1- Os Inconfidentes (1972)
Lançado por Joaquim Pedro de Andrade, Os Inconfidentes é uma co-produção entre Brasil e Itália que narra a história da Inconfidência Mineira. Um grupo de intelectuais e membros da alta elite brasileira se juntam para libertar o país da opressão portuguesa.
De todos, Tirandentes (José Wilker) é aquele que está disposto a ir até o fim, custe o que custar. O filme foi baseado nos livros Os Autos da Devassa e Romanceiro da Inconfidência. Apresenta a reconstrução do período e influenciou diversas produções literárias.
Além de ilustrar um importante momento da história brasileira, a obra também é interessante por contar acontecimentos políticos que influenciaram fortemente o trabalho de autores como Santa Rita Durão, Tomás Antônio Gonzaga e Basílio da Gama.
Além disso, vale a pena conferir o roteiro de Cecília Meireles, Eduardo Escorel e do próprio Joaquim Pedro de Andrade!
2- Dona flor e seus dois maridos (1976)
A obra de Bruno Barreto é uma adaptação do livro homônimo de Jorge Amado. Dona Flor (Sônia Braga) fica viúva de Vadinho (José Wilker), um verdadeiro malandro. Então, ela resolve se casar com o farmacêutico Teodoro Madureira (Mauro Mendonça).
Acontece que, de repente, ela se sente entediada e passa a chamar pelo antigo marido. Vadinho aparece do além e, assim, Dona Flor começa um relacionamento à três. Os traços da oralidade de Jorge Amado estão muito presentes na película dentro de uma linguagem bem regional.
Não é à toa que ele sempre foi conhecido por manter uma afinidade com a figura popular e levar essa marca para a literatura.
Em 2017, o filme ganhou nova versão com a atuação de Juliana Paes como Dona Flor, Marcelo Faria como Vadinho e Lenadro Hassum como Teodoro.
3- Sociedade dos poetas mortos (1990)
John Keating (Robin Williams) é o novo professor de inglês do tradicional internato no qual foi um aluno brilhante. O ensino é rígido como uma academia militar e, por esse motivo, muitos veem a didática dele como reacionária.
Tudo pelo fato de que Keating é do tipo que entra na sala assoviando, diverte os alunos, pratica aulas ao ar livre, incentiva a criação de poesias espontâneas e estimula a vontade de viver intensamente.
Em uma das aulas, ele pede que os alunos rasguem algumas páginas do livro para que possam pensar por si mesmos. No início, todos relutam. Com o tempo, o grupo começa a gostar de literatura e a sensação de viver a poesia.
Então, certo dia um deles descobre que o professor foi membro da Sociedade dos Poetas Mortos e pede mais informações sobre essa formação. John hesita, mas fala da época em que ele e os colegas costumavam se reunir para estudar poesia em um local secreto.
Isso foi o bastante para que todos quisessem reativar o movimento e deixar as inspirações fluírem. Ao mesmo tempo, os estudantes tiveram que lidar com as adversidades do mundo real.
4- Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995)
O filme de Carla Camurati é um marco na história do cinema brasileiro. Participou de mais de 40 festivais ao redor do mundo e levou mais de 1,5 milhão de espectadores aos cinemas em 1995.
Com um orçamento modesto para a época, de 600 mil reais, Carlota Joaquina, Princesa do Brasil é estrelado por Marieta Severo e Marco Nanini.
Trata-se de uma obra histórica, mas com um pesado tom satírico, que mostra a vinda da corte portuguesa para o Brasil através do ponto de vista de Carlota Joaquina, a princesa espanhola que foi prometida em casamento a D. João VI quando era uma garota de apenas dez anos de idade. Assim, ela cresceu e construiu seu lugar na então colônia portuguesa.]
5- Central do Brasil (1998)
Uma das obras brasileiras que ficaram famosas no exterior por conta da indicação ao oscar, Central do Brasil mostra a vida simples de Dora (Fernanda Montenegro). Ela é uma ex-professora de português que escreve cartas para as pessoas que não sabem ler nem escrever.
O cenário é a Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Certo dia, Dora recebe uma senhora que deseja se comunicar com o marido por escrito. O motivo é que seu filho quer conhecê-lo. Segundos depois de fechar o envelope, a mulher morre atropelada e Dora se sente obrigada a levar o garoto até o pai.
Do ponto de vista da Língua Portuguesa, é interessante observar as partes em que a escritora monta a narrativa das cartas. Além disso, cada pessoa tem um tipo de linguagem: a maioria não teve a oportunidade de frequentar uma escola. Então, vemos vários tipos de expressões tipicamente brasileiras.
6. Auto da Compadecida (2000)
A peça Auto da Compadecida não podia ficar de fora dessa lista. A obra foi escrita por Ariano Suassuna e transformada em uma série que foi transmitida na Globo em janeiro de 1998. O sucesso foi tão grande que o diretor Guel Arraes adaptou para filme em 2000.
A história acontece no interior da Paraíba, conhecida como a “Roliúde Nordestina”. Chicó (Matheus Nachtergaele) e João Grilo (Selton Melo) conseguem um emprego na padaria da cidade.
Quando a cadela do padeiro passa mal, os dois tentam convencer o padre a benzê-la, mas sem sucesso. Depois de fazer uma enorme confusão com a morte do animal, João resolve vender um gato afirmando que ele “descomia” dinheiro. Ou seja, saia dinheiro pela boca.
Ambos também enganam Severino, um cangaceiro perigoso. Eles pedem que ele sopre uma gaita mágica para visitar seu padrinho Padre Cícero, com a garantia de voltar à vida depois.
É evidente o cunho de sátira por meio das características das personagens, assim como a presença marcante dos neologismos mais criativos. A história trabalha o tema religioso da moral católica totalmente focada no contexto nordestino.
7. Memórias Póstumas (2001)
Memórias Póstuma de Brás Cubas, a obra-prima de Machado de Assis, deu origem ao realismo brasileiro em 1881. Mais de um século depois, André Klotzel lança a adaptação para os cinemas, intitulada apenas Memórias Póstumas e estrelada por Reginaldo Faria, Sônia Braga e Marcos Caruso.
O roteiro, assinado por Klotzel ao lado de José Roberto Torero, conta com frases retiradas diretamente do livro, mas com algumas peculiaridades próprias que buscam aproximar o filme ainda mais de sua fonte de inspiração.
Portanto, trata-se de uma produção repleta de ironias e de comicidades. Você vai se divertir enquanto se delicia com esse novo olhar sobre uma das maiores obras da literatura brasileira.
8. Caramuru: A Invenção do Brasil (2001)
Dirigido por Guel Arraes e escrito por ele ao lado de Jorge Furtado, Caramuru: A Invenção do Brasil é baseado no livro homônimo de Santa Rita Durão, que faz parte do arcadismo.
Mas, apesar de contar acontecimentos históricos, o filme investe em uma forte pegada cômica que narra os conflitos entre portugueses e índios de uma forma irreverente.
O jovem Diogo Álvares (Selton Mello) é um talentoso pintor português cujo estilo busca realçar a beleza da realidade. Ele é contratado pelo cartógrafo do rei para ilustrar os mapas que guiariam Pedro Álvares Cabral em suas viagens marítimas.
Entretanto, Diogo envolve-se com Isabelle (Débora Bloch), uma sedutora francesa que frequenta a Corte portuguesa e que rouba o mapa do artista.
Ele, então, é deportado para o Brasil, onde conhece as irmãs índias Paraguaçu (Camila Pitanga) e Moema (Deborah Secco). É o início do primeiro triângulo amoroso da história do país.
9. Poeta de Sete Faces (2002)
O documentário conta a história de Carlos Drummond de Andrade desde os primeiros anos de vida, a mudança para o Rio de Janeiro até o ápice da carreira, ou seja, é imperdível!
Além de apresentar a trajetória de vida do poeta mineiro, o diretor Paulo Thiago disseca as diversas fases de toda a produção literária de um dos maiores gênios do nosso país. Para tanto, o filme é dividido em três partes, acompanhando cada momento de sua vida e carreira.
Assim, o Poeta de Sete Faces registra desde o nascimento de Drummond, na pequena Itabira, em Minas Gerais, até a sua mudança para o Rio de Janeiro, a publicação de seus primeiros livros, sua relação com o modernismo brasileiro de 1922 e o surgimento de seus versos metafóricos e irônicos.
Além disso, é claro, a atuação de Andrade na política e seu uso da literatura como ferramenta de crítica social não ficam de fora.
Para encerrar, o cineasta também explora os prêmios recebidos e a glória alcançada por Drummond, assim como o legado deixado por sua obra na forma de adaptações, memórias e estudos.
10. Dom (2003)
Em Dom, o diretor e roteirista Moacyr Góes presenteia o espectador com uma forma totalmente nova de se relacionar com outra obra-prima da nossa literatura, também de autoria de Machado de Assis.
No filme acompanhamos Bento (Marcos Palmeira), filho de um casal apreciador de Machado e que decide dar ao filho o nome do protagonista de Dom Casmurro. Isso faz com que o garoto cresça sob a sombra do autor carioca, levando-o a tentar incorporar características da personalidade e elementos da vida do personagem em sua própria existência.
A essência do filme encontra-se no romance nascido do reencontro de Bento com sua melhor amiga de infância, Ana Clara — que ele insistia em chamar de Capitu.
11. Língua — Vidas em Português (2004)
Co-produção entre Brasil e Portugal, o documentário Língua — Vidas em Português conta a história desse idioma que embala as vidas de mais de duzentas milhões de pessoas ao redor do mundo.
Poemas escritos, paixões declaradas, desavenças reveladas, segredos descobertos, músicas compostas, piadas declamadas… A Língua Portuguesa acompanha o cotidiano de pessoas no Brasil, em Portugal, em Cabo Verde, no Japão, na França, na Índia, nos Estados Unidos, Moçambique, Angola, entre tantos outros lugares.
Não somente como língua oficial, o Português foi uma língua amplamente difundida pelo mundo durante as Grandes Navegações.
Como resultado, muitos falantes nativos do português fizeram de outros países o seu novo lar.
Para retratar tudo isso, além de personagens anônimos, o documentário também conta com a participação especial de José Saramago, João Ubaldo, Martinho da Vila, Mia Couto e Teresa Salgueiro para trazer um embasamento mais aprofundado compartilhado por pessoas que fizeram da convivência com a Língua Portuguesa o seu modo de viver.
Língua — Vidas em Português mostra nosso idioma falado em vários cantos do mundo, permitindo que conheçamos as peculiaridades de cada grupo de falantes e as formas com que o idioma se adapta e evolui.
12. Narradores de Javé (2004)
O filme foi rodado no interior da Bahia, na cidade de Gameleiro da Lapa. Conta a história de uma localidade chamada Javé. Tudo está prestes a ser totalmente destruído por conta de uma autorização para a construção de uma usina hidrelétrica.
Os habitantes procuram uma solução para o problema e decidem se unir para escrever a história do vilarejo, já que não havia nenhum registro que comprovasse a existência daquele lugar.
Acontece que a maioria dos habitantes é analfabeta. O personagem de Antônio Biá, vivido por José Dumont, recebe a importante missão de colocar o plano em prática. Afinal, é o único que sabe ler.
Então, ele bate na porta de cada morador para coletar as informações necessárias. Durante as entrevistas, é possível perceber as características daquela comunidade, cultura, costumes e a identidade marcante de um grupo social. Uma boa dica para quem deseja se aprofundar na construção da língua.
13. Dentro da casa (2013)
Germain (Fabrice Luchini) é um professor de literatura que sente uma enorme frustração pela mediocridade dos alunos. Ele se surpreende com a redação de Claude (Ernest Umhauer), texto que relata os problemas pessoais de um colega de sala.
Ao mesmo tempo em que aprende literatura, o aluno escreve a sequência de uma verdadeira obra que ganha descrições poéticas sob o seu olhar. O grande dilema do filme é essa reflexão sobre o certo e o errado: o professor deve incentivar a liberdade criativa do garoto ou censurá-lo?
A história preza muito mais pelas palavras que pelas formas. O comportamento do professor mostra o tamanho da influência da ficção também na visão de espectador. Acontece que consequências reais são ignoradas em nome de uma boa história. Qual o limite da escrita? Ela deveria ter um? Muitas perguntas pairam no ar.