que ainda persistem nos versos desse autor.
d) o ultra-romantismo, marcante nesse autor.
e) o aspecto social de seus versos.
13. “Pátria de liberdade! Antros profundos;
Vastos palácios; eternais castelos,
Mandai-me os gênios das sombrias grutas
De meus grilhões espedaçar os elos!...”
a) O autor dos versos acima apresenta características da transição da Segunda para a terceira geração romântica. Quem é ele?
b) Percebe-se, nitidamente, uma postura política no texto. Qual?
14. “Deus! Ó Deus! onde estás que não me respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...”
a) De quem são esses versos?
b) que contexto social revelam?
15. Na poesia lírico-amorosa de Castro Alves observa-se:
a) uma posição platônica em relação ao amor, sobre o qual versifica em linguagem racional e contida.
b) a idealização da mulher, cantada constantemente como objeto inacessível ao poeta.
c) a preocupação de ocultar, por meio de excesso de figuras de linguagem, os mais recônditos desejos do poeta.
d) uma renovação em relação à de seus antecessores, pela expressão ousada dos impulsos eróticos.
e) a mesma timidez revelada nos devaneios líricos dos poetas da geração byroniana.
A Prosa Romântica
O Romantismo marca a afirmação do romance como gênero literário de grande aceitação popular. Trata-se de um texto em prosa, normalmente longo, que possui vários núcleos narrativos em torno de um núcleo central. Narra fatos criados ou relacionados a personagens, numa sequência de tempo relativamente ampla e em determinado lugar ou determinados lugares.
Por relatar acontecimentos da vida comum e cotidiana e por dar vazão ao gosto burguês pela fantasia e pela aventura, o romance vem a ser o mais legítimo veículo de expressão artística desta classe.
A palavra romance, popularmente, assume também o sentido de caso amoroso. Talvez por causa disso, algumas pessoas pensem que todo romance tenha, obrigatoriamente, um tema amoroso. Na verdade, como gênero literário, há vários tipos de romance: histórico, regional, urbano, psicológico, policial, etc. O amor pode ou não participar de qualquer um deles.
Outra confusão é pensar que todo romance seja romântico. Embora tenha se firmado no Romantismo, o romance tem vida própria, fez parte de movimentos literários posteriores e chegou até aos nossos dias.
Tanto na Europa quanto no Brasil, o romance surgiu sob a forma de folhetim, que era uma publicação diária, em jornais, de capítulos de determinada obra literária.
Para garantir que o leitor comprasse o jornal no dia seguinte e lesse mais um capítulo do romance, os autores folhetinescos valeram-se de certas técnicas, como cortar a narrativa no momento culminante de uma cena. Esta técnica, a mais explorada, pode ser observada até hoje nas telenovelas, herdeiras diretas do romance folhetinesco. Outros ingredientes comuns aos dois tipos de narrativa são o triângulo amoroso, a vitória do bem contra o mal e o final feliz.
O primeiro romance brasileiro de que se tem notícia foi O Filho do Pescador (1843), de Teixeira e Souza(1812-1881), uma obra sentimentalóide e de trama confusa, não se identificando com as linhas gerais do nosso romantismo.
Pela aceitação obtida junto ao público leitor, convencionou-se adotar o romance A Moreninha(1844), de Joaquim Manuel de Macedo, como o primeiro romance brasileiro.
Características da Prosa Romântica
O FLASH-BACK NARRATIVO: O narrador faz uma volta no tempo para explicar, por meio do passado, certas atitudes das personagens no presente. Às vezes, esse flash-back traz revelações surpreendentes.
O AMOR COMO REDENÇÃO: O conflito narrativo dos romances românticos é, normalmente, a oposição entre os valores da sociedade e o desejo da realização amorosa dos amantes: ou a família não deseja a união do casal, ou um dos dois está impossibilitado(social ou religiosamente) ou não merece, moralmente, o amor do outro. De qualquer forma, o amor é sempre visto como o único meio do herói ou vilão romântico se redimirem e se purificarem.
IDEALIZAÇÃO DO HERÓI: O herói romântico, em geral, é um ser dotado de idealismos, de honra e de coragem. Às vezes, põe a própria vida em risco para atender aos apelos do coração ou da justiça.
IDEALIZAÇÃO DA MULHER: Normalmente, as heroínas românticas são moças sem opinião própria, dominadas pela emoção, obedientes às determinações dos pais e educadas para o casamento. Frágeis, frequentemente sofrem de mal-estar ou desmaiam. Sua ocupação principal é sonhar com um “príncipe encantado” e tramar intrigas sentimentais.
PERSONAGENS PLANAS: Em geral, as personagens são trabalhadas emocionalmente, mas não como um todo; ou seja, não se mostra o lado racional delas, suas reflexões existenciais, seus conflitos interiores. Além disso, essas personagens, normalmente, são lineares, isto é, não sofrem mudança e mantêm esse perfil do começo ao fim da obra – por isso são chamadas de planas. As poucas personagens esféricas do Romantismo pertencem a obras de transição para o Realismo.
LINGUAGEM METAFÓRICA: A prosa romântica tende à fantasia e à imaginação, por isso são frequentes as descrições com adjetivação abundante, as comparações e as metáforas, com a finalidade de idealizar um ambiente ou uma personagem: “Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.”
Tendências do Romance Romântico
ROMANCE INDIANISTA: Celebra o estado de pureza e inocência do índio (“o bom selvagem”) , sua nobreza e sua valentia, bem como a formação mestiça da raça brasileira.
Principal escritor: José de Alencar
Obras: O Guarani(1857); Iracema(1865); Ubirajara(1874).
ROMANCE SERTANEJO ou REGIONALISTA: Diferentemente dos outros tipos de romances românticos, o romance regional não tinha modelos no romantismo europeu e, por isso, foi obrigado a construir seus próprios modelos.
Estendendo o olhar para os quatro cantos do Brasil, o romance regional buscou compreender e valorizar as diferenças étnicas, linguísticas, sociais e culturais que ainda hoje marcam essas regiões.
Principais autores e obras:
José de Alencar: O Gaúcho(1870); O Tronco do Ipê(1871); O Sertanejo(1875).
Visconde de Taunay: Inocência(1872);
Bernardo Guimarães: O Seminarista(1872); A Escrava Isaura(1875);
Franklin Távora: O Cabeleira.
ROMANCE HISTÓRICO: Reinterpretação nacionalista de fatos e personagens de nossa história, numa revalorização(idealização) de nosso passado.
Principais autores e obras:
José de Alencar: O Guarani(1857); As Minas de Prata(1871); A Guerra dos Mascates(1873);
Bernardo Guimarães: Lendas e Romances; Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais;
Franklin Távora: O Matuto(1878); Lourenço.
ROMANCE URBANO: Tratando das particularidades da vida cotidiana da burguesia, o romance urbano amadureceu o próprio romance como gênero, ao mesmo tempo que solidificou o Romantismo e preparou os caminhos do romance político-social, mais cultivado por outros movimentos literários.
· Temas ligados à vida social, principalmente do Rio de Janeiro;
· Tipos humanos, problemas sociais e morais relacionados às grandes cidades.
Para a burguesia de então, ver o seu mundo retratado nos livros era uma novidade maravilhosa, o que explica o sucesso absoluto desse tipo de romance.
Principais autores e obras:
Joaquim Manuel de Macedo: A Moreninha(1844); O Moço Loiro(1845);
Manuel Antônio de Almeida: Memórias de Um Sargento de Milícias(1853);
José de Alencar: Lucíola(1862); Senhora(1875).
O TEATRO ROMÂNTICO
· Martins Pena;
· Gonçalves Dias;
· José de Alencar.
A Literatura Gótica e o Rock
A designação gótico, na literatura, associa-se ao universo decadente, mórbido e satânico introduzido pelos ultra-românticos. No rock, no entanto, o termo não tem o mesmo significado, já que outras várias tendências, além da gótica, se interessam pelos mesmos temas. Nos anos 70, início do heavy-metal, o grupo Black Sabbath cantou o demônio e o sabá; na década seguinte, o grupo Iron Maiden deu continuidade à proposta, porém introduzindo o misticismo e o exótico. Ainda nos anos 80, o grupo Joy Division, cantando o pessimismo, o mal-estar, a depressão, tornou-se um dos principais representantes do dark rock.
Obras gótico-românticas de Álvares de Azevedo:
· Noite na Taverna(contos);
· Macário(teatro).
NOITE NA TAVERNA pode ser considerada uma obra de contos, apesar de haver um fio narrativo unindo todas as histórias.
No primeiro capítulo, um narrador em 3a pessoa apresenta o ambiente: uma taverna povoada de bêbados e loucos. A uma mesa, alguns homens conversam e bebem. Excitados pelo álcool, cada um deles conta uma história de sua vida.
Todas as histórias narradas são fantásticas, envolvendo trágicos acontecimentos de amor e morte, vícios e crimes, notando-se um forte pessimismo dos narradores em relação à vida.
Os temas mais excêntricos do gosto ultra-romântico são encontrados nessas narrativas: violência física e sexual, adultérios, assassinatos, incestos, necrofilia, antropofagia, corrupção, etc.
Alguns seguidores do estilo gótico:
· Cruz e Souza (simbolista);
· Alphonsus de Guimaraens (simbolista);
· Augusto dos Anjos (pré-modernista);
· Raul Seixas e Paulo Coelho (contemporâneos);
· Rita Lee (contemporânea).
TEXTO 01: de Rita Lee e Roberto de Carvalho
Venha me beijar, meu doce vampiro
Ô, uou, na luz do luar
Ah, ah, ah, ah, venha sugar o calor
De dentro do meu sangue, vermelho,
tão vivo, tão eterno, veneno
que mata a sua sede
que me bebe quente
como um licor
brindando à morte
e fazendo amor.
TEXTO 02: PSICOLOGIA DE UM VENCIDO – Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Realismo, Naturalismo, Parnasianismo
“Na segunda metade do século XIX, o contexto sócio-político europeu mudou profundamente: lutas sociais, tentativas de revolução, novas idéias políticas e científicas. O mundo agitava-se e a literatura não podia mais, como no tempo do romantismo, viver de idealizações, do culto do eu e da fuga da realidade. Era necessária uma arte mais objetiva, que atendesse ao desejo do momento: analisar, compreender, criticar e transformar a realidade. Como resposta a essa necessidade, nascem, quase ao mesmo tempo, três tendências anti-românticas na literatura, que se entrelaçam e se influenciam mutuamente: o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo.”
Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora e idealizada da vida, como fizeram os românticos; era preciso mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano; da impotência do homem diante dos poderosos.
Sociedade: decadência da aristocracia e do clero; ascensão da classe média (burguesia); lutas proletárias; Manifesto Comunista(1848): Marx e Engel.
Economia: o dinheiro domina a vida pública e a privada; a empresa é mais importante que o homem; segunda etapa da Revolução Industrial(aço, petróleo, eletricidade); péssimas condições de trabalho.
CIÊNCIA
· Evolucionismo (Charles Darwin): A Origem das Espécies(1859) – teoria da seleção natural, segundo a qual , a natureza ou o meio selecionam entre os seres vivos aquelas variações que se perpetuarão. Assim, os mais fortes sobrevivem e procriam, e os mais fracos são eliminados antes da procriação.
· Determinismo (H. Taine): o comportamento humano é determinado por três aspectos básicos: o meio, a raça e o momento histórico.
· Positivismo (August Comte): o único conhecimento válido é o positivo, oriundo das ciências. É uma filosofia empírica, baseada na observação do mundo físico. Acredita na capacidade do homem de amar e ser solidário socialmente.
Artes: A arte realista representa o mundo sem idealismos ou sentimentalismos; o artista tem uma posição política (arte engajada); personagens populares das classes menos favorecidas; o artista procura nivelar sua posição à do cientista; os personagens são condicionados ao meio físico e social.
Realismo
Defende uma maior aproximação com a realidade ao descrever os costumes, o relacionamento homem/mulher, as relações sociais, os conflitos interiores do ser humano, a crise das instituições(Estado, igreja, família, casamento).
Introspecção psicológica: o conhecimento sobre o personagem realista não provém apenas de suas atitudes e das descrições físicas. O narrador realista faz um relato de suas vivências interiores, revelando seus conflitos, sentimentos, suas aspirações e lembranças do passado.
Universalização: embora a prosa realista tome como ponto de partida o indivíduo comum e anônimo, tende à universalização, uma vez que todos os homens vivem mais ou menos os mesmos problemas e se sentem da mesma forma.
Obra inicial: Madame Bovary(1857) – Gustave Flaubert.
Naturalismo
Procura dar um novo tratamento ao Realismo, atribuindo-lhe um caráter mais científico a partir das teorias que circulavam na época. A exemplo da medicina experimental e das experiências de laboratório, os naturalistas criam o romance experimental ou o romance de tese, em que procuram provar certas teorias na laboratório humano de ficção, o romance.
Frequentemente, são realçados certos traços instintivos e patológicos do ser humano, identificado como um animal, especialmente nos aglomerados das camadas mais baixas da população.
Obra inicial: Thérèse Raquin – Émile Zola(1867).
Parnasianismo
Representa uma tentativa de recuperar os ideais clássicos varridos pelo Romantismo e restabelecer o equilíbrio, a razão e a objetividade. Imitando os modelos greco-latinos, os parnasianos contentam-se em cultivar temas convencionais e aspiram ao perfeccionismo formal e ao purismo linguístico.
Obras iniciais: Parnase Contemporain – antologias parnasianas publicadas a partir de 1866.
Exercícios
1. Uma literatura se preocupa com os aspectos sociológicos da obra e faz um romance de tese documental, e outra se preocupa com os aspectos patológicos da obra e faz um romance de tese experimental. Aponte, respectivamente, o nome dessas escolas literárias.
2. “Foi efetivamente como protesto contra o exagero do gosto ________________, tornado frio artifício, que o Realismo surgiu. Como é natural, os realistas atacavam o subjetivismo falso dos ___________________ e apelavam para uma objetividade sã, serena e mais sincera, desdenhavam a ingenuidade e o patriotismo, e decididamente optavam pela consciente imitação do gosto estrangeiro.”
3. Leia atentamente o texto de Alceu Valença:
Como Dois Animais
Uma moça bonita
de olhar agateado
deixou em pedaços
o meu coração
o meu coração
Uma onça pintada
e seu tiro certeiro
deixou os meus nervos
de aço no chão
Foi mistério e segredo
e muito mais
foi divino o brinquedo
e muito mais
se amar como dois animais
Meu olhar vagabundo
de cachorro vadio
olhava a pintada
e ela estava no cio.
Era um cão vagabundo
e uma onça pintada
se amando na praça
como os animais.
se amar como dois animais
Meu olhar vagabundo
de cachorro vadio
olhava a pintada
e ela estava no cio.
Era um cão vagabundo
e uma onça pintada
se amando na praça
como os animais.
a) Você diria que o texto acima apresenta pontos comuns com o Naturalismo? Justifique sua resposta.
4. “O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma.”
No trecho acima, o narrador, que é o protagonista da história, questiona-se por que se sente dividido: ele percebe o mundo de um ponto de vista ___________ , mas aspiraria a que ele fosse organizado de acordo com os princípios _______ .
O Realismo no Brasil: 1881 – 1893
1881 – Publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.
1893 – Publicação de “Missal e Broquéis”, de Cruz e Souza, marco inicial do Simbolismo.
“Na segunda metade do século XIX, surgiu um dos melhores prosadores da literatura brasileira: Machado de Assis(1839-1908). Sua obra traz o ambiente do rio de Janeiro do Segundo Reinado e dos primeiros anos da República, um período de muitas mudanças no cenário e na vida brasileira, ultrapassando os limites locais com sua invulgar agudeza na penetração da alma humana e conferindo ao romance brasileiro uma profundidade e uma dimensão raramente atingidas por outros escritores brasileiros.”
Cultivado por Machado de Assis, o romance realista brasileiro é uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo críticas à sociedade a partir do comportamento dos personagens. Por outro lado, o romance realista analisa a sociedade “por cima”, ou seja, suas personagens são capitalistas, pertencem à classe dominante. O romance realista é documental, retrato de uma época.
A OBRA DE MACHADO DE ASSIS
1a fase(romântica ou de amadurecimento): ainda preso a alguns princípios da escola romântica: Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena, Iaiá Garcia.
2a fase(realista ou de maturidade): definido dentro das idéias realistas(romances e contos): análise psicológica dos personagens, egoísmo, pessimismo, negativismo, linguagem correta(clássica), frases curtas, capítulos curtos, conversa com o leitor, crítica aos valores românticos: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires.
Machado de Assis escreveu cerca de 200 contos, estreando ainda no Romantismo, com Contos Fluminenses(1869), registrando-se, posteriormente, uma significativa mudança de perspectiva e de linguagem: O Alienista, Missa do Galo, A Cartomante, Noite de Almirante, Teoria do Medalhão, O Epelho, Cantiga de Esponsais, Sereníssima República, Verba Testamentária.
Memórias Póstumas de Brás Cubas: editado em livro em 1881, foi publicado em folhetim no ano anterior, na Revista Brasileira.
O romance apresenta a autobiografia de Brás Cubas, que, depois de morto, resolve escrever suas memórias. Dentre os fatos ligados à sua vida, destacam-se: seus amores juvenis por Marcela, suas aspirações à vida política, sua amizade com o filósofo Quincas Borba e seu caso amoroso com Virgília, mulher de Lobo Neves.
O Naturalismo no Brasil
1881 – Publicação do romance O Mulato, de Aluísio de Azevedo(1857-1913).
É em 1890, com o lançamento de O Cortiço, do mesmo autor, que o Naturalismo atinge o seu apogeu. Nesse mesmo ano, embora despercebido, aparece também o livro de Rodolfo Teófilo, A Fome. No ano seguinte, surge O Missionário, de Inglês de Souza, seguido de A Normalista(1892) e O Bom Crioulo(1895), de Adolfo Caminha.
Nessas obras, o fatalismo das forças sociais e naturais atua pesadamente sobre o homem. Natureza, ambiente social, educação, taras e instintos geram conflitos dramáticos, situações anormais e finais catastróficos.
Para os naturalistas, o homem não passa de um animal cujo destino é determinado pelo meio social em que vive e pela hereditariedade. Nessa visão, roubam-lhe o livre arbítrio, deixando-o à mercê de forças que estão além de seu controle.
Quanto ao conteúdo, o romance naturalista apresenta: determinismo, objetivismo científico, temas de patologia social, observação e análise da realidade, o ser humano descrito sob a ótica do animalesco e do sensual, despreocupação com a moral e literatura engajada.
A OBRA DE ALUÍSIO DE AZEVEDO
Aluísio de Azevedo produziu, simultaneamente, romances românticos (comerciais, para o consumo fácil) e romances naturalistas.
Sua produção naturalista apresenta: preocupação com as classes marginalizadas da sociedade, crítica ao conservadorismo e ao clero, defesa do ideal republicano, valorização dos instintos naturais, comparação de personagens com animais: “ancas de vaca do campo”; um homem morreu “estrompiado como uma besta”; verdadeira satisfação de “animal no cio”; “exalação de animais cansados.”
Obras: Uma Lágrima de Mulher(1880); O Mulato(1881); Mistérios da Tijuca; Casa de Pensão; O Cortiço(1890).
O CORTIÇO – esta obra representa uma conquista definitiva do nosso romance, pois pela primeira vez na literatura brasileira, um escritor dá vida e corpo a um agrupamento humano, uma habitação coletiva.
Inúmeros tipos humanos, quase todos representantes de uma população marginal, desfilam pelas páginas do romance. O ambiente degradado e corrupto onde vivem é o cortiço, cujo dono é o português João Romão, também proprietário da pedreira, onde trabalham, e da venda, onde se endividam ao comprar fiado.
Outros autores e suas principais obras:
· Raul Pompéia(1863-1895): O Ateneu(1888);
· Domingos Olímpio(1850-1906): Luzia-Homem.
Exercícios
1. Em 1881, dois romances fixam o início do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira. Indique as duas obras e seus respectivos autores.
2. “... é uma grande mancha pardacenta que se alonga aos nossos olhos; cinza como o cotidiano do homem burguês, cinza como a eterna repetição dos mecanismos de seu comportamento; cinza como a vida das cidades que já então se unificava em todo o Ocidente. É a moral cinzenta do fatalismo que se destila...”
a) Identifique a estética literária a que se refere o texto anterior.
b) Exemplifique a referência de Alfredo bosi, comentando uma obra ilustrativa desse período.
3. Relacione:
A – valorizou o indianismo com intuito nativista.
B – idealizou a vida campestre como verdadeiro estado da poesia.
C – analisou o momento histórico, revelando-o em sua miséria moral e econômica.
( ) Realismo
( ) Romantismo
( ) Arcadismo
3. Coloque em ordem cronológica as escolas literárias a seguir: Barroco – Romantismo – Trovadorismo – Classicismo – Arcadismo – Humanismo – Quinhentismo – Realismo.
O Parnasianismo no Brasil
“Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se voltaram para o exame da realidade, o Parnasianismo representou, na poesia, o retorno à orientação clássica, ao princípio do belo na arte, à busca do equilíbrio e da perfeição formal. Os parnasianos acreditavam que o sentido maior da arte reside nela mesma, em sua perfeição, e não no mundo exterior”.
O Parnasianismo distancia-se da realidade, voltando-se para si mesmo. Assim, os parnasianos achavam que o objetivo maior da arte não é tratar dos problemas humanos e sociais, mas alcançar a perfeição em sua construção: rimas, métrica, imagens, vocabulário seleto, equilíbrio, etc.
A poesia parnasiana apresenta uma linguagem muito complicada, o soneto como forma fixa, o materialismo, sentimento contido e predomínio da 3a pessoa.
A primeira publicação considerada parnasiana propriamente dita é a obra Fanfarras(1882), de Teófilo Dias, mas coube a outros escritores o papel de solidificar o movimento entre nós.
O poeta modernista Oswald de Andrade criticou, severamente, os parnasianos: “Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano.”
Principais escritores e obras:
· Olavo Bilac(1865 – 1918): Hino à Bandeira, Via Láctea. Sarças de Fogo, O Caçador de Esmeraldas.
· Raimundo Correia(1860 – 1911): Primeiros Sonhos(1879 – fase romântica); Sinfonias(1883), Versos e Versões(1887) – fase parnasiana;
· Alberto de Oliveira(1859 – 1937): Vaso grego; Vaso Chinês; O Muro;
· Vicente de Carvalho(1866-1924): Ardentias e Relicários; Rosa, rosa de amor; Poemas e Canções;
· Luís Guimarães Júnior(1845 – 1898): Visita à Casa Paterna;
· Francisca Júlia(1871 – 1920): Os Argonautas.
TEXTO 01: VASO CHINÊS – Alberto de Oliveira
Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura-
Quem o sabe? – de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura:
Que arte, em pintá-la! A gente acaso
[vendo-a
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição amêndoa.
O Simbolismo
“Os simbolistas, insatisfeitos com a onda de cientificismo e materialismo a que esteve submetida a sociedade industrial européia na segunda metade do século XIX, representam a reação da intuição contra a lógica, do subjetivismo contra a objetividade científica, do misticismo contra o materialismo, da sugestão sensorial contra a explicação racional.”
Características da linguagem simbolista: linguagem vaga(cheia de sugestões); presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, sinestesias; antimaterialismo, anti-racionalismo; misticismo; religiosidade; pessimismo(a dor de existir); interesse pela noite, pelo mistério e pela morte; exploração do inconsciente , do subconsciente e da loucura; busca da essência do ser humano: a alma.
“Ao contrário do ocorreu na Europa, onde o Simbolismo se sobrepôs ao parnasianismo, no Brasil o Simbolismo foi quase inteiramente abafado pelo movimento parnasiano, que gozou de amplo prestígio entre as camadas cultas até as primeiras décadas do século XX. Apesar disso, a produção simbolista deixou contribuições significativas, preparando o terreno para as grandes inovações que iriam ocorrer no século XX, no domínio da poesia.”
Principais autores e obras:
· Cruz e Souza(1861 – 1898): Missal(prosa) e Broquéis(poesia): anulação da matéria para libertação da alma; obsessão pela cor branca; culto da noite, satanismo, pessimismo e morte; poesia meditativa e filosófica; poesia metafísica; a dor de existir;
· Alphonsus de Guimaraens(1870 – 1921): Setenário das Dores de Nossa Senhora; Câmara Ardente; Dona Mística; Pauvre Lyre(pobre lira): devoção pela virgem Maria; a morte como a única maneira de se aproximar de Constança(seu amor) e da Virgem; amor espiritualizado; linguagem de sugestão; uso de aliterações; desesperança: instabilidade da existência; sentimento resignado da passagem do tempo e dos seres.
TEXTO 01: ISMÁLIA - Alphonsus Guimaraens
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Exercícios
1. Todo o poema acima é construído com base em antíteses, as quais articulam-se em torno dos desejos contraditórios de Ismália.
a) Destaque dois pares de antíteses do texto.
b) O que deseja Ismália?
2. O Simbolismo, por ser um movimento antilógico e anti-racional, valoriza os aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. Retire do texto palavras ou expressões que comprovem essa característica simbolista.
3. Tal qual no Barroco e no Romantismo, o poema estabelece relações entre corpo e alma ou matéria e espírito. Com base no desfecho do poema:
a) Céu e mar relacionam-se ao universo material ou espiritual?
b) Ismália conseguiu realizar o desejo simbolista de transcendência espiritual? Justifique sua resposta.
Crédito: http://isacliteratura.blogspot.com/2009/03/literatura-3o-ano.html